A revista semanal registrou, numa página apropriada para esse tipo de assunto, caracterizado por gafe, que alguém, preocupado com o momento econômico, fez essa hilariante afirmação: “Com essa crise financeira, os preços estão gastronômicos.” Pensei, logo ao ler essa rotunda contradição: de fato, não apenas os preços estão gastronômicos, como as pessoas estão gastronômicas. Estou, por esses dias, em São Paulo, a capital dos “coxinhas”, ou melhor falando, dessa turma do faz-de-conta, com muito tempo para o lazer e muito dinheiro para continuar no ócio destrutivo e, indo, por necessidade, aos shoppings, percebo, a olhos vistos, que vivemos uma crucial crise gastronômica. Simples constatação: as áreas de alimentação estão permanentemente lotadas, com as mesas cheias de comensais e os pratos, do mesmo modo, motivo por que não sei se a crise é de preços astronômicos, ou se é apenas gastronômica, como disse o frasista descuidado. Talvez, quem sabe, tenha se inspirado, ao trocar alhos por bugalhos, no momento em que entornava, goela a baixo, uma garfada de uma de nossas apetitosas iguarias, nem sempre vendidas a preço de banana, como costumam afirmar aqueles que preferem, ao invés de ridicularizar a inflação, esculhambar os nossos benditos e nem sempre sacrossantos preços, agora mais contidos, segundo a FGV, na apuração da alta do mês de março findo. Mas deixemos preços gastronômicos ou astronômicos pra lá. São coisas para economista, ou pra dona de casa. Eu, confesso, não sou nem uma coisa nem outra. Nas duas situações, sou apenas curioso e provedor.

Não sou Nelson Rodrigues, nosso anjo pornográfico, que fez tanto sucesso no teatro e na crônica, porém vivo em estado de obsessão. E, por isso mesmo, ando tão obcecado por “golpe”, que, lendo a chamada de um título de uma reportagem da mesma revista semanal, acima referida e não identificada, como o descuidado frasista de cima, troquei as palavras do título, de tal modo que lá estava escrito que “apaixonados por golfe”, os Orleans e Bragança etc. etc. etc., li, sem pestanejar, “apaixonados por golpe”. Depois, ainda bem, percebi o grave erro, retornei à leitura e mentalmente fiz a correção. Felizmente, pra mim, era golfe e não golpe, porquanto estava a incluir na biografia histórica dos Orleans e Bragança um estigma, que, nos dias atuais, não é tanto assim tão desonroso, uma vez que há aqueles (e são muitos) que estão fazendo pacto com o diabo (Cunha, Romero Jucá, Paulinho da Força etc. etc. etc.) para alcançar os seus fins nada éticos. Fato esse que fez com que o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, fizesse essa contundente manifestação de desesperança: “Quando o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei e: Meu Deus do céu, essa é a nossa alternativa de poder! Não vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando.”
Mas esses fatos são de pouca ou nenhuma relevância, dirão aqueles muitos de cima. Golfe, e não golpe, é um esporte de ricos. Na minha rua, palco de muitos lazeres lúdicos, nunca vi ninguém jogar golfe. Pelada, sim. Com bola de pano, de seringa, de borracha e, para os abastados, à época, bola de couro. Tanto é de ricos, com alguns intrometidos pobres, que os atletas mais bem pagos do mundo são golfistas. No ano de 2015, chegaram a embolsar 50 milhões de dólares. Neymar, que teve que correr o campo inteiro, sem carrinho, ganhou 31 milhões. Não deixa de ser uma boa grana. Todavia, é bom se diga que os golpistas têm tido um bom faturamento. Talvez não cheguem a tanto. Porém dá para sobreviver muito bem com alguns milhões em bancos da Suíça. O notoríssimo Cunha que o diga.
Não sei se os golpistas podem ser elencados no rol dos trabalhadores. Isso, caso seja o contrário, não os desqualifica. Sabem, como ninguém, amealhar riquezas. Já os golfistas, convenhamos, dão um duro dos diabos. Para ganhar o que ganham, têm de percorrer 18 buracos, embora ajudados por um sujeito, bem vestido, que vai guiando um carrinho, e assume a dupla função de carregador de tacos. O golfista limita-se a dar as tacadas. Quanto mais buraco acerta, melhor para a sua conta bancária. No Brasil, dizem que golfe, e não golpe, é um esporte da elite. Na minha adolescência, embora não tivesse conhecido golfistas, conheci muitos golpistas. Era a turma do devo e não pago, e só pago sabe Deus quando puder. Atualmente, na pós-modernidade, o golpe passou a ser um esporte da elite. Muitos estão na cadeia, e outros tantos estão aguardando o momento para ocupar os seus lugares. Bem. As olimpíadas estão chegando. O golfe será um dos esportes dessa acirrada competição. Pode-se concluir que, se houver ou não golpe, com certeza haverá golfe, o que já é um grande avanço senão institucional ao menos nacional, com a patota do golfe ou do golpe dando tacadas de todo jeito ou maneira, elitizando uma prática que era de uma classe menos abonada. Enfim, são os novos tempos.