É o título de uma música de João Batista do Vale, o nosso querido maranhense de Pedreiras, João do Vale, que, como poeta do povo, profetiza: ninguém nesta vida vence sem lutar. E ele diz tudo isso em Minha História, onde se encontra a síntese de sua luta, de nordestino que soube fazer dos versos o seu passaporte para eternizar-se na arte de cantar a sua poesia. Aí ele poetiza cantando: Eu vendia pirulito, arroz doce, mungunzá / Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar / A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar / A minha mãe, não podia me educar. / E quando era de noitinha, / a meninada ia brincar / Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar: / - O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar / - O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar / Hoje todo são “dotô”, eu continuo joão ninguém (...) / Mas todos eles quando ouvem, um baiãozinho que eu fiz, / Ficam tudo satisfeito, batem palmas e pedem bis / E dizem: - João foi meu colega, como eu me sinto feliz. E conclui esse sertanejo, com a forte denúncia do destino dos seus colegas, que representam a gente de nosso nordeste: Mas o negócio não é bem eu, é Mané, Pedro e Romão, / Que também foram meus colegas, e continuam no sertão / Não puderam estudar, e nem sabem fazer baião.
Por que João do Vale? Por que Eu Chego Lá? Por que Minha História?
O jornal da AMB Informa, edição de maio a junho deste ano (2015), traz a entrevista da Ministra do Tribunal Superior do Trabalho, Delaídes Alves Miranda Arantes. Se tivéssemos que recorrer ao uso do lugar-comum, diríamos: um exemplo edificante de vida e de luta, vencendo todas as intempéries de família grande e humilde, sendo primogênita de nove irmãos, de uma pequena cidade da zona rural goiana, Pontalina. Daí para o Brasil, e hoje exercendo o cargo de ministra do Tribunal Superior Trabalho, depois de ter sido empregada doméstica. Delaídes Alves, como muitos brasileiros, é exemplo de que o Brasil pode dar certo, independentemente de governo ou políticos. É verdade que as políticas públicas são necessárias. Mas também é verdade que as oportunidades são postas para todos. Basta que cada um assuma a sua responsabilidade de vencer os brutais obstáculos que são colocados no caminho dos menos aquinhoados. Como diz João do Vale, ninguém nesta vida vence sem lutar. O caminho é árduo, as dificuldades são imensas. Delaídes Alves é apenas um dos brasileiros, entre muitos, que teve que lavar pratos, varrer casa, passar roupa, lavar o chão, arar a terra, fazer mandados, cumprir ordens, enfim trabalhar humildemente, para, vencendo, chegar a um ponto de culminância de uma vida profissional mais digna, não se querendo afirmar que ser empregada doméstica é exercer uma atividade laboral indigna. Mas o sonho de todos nós é bem outro. E basta transformar a vida numa luta para realizar esses sonhos, que não se confundem em ser traficante, usuário de drogas, corrupto ou corruptor, estelionatário, mentiroso, desonesto. Não. A vida aponta outros caminhos. Muitos caminhos. Todos com obstáculos a serem vencidos, exigindo de cada um de nós, como exigiu da Ministra Delaides Alves Miranda Arantes, imensos sacrifícios, com renúncias, porém com conquistas. A opção, para escolha do caminho a ser seguido, é sempre nossa. Deus nos dá os talentos. Devemos saber descobrir esses talentos e usá-los. Para o bem. Não apenas o nosso bem. Mas o bem do outro.
A Ministra Delaídes Alves, antes de chegar ao status de integrante do TST, a mais alta Corte de Justiça do Trabalho do Brasil, para poder estudar, trabalhou numa casa de família em Goiânia. Foi em frente. Formou-se em Direito. Foi advogada trabalhista durante 30 anos. Concorreu pelo quinto constitucional para o Tribunal Superior do Trabalho. Foi indicada pelo presidente Lula, trabalhador como ela, e nomeada pela presidenta Dilma. É contra a terceirização do trabalho, que considera um grande retrocesso, por reduzir o trabalhador a uma subcategoria, como foram os domésticos. E afirma, com base em pesquisas: “Eu tenho acompanhado estudos de pesquisadores que se debruçam sobre esse tema e a previsão é de que a aprovação da terceirização na atividade-fim seja o maior golpe nos direitos dos trabalhadores depois do Golpe de 64.” Ainda, denuncia: “Se aprovada a terceirização na atividade-fim, passarão a existir diversas empresas sem empregados. Esta é uma situação que não passa pelo crivo da constitucionalidade. É uma ofensiva do mercado, que tem exigências de fomento de lucro, alta produtividade com custo menor.” Por último, a ministra fala sobre a sua preocupação: “Eu tenho uma preocupação grande de fazer justiça e sempre procuro saber as consequências sociais e econômicas da minha decisão.” Essa é, pois, uma brasileira que não nasceu em berço de ouro, nem de prata, mas venceu todas as lutas e continua lutando, preocupada com o Mané, com o Pedro e o Romão, colegas de João, o nosso poeta de Pedreiras, que continuam no sertão e, o pior, nem sabem fazer baião. Aí me vem um verso de Paulinho da Viola, em Dança da Solidão: “Meu filho tome cuidado, / Quando eu penso no futuro, / Não esqueço o meu passado.” A Ministra Delaídes Alves lutou pelo futuro, mas não esqueceu o passado. É uma mistura, mas de um sabor social muito agradável.
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