Fazia-se política com extrema tenacidade na região tocantina. Especialmente em Imperatriz. Cheguei a esta cidade no dia 5 de fevereiro de 1975. Onde, como os versos do poeta José Chagas, me fiz e me refiz. Vim de uma estada no Rio de Janeiro. Lá, na hoje não tão Cidade Maravilhosa, como o fora na poética de seus cantores, aprendi e desaprendi muita coisa. Em Imperatriz, vivi e convivi com um universo sonhado de muitos sonhos. Falei várias línguas e fantasiei-me de Hércules para arrostar alguns desafios. Uns que não exigiam força, mas apenas não ter medo do enfrentamento. Fui professor das duas universidades que se implantaram na região: a estadual e a federal. Sobrevivi da advocacia, caindo na máxima gonçalvina de que a vida é luta renhida e viver é lutar. Deu certo. Não há que reclamar. Presidi, por duas vezes, a subseção da OAB. Foram momentos de grandes embates, para que se tivesse um Judiciário com o mínimo de estrutura para atender ao jurisdicionado. Toda essa luta, como diz Cazuza, fez parte do nosso show. Não houve desânimo. Imperatriz é hoje uma Comarca tão importante como é a da capital. Muitos companheiros enfrentaram as intempéries. Deram a cara a tapas. Mas não sucumbiram. Resistir é sempre preciso, sem necessidade de render-se à bajulação. Apenas combate-se o bom combate. Lembro-me de alguns bons companheiros advogados (pior: devem faltar alguns): Edivaldo Amorim, meu velho amigo da Casa do Estudante Universitário, do Rio, meu primeiro anfitrião, ao lado da hoje advogada Helena Amorim, Agostinho Noleto, o decano dos advogados e amigo de todas as horas, Clemente Viégas, da Alínea, José Clébis, Hibernom, Valdeci, inexplicavelmente assassinado com todos os requintes de crueldade, Oscar Gudin, que nos deixou imensa saudade na sua partida, Geraldo Mariano e Osvaldo Alencar, dois grandes heróis que tiveram a coragem de exercer os comandos iniciais da OAB, Cândida, João Santana, atualmente vestindo a toga de desembargador, Valdemar, de Porto Franco, Ausônio, de Carolina, Vicente Costa, um bravo lutador, Coqueiro, Manoel Vieira, Jonas, Odon, e muitos outros que participaram ativamente da construção de uma forte comunidade jurídica, que se espraiou por toda esta região.
Foi assim... Imperatriz sempre foi um caldeirão efervescente do fazer político. Quando cheguei, Bayma Jr. era o interventor; em seguida, Barateiro e Elberth Leitão. Depois, acabou a farra de interventores. Em 1976, elegeu-se prefeito Carlos Amorim, historicamente um grande administrador municipal, cuja gestão foi marcada por algumas importantes obras, como o calçadão da Presidente Vargas, e pela imaculada honestidade no trata com a coisa pública. Não se deixou embevecer pelo cargo. Continuou humilde e morreu humilde. Um grande homem, como médico dedicado e caridoso, e gestor da respublica.
Vieram as eleições de 1982, caracterizadas pelo combate sem trégua ao regime civil-militar, ainda sustentado pelas oligarquias. O mesmo que ocorre com o golpe do impeachment, sem militar. Tentávamos, a partir de Imperatriz, revolucionar o Maranhão. Objetivo: tirá-lo da modorra em que se encontrava desde o golpe de 1964, com uma sucessão de governadores de plantão. Renato Archer e Cid optaram por investir nesta região, donde despontavam algumas fortes lideranças políticas, tomando como exemplo Londrina, PR, que elegera para o governo do Estado José Richa. Ganhamos em Imperatriz. Perdemos pra sublegenda. Dr. Mota, candidato a senador, superou Castelo, que saía do governo e havia investido aos montes na região. A consciência política de Imperatriz sempre repudiou posições reacionárias. Plantou-se nestas terras o berço insidioso não só do desenvolvimento econômico, mas político. Em 1982, perdemos e ganhamos. Faz parte do jogo. Veio 1986.
Foi assim... Castelo, fortíssimo candidato a governador. O grupo do então presidente José Sarney tinha candidato: o filho Zequinha, atual ministro de Temer. Não fazia sequer sombra para Castelo. Em resumo: não era páreo. Epitácio Cafeteira, ou apenas Cafeteira, tinha consciência do seu potencial eleitoral. Lançou-se candidato ao governo. Mas havia resistência dentro do próprio PMDB. Lembro, e lembro muito, que Cafeteira, de passagem pelo aeroporto de Imperatriz, deu uma rápida parada, mas antes telefonou para Agostinho Noleto para que fôssemos recebê-lo. Era apenas o início de tudo. As lideranças políticas estavam arredias. Fomos: Agostinho, Fiim, Conceição Formiga e este escriba, além de alguns amigos. Tiramos fotos para dar divulgação. Conversamos. Cafeteira usou uma parábola e nos disse, com aquele seu jeito e timbre de voz ímpares: - Sou um Boeing, que precisa de tripulação, e essa tripulação para que voe são apenas cinco pessoas: o presidente Sarney, D. Marly e os filhos. E nominou cada um deles. Bem. Ouvimos. Ficamos calados.
Convenção do PMDB para escolha do candidato a governador. No Sítio Leal, Cafeteira chama a mim e Wagner Lago. Estabelece a estratégia a ser adotada. Wagner discursaria abrindo a convenção. Eu ficaria encarregado de fazer o discurso pregando a aliança democrática, com Cafeteira na cabeça da chapa e o vice a ser escolhido pelo PFL, para reproduzir no Estado o que ocorrera nacionalmente. Dito e feito. Mas perdemos a convenção. Não conseguimos o percentual para compor a executiva. Tentamos um acordo. Meu bom amigo Haroldo Saboia, Mauro Bezerra e outros, com justa razão, responderam: - Nós ganhamos, por que vamos fazer acordo? Ficou o dito pelo não dito. Mas Luís Pedro, quando discursava, levantou uma nulidade que fez constar em ata. Consultou-me, até. E esse foi pretexto para anular a convenção. A história da eleição de Cafeteira todo mundo sabe. Esmagou Castelo com mais de um milhão de votos. Mas exilou os seus amigos de primeira hora.
Membro da AML e AIL.
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