Não é futurismo. Nem sonho, nem pesadelo. É a realidade. E, nós humanos, ou melhor, ainda humanos, devemos tomar os devidos cuidados. Os robôs estão chegando com muita "vontade" de assumir o comando de nossas vidas. O noticiário nos informa que a Arábia Saudita já se encontra bem à frente no processo de robotização, sendo a primeira nação do mundo a conceder cidadania a um robô. O seu nome é Sophia, até porque se veste com roupas femininas e dizem que se parece com a grande atriz Audrey Hepburn. Mas há outros que contradizem essa afirmação hollywoodiana, porém não negam que Sophia parece mulher. Ainda bem que tem um sexo definido, porque na Alemanha foi aprovada uma lei, no mês de agosto deste ano, que possibilita ser incluído no registro de nascimento um terceiro gênero, além do masculino e feminino, que pode ser "outro" ou "diverso". Isso quer dizer: nem uma coisa nem outra. O interessado ou a interessada optam por não aderir a qualquer dos sexos. Segue a lição de Simone de Beauvoir, que, em O segundo sexo, já proclamava essa perspectiva de que não se nasce mulher, torna-se mulher. Creio que, com as devidas mudanças valorativas, deve também ser dito em relação ao homem: não se nasce homem, torna-se homem. E os alemães, como sempre na dianteira, aderiram ao terceiro gênero. Em dúvida, preferiram ficar na mesma a não arriscar.  Já foram derrotados em duas guerras de verdade, então optaram pelo terceiro gênero.

Deixemos os alemães pra lá. Vamos ao que interessa.
Os robôs, se não abrirmos os olhos, e, diga-se, bem abertos, estão aos poucos e aos muitos, chegando com a claríssima intenção de tomar os nossos lugares. Tenho alertado alguns amigos sobre mudança escatológica. E não sem razão. Vejam só o que li num texto da Ilustríssima, de autoria de Paulo Feldmann: "Em breve um robô vai lhe entregar a pizza de domingo. Talvez seu condomínio não exija que você desça até a portaria para apanhá-la, pois não vão suspeitar que possa ser um assalto. Na Alemanha (e lá vem a Alemanha, outra vez), esse serviço já está funcionando - e a pizzaria é uma rede que atua no Brasil." Após a leitura, saí do mundo da ficção. A curiosidade me provocou a continuar para ver aonde iria a ousadia tecnológica. E constatei que vai bem mais adiante. Continua Feldmann: "Mas isso é pouco: logo essa pizza será resultado de um processo totalmente automatizado. Se você acha que esse cenário pertence à ficção, ou que vai demorar muitos anos até ele se tornar realidade, pesquise sobre a americana Zume Pizza. Situada no Vale do Silício, a casa entrega comida feita por robôs. E o pior é que os consumidores da Califórnia tem adorado a novidade."
Alguém me alertará: nada de novo no front. Nosso destino é esse mesmo. Parece que sim. Mas a dúvida me assalta. Sei que já existem hospitais em países europeus, como a França, que utilizam robôs para atender pacientes, em substituição a enfermeiras ou enfermeiros. Como também há robôs que, tecnicamente, participam de cirurgias sob - ainda!? - o comando do médico cirurgião. Em alguns países asiáticos, há veículos robotizados que não mais necessitam de motorista. Na Califórnia, da pizza robotizada, se alguém se envolver em problemas com o trânsito, não dependerá mais de advogado para apresentar o recurso. Há um robô, com inteligência artificial, que tem a capacidade "mental" de elaborar petições para recorrer da multa aplicada ao infrator. E o interessado em se livrar da multa não precisa nem sequer telefonar para o despachante e muito menos para o advogado. O robô está à disposição em pronto atendimento.
Em vista de tudo isso, o debate no mundo tem sido acirrado. Algumas questões emergem. Por exemplo, os robôs têm inteligência? Têm consciência? Têm autoconsciência? Têm, ainda, a capacidade de perceber ou de sentir as coisas? Se afirmativas as respostas, pode-se afirmar que têm personalidade e responsabilidade pelos seus atos. Ou são apenas máquinas, programadas para perceber ou sentir as coisas, sem autoconsciência. São dúvidas. Muitas dúvidas. Mas os robôs avançam nas suas conquistas, ocupando o nosso espaço. Fazem os mais complicados cálculos, participam da construção de grandes edifícios e realizam cirurgias cerebrais. O certo é que se avança nessa radical revolução industrial.
Insisto em dizer aos companheiros de luta do cotidiano não robotizado para que sejamos mais humanos e mais sensíveis. De outro modo, a máquina, cada vez mais humanizada, nos substituirá em produtividade, embora sem sensibilidade. Ela não cansa, é programada por inteligência artificial. E, provocada por um insignificante aperto de botão, acoplado ao seu artefato corporal, dá a resposta adequada para aqueles que querem apenas essa resposta, destituída de qualquer sentido humanístico. Se quisermos manter o espaço, humanizemo-nos, antes que o humanismo robotizado ocupe produtivamente o nosso lugar.

* Membro da AML e AIL.