Expressão cunhada por Lima Barreto e muita citada pelos estudiosos de sua vasta e rica obra, que reúne romance, contos e crônicas. O sentido semântico de "encruzilhada de talvezes" não ficou bem definido, como ocorre quando as palavras e expressões estão dicionarizadas. Mas deduz-se que tem muito a ver com as dúvidas e reações daqueles que, outorgando-se o direito de representar o pensamento nacional, como se único fosse, sobretudo nos meios de comunicação de massa, enfrentam os fatos, dando interpretação diversa, duvidosa, em mistificação da realidade. Isso quer significar que os fatos, embora se apresentem lúcidos, evidentes, induvidosos, são quase sempre objeto de um "mas" de conteúdo deturpativo, com a finalidade de reduzir a sua relevância e acomodar-se a outros interesses incompatíveis com a realidade que denotam factualmente.
Tenho refletido sobre a "encruzilhada dos talvezes", desde quando com ela me deparei numa das leituras que fiz de Lima Barreto. E fiquei pensando na nossa mídia. A grande mídia. Que está envolta nessa encruzilhada. Os grandes jornais do país e parte das revistas semanais sofrem dessa cruel contaminação. Acreditam os ditos formadores de opinião que todos nós somos uns boquirrotos, prontos para acreditar no que dizem, sem maiores reflexões sobre o que dizem. Pois bem. Não bem assim.
As primeiras três páginas dos nossos grandes jornais constituem um rosário doentio de pessimismo. Lendo-as, o Brasil acabou ou está na iminência de acabar. Tudo está errado. Não há um só comentarista político e econômico que não veja ou preveja o fracasso do Brasil, embora o nosso país tenha superado a crise, que se alastrou pela Europa, para alcançar uma posição de destaque no cenário internacional e, ao mesmo tempo, passar a ter peso como um dos principais exportadores de produtos essenciais, denominados em linguagem técnica de commodities. A China é o principal mercado comprador. Antes combatida, hoje, pasmem, sendo modelo de projeto de educação, embora o regime seja comunista e haja uma brutal centralização estatal. Em vista desse êxito, citado, de passagem, porém sem a devida relevância, a entrada de dólares na economia brasileira cresceu, em 2011, em 168%, com substancial aumento de nossas divisas. Chegamos à sexta economia do mundo, superando o Reino Unido. Ainda assim, um senador, desses que gostam de brincar com a nossa inteligência, veio à mídia, que prontamente deu destaque, para declarar, com ênfase, que esse crescimento econômico se deu não por conta de políticas do governo, mas pela atuação da classe empresarial. Pois bem. Se o Brasil tivesse decrescido na escala da economia mundial, com certeza o discurso seria outro: culpa exclusiva do governo.
Em recente e brevíssima leitura que fiz de matéria de uma das nossas revistas semanais, consta essa preciosidade de "encruzilhada de talvezes", quando o articulista faz o exame do que pensam os estrangeiros, em percentual favorável ao Brasil, ressalta essa incongruência gongórica: "...mesmo encantado pela nossa simpatia e cordialidade, os estrangeiros não deixam de perceber imensas lacunas da nação - aquelas que fazem a política externa nacional um exemplo de imprevisibilidade, reduzem a produtividade dos trabalhadores, travam o fluxo do progresso e impedem que futuro do Brasil seja claro e luminoso quanto uma praia ensolarada." Essa pérola de bobagem foi retirada, como dito, de matéria de uma das nossas célebres revistas semanais, que se caracterizam por conter excesso de "encruzilhada de talvezes". Faz uma afirmação sobre a nossa simpatia e cordialidade e, em seguida, despeja uma avalancha verborrágica como imensas lacunas como a que fazem a política externa nacional um exemplo de imprevisibilidade. O que essa besteira quer dizer? Não sei e confesso que não estou interessado em saber. Prefiro ficar com a realidade dos fatos. O Brasil, sem qualquer imprevisibilidade,vai muito bem nas suas relações internacionais. Lidera o bloco latino-americano e tem posição de destaque no centro das grandes negociações do mundo. O que é uma prova que não temos apenas simpatia e cordialidade, mas força econômica e política. Somos ouvidos e exercemos uma política ativa, que tem feito o nosso país crescer. O resto são meras "encruzilhadas de talvezes", originárias de uma mídia partidarizada.
Para finalizar, faço referência a notícias em que os grandes jornais dão a informação sobre o crescimento industrial, porém relevam os fatos menos importantes apenas para minorar o êxito da superação da crise que se alastra no mundo inteiro. Esclareço a maldade desinformativa. A notícia é: PRODUÇÃO DE VEÍCULO CRESCE SÓ 0,7% EM 2011. O uso da expressão "só" tem finalidade restritiva. Em seguida, vem a ênfase destruidora, para descaracterizar o crescimento em 2011, ao se afirmar que foi menor "até" do que o ano de 2009. Todavia, o texto, recheado de "encruzilhada de talvezes", teve que sucumbir ante os fatos para dizer que a produção bateu recorde do setor e as vendas do ano cresceram em 3,4%. A outra notícia é mais recente. É sobre o índice da inflação. Havia uma torcida midiática para que superasse 6,5%. Não ultrapassou, alcançando a meta do governo, em que pese toda a crise que atingiu as grandes economias. Mesmo assim, dando-se ênfase ao pessimismo, para descaracterizar o êxito da política econômica, e sem considerar a crise que avassala o mundo, superada pelo Brasil, faz-se referência desinformativa aos índices desde 2004. Para os adeptos das "encruzilhadas dos talvezes", o êxito, embora se apresente como realidade factual, sempre está contaminado pelo fracasso.