Pode ser uma coisa ou outra. Mas tudo indica, pelos fatos amplamente divulgados, que está mais para laranjal do que para laranjas. A extensão do laranjal é infinita. Com o envolvimento de personagens que integram a alta cúpula do novíssimo governo, que, segundo dizem, veio, guindado por cinquenta e oito milhões de votos, para fazer as transformações éticas na pátria amada, embora eu, particularmente, não tenha conseguido ouvir qualquer discurso a respeito desse tema, tão decantado pelos aficionados pelo capitão-presidente. Assim, num primeiro momento, e ainda estamos em fevereiro, nas proximidades do carnaval, apareceu Fabrício Queiroz, um especialista em grandes negócios, tanto para enriquecer a si mesmo como para, de forma mágica e inexplicável, contribuir para o aumento do patrimônio a quem serve, especificamente do rebento Flávio Bolsonaro. E olha que o Sr. Queiroz (reverenciemos esse Midas!), dotado de uma habilidade impressionante para criar e multiplicar fortunas, era motorista e segurança do senador do PSL, que tem no currículo o título nada desprezível de filho do capitão-presidente. Nessa condição, fez uma movimentação financeira atípica, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, de cerca de um milhão e duzentos mil reais, com depósitos recebidos e saques realizados. Convocado pelo Ministério Público do Rio, por duas vezes, para depor, não deu a mínima pelota para a intimação. Até agora ficou o dito pelo não dito. Talvez, quem sabe, tenha faltado um tríplex ou um sítio.
Há – afirmam os defensores do Sr. Queiroz – dúvida razoável se ele é laranja ou não. Que dúvida, hem?! Mas, pelo que se deduz, em razão do grau de amizade com a família real e da quantidade de dinheiro movimentada por um motorista e segurança do senador do PSL, Fabrício Queiroz se assemelha mais a um laranjal. Não se sabe de quem, embora paradoxalmente se saiba. Tanto que os jornais informam que o então deputado estadual e agora senador, no curtíssimo período de 2014 a 2017, adquiriu dois apartamentos em bairros nobres do Rio de Janeiro pela módica quantia de quatro milhões e duzentos mil reais. Nesse mesmo período, o Sr. Queiroz, motorista e segurança do senador, fizera uma movimentação na sua conta de sete milhões de reais.
Mas, insistem, o problema do Brasil, a nossa pátria amada, é a Previdência Social. É o que afirmam os entendidos. Sobretudo aqueles que são ligados aos poderosos grupos econômicos, que estão malucos para ganhar muita grana no mercado da previdência privada. O outro Sr., o poderoso Sr. Guedes, já disse, com absoluta convicção, que, ocorrendo a reforma, ou a extinção da previdência, passaremos a ter um crescimento avassalador. Na pior das hipóteses, o pobre ficará mais pobre, ou, se escapar desse destino, passará à condição ou de mendigo ou de falecido. E nessa condição, sem direito a vaga em cemitério, já que a privatização não deixará pedra sobre pedra, muito menos cova de graça para quem não tem dinheiro nem pra morrer. Prognóstico mórbido?,é verdade, embora possível de viver-se esse pesadelo, como ocorreu no México e no Chile.
Outra verdade: em que pesem os laranjas ou os laranjais, é certo que rico não precisa de previdência. Pelo contrário, tem horror a ela. Basta perguntar ao Sr. Guedes, e a sua resposta honesta, com certeza, é de que está prestando um relevante serviço para a pátria amada e que os seus milhões (de dólares) estão bem aplicadinhos (quiçá no exterior). O que querem os ricos? Ora, providência, em vez de previdência. E a mais acertada providência é fazer com que o mercado de previdência privada tenha efetivo crescimento. Quem puder – e há quem possa – faz a sua previdência privada. Quem, por qualquer motivo social ou econômico, não puder, recorra à providência divina. Deus, o Pai misericordioso, estará de braços abertos para receber os menos afortunados.
Com ou sem previdência, o Ministro do Turismo, conhecido pelo nome de batismo de Marcelo Álvaro Antônio, tomou a providência de ir ao Supremo Tribunal Federal para pedir que seja determinada a suspensão da apuração de laranjas em Minas Gerais, estado onde se elegeu deputado, e, segundo a investigação do Ministério Público, patrocinou o ministro-deputado candidatas-laranjas com dinheiro público do PSL, partido político consagrado na última eleição, elegendo uma cambada de deputados e senadores. O certo é que o laranjal de Minas, providenciado pelo Sr. Álvaro, sem a devida previdência, é tão grande que causou inveja à turma do tutu à mineira, comida tradicional dos mineiros, que, desde o intocável Aécio, passaram a preferir laranja.
Mas não só Minas. São Paulo do PSDB vive esse drama de produção de laranjas. E muitos laranjais. Paulo Preto, famoso laranja, é igual ao Sr. Queiroz: como mágico da economia, tudo que lhe cai às mãos se transforma em muito dinheiro, movimentado em paraísos fiscais e em terras brasileiras. O cultivo do laranjal não precisa de sítio. Nem tríplex. É suficiente uma parede falsa de um apartamento para guardar, bem guardadinho, toda a grana. E só.
* Membro da AML e AIL.
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