O golpe de 64 era para ser dado em 1961, quando Jânio Quadros, em 25 de agosto, renunciou, e João Goulart, vice-presidente, se encontrava na China, representando o nosso país na busca de novos mercados, já que o Brasil, além de explorado, era dependente economicamente dos Estados Unidos. Jânio, referindo-se às forças ocultas, após ter participado da solenidade do dia do soldado, renunciou ao mandato de presidente da República, provocando uma gravíssima crise político-institucional, uma vez que Goulart, que assumiria o governo, tinha o repúdio das elites econômicas e civis pró-americanas, bem como de setores conservadores das forças armadas. Era considerado esquerdista, além de ter, como ministro do trabalho de Getúlio Vargas, agraciado os trabalhadores com o aumento do salário mínimo de 100%. Houve resistência golpista para que assumisse. Leonel Brizola, seu cunhado e governador do Rio Grande do Sul, entrincheira-se no Palácio do Piratini, em Porto Alegre, e lidera a luta pela legalidade. Em 30 de agosto de 1961, faz contundente discurso na rádio Guaíba, conclamando o povo a resistir ao rompimento da Constituição. Da renúncia até a assunção de Goulart à presidência, foram 14 dias de crise, só vindo a cessar com a sua posse em 07 de setembro de 1961, com a mudança golpista do sistema de governo de presidencialismo para parlamentarismo. O golpe foi adiado para março de1964.

Dado o golpe, que levou o Brasil à escuridão da ditadura militar, com apoio expresso da classe civil e política, da mídia e dos Estados Unidos da América do Norte, o general Castello Branco foi escolhido, após o senador Auro de Moura Andrade ter decretado vaga a presidência da República, mesmo com João Goulart ainda em território nacional, para completar o mandato que fora de Jânio, que renunciou, e de Jango, que o sucedeu. O jurista (sempre tem um jurista de plantão) Francisco Campos, já corroído pelo tempo, mas tendo sido o autor da Constituição fascista de 1937, preparou a justificativa do golpe, que tanto mal fez ao Brasil.
Com o golpe de 1964, o regime militar congelou o salário-família e extinguiu a regra da estabilidade e garantia do emprego, assegurada ao empregado depois que completasse dez anos de serviço numa mesma empresa, assim não podendo ser demitido a não ser por justa causa, com a instauração do inquérito. Em seguida, veio a lei do FGTS, possibilitando a demissão do trabalhador, que não optava pelo Fundo, mas, num contrassenso, era "obrigado" a optar. Ainda: os salários foram congelados e proibiu-se o direito de greve. Atendeu-se, pela obviedade dessas medidas, aos interesses da classe dominante, e as reformas de base de Jango foram para o brejo.
O Brasil é um país dos golpes. Apenas o de 64 foi o mais amplo, com graves consequências para os brasileiros, sobretudo com o cerceamento das liberdades, a oficialização da tortura e a morte e o desaparecimento de presos políticos.
Mas não é desses golpes que quero me referir. Falarei de outro tipo. Menos sofisticado, porém, do mesmo modo, muito doloroso. Circulando pela praça, pra não dizer mercado (palavra em voga no nosso momento histórico), há golpistas de todas as qualidades. Como os jornais e tevês gostam de falar em crise, há o golpe da crise, para justificar os golpes. Os espertalhões - e não são só os de Brasília e adjacências - estão de plantão, aproveitando qualquer vacilo. Uma receita, criada pela precaução popular, para defender-se e não cair na armadilha, recomenda: a esmola, quando é demais, o cego desconfie.
O que acontece? Diz a notícia lida em um dos nossos jornais que, com o aumento da inadimplência, os balcões de cadastro de negativados viraram um território para golpistas, que de olho em mais de 60 milhões de brasileiros sujos na praça, os espertalhões, fantasiados de empresas, prometem limpar o nome do devedor com restrição cadastral e cobram uma "taxinha" de valor expressivo e logo desaparecem com o dinheiro. E o devedor, acreditando no milagre - e há muitos milagreiros por aí -, quando vem perceber o malogro, é tarde demais. Uma economista, preocupada com os casos que se têm multiplicado, avisa: - Não existe milagre. Não dá para limpar o nome sem pagar a dívida. E uma vítima confessa como foi ludibriada: - Tinha uma dívida de R$ 1.000,00. Uma empresa entrou em contato e disse que, se eu pagasse a primeira de duas parcelas de R$ 400,00, liberava meu nome em 72 horas. Pedi para uma prima fazer o depósito. Desde então eles não atendem às minhas ligações. O golpe se consolidou. Só resta buscar o auxílio da policia, que terá imensas dificuldades de encontrar o estelionatário. Melhor solução: a dívida deve ser paga, ou negociado diretamente com o credor. De outro modo, só resta lamentar. De golpes a nossa história pátria está cheia. Não se deixe enganar. Todo cuidado é pouco.