Aureliano Neto*
Da trágica despedida de Dino, que não teve tempo de fazer um leve aceno para dizer que já estava indo, lembro-me de Bandeira, o poeta de A Cinza das Horas, não sei se no momento certo, mas mesmo assim repito-o num suspiro de dor, que, lancinante, atravessa todos nós que com ele conviveram: a vida inteira que podia ter sido e que não foi. Deixa-nos ainda bem criança, com apenas 50 anos de idade. Tinha uma grande caminhada pela vida inteira que podia ter si e que não foi. Era o tio Dino daqueles que o amavam. Não carregava na sua alma ressentimentos. Era avesso a essa espécie de pequenez, que faz do ser humano, que a ostenta com o fanatismo dos insensatos, apenas mais um verme insignificante a rastejar pela face da terra. Veio ao mundo para servir. Dedicava-se aos irmãos, aos parentes e aos eleitores como se fosse um pai, sabendo das dificuldades de cada um. Ajudava-os a enfrentá-las. Assim era o tio Dino, o querido irmão Dino, o cunhado Dino, o vereador Dino. Fizemos juntos muitas andanças. Ele dirigindo o veículo - era um exímio motorista -, e eu despreocupado, porque sabia que podia contar com as suas habilidades e a cautela de que chegaríamos ao nosso destino sem arrostar a fatalidade de um acidente. Foi precisamente um acidente fatal que tirou a vida de Dino. Trafegava por uma estrada vicinal, conduzindo uma moto, veículo que não tinha especialidade em dirigir, quando foi colhido de frente por uma camioneta. Saiu tão rápido do nosso convívio, deixando para todos nós a saudade de sua eterna ausência física, porque continuaremos a tê-lo ao nosso lado, na lembrança de toda uma vida que convivemos alegremente juntos. Foram muitos anos, foram muitos dias, foram muitos natais, foram muitos anos novos. Foram tantos e tantos dias. Dino partilhava conosco esses momentos felizes. Vem a lembrança um desses natais, passado em nossa casa em Imperatriz. Ele, ainda muito jovem, de 16 ou 17 anos idade. Ainda nem pensava em ser vereador. Era aprendiz de mecânico na oficina de Joel, em Carolina. Lá estava ele, ao lado de sua amada mãe, D. Joanice, uma das pessoas mais importantes na vida de todos nós que muito a amamos. Que Natal festivo! Dino bem criança ainda. Dei-lhe um relógio de presente. Ele ficou exultante, porque o presente é o símbolo da fraternidade. Cristo, ao nascer, recebeu presentes, como forma de agradecimento ao Verbo que Se fez carne e arma a sua tenda para nos proteger dos males do mundo. E aí me vem com fervor a voz do arcanjo Gabriel: "Alegra-te, cheia de graça!" Dino esteve conosco por toda uma vida alegre, sem tristezas, e partiu tão de repente. A dor da perda é forte, mas temos que ter a fé da alegria na ressurreição.
Pois bem. Estava em casa. Havia chegada das minhas árduas atividades. Cansado, estava por ali, aguardando o momento de o sono me abordar. Jacirema, minha companheira de todos os momentos, participava de uma reunião do condomínio. Eu, graças a Deus, sou preservado por ela dessas necessárias, porém enfadonhas reuniões. O telefone toca. É o meu filho Aureliano, que também é juiz de direito em Pindaré-mirim. Disse-me, de imediato: - Pai, tio Dino foi acidentado. A informação foi de que ele morreu. O impacto da notícia foi forte, brutal. Logo pensei: - Como dá essa notícia para Jacirema, essa devotada irmã que está sempre preocupada com os irmãos, entre eles Dino, que, no último pleito eleitoral, não conseguira reeleger-se vereador. Havia que encontrar uma solução. Poucos minutos depois, subia Jacirema, conversando com um vizinho do mesmo pavimento. Vinha risonha. A conversa que estavam tendo era de algum assunto positivo, que fora tratado na reunião. Abri a porta, e ela entrou, e foi para o quarto. Acompanhei-a. Meu semblante não era nada alentador. Denunciava os transtornos da fatídica notícia. Perguntou-me ela o que estava havendo comigo. Disse-lhe: - Nada. Insistiu, preocupada. Não tive alternativa e informei-lhe que tinha de dar-lhe uma notícia não muito boa: - Dino tinha sofrido um grave acidente. Perguntou-me: - Ele morreu. Não, disse-lhe, não morreu. Mas, acrescentei: - O acidente foi muito grave. E, em pequenas gotas, tomou conhecimento da fatalidade do acidente. Em seguida, as visitas dos amigos e amigas. Todos de um devotamento solidário cristão, que fazem com que as palavras e os afetos tornem a dor menos doída.
O poeta Mario Quintana, ao fazer uma Reflexão para o dia de finados, com profunda sensibilidade, que o consagrou como bardo de ingente lirismo, diz que Morrer, enfim, é realizar o sonho / que todas as crianças têm... / O motivo? Só elas sabem muito bem: / Fugir... fugir de casa! Ao se despedir de nós, que o amávamos tanto, Dino nada mais fez, como afirma Quintana, do que fugir de casa. Foi para outra morada, num plano em que as mágoas não existem, e amor é a fonte da convivência. Está ao lado de sua mãe, D. Joanice, um exemplo vivo de maternidade amorosa e de avó, que fazia da sua casa o aconchego carinhoso para todos nós.
A Câmara de Vereadores de Carolina prestou a Dino uma homenagem ímpar, digna do que ele foi como homem público sério, competente e devotado. Todos os edis estiveram presentes e conduziram o corpo inerte daquele que exerceu por cinco mandatos a função de vereador de Carolina. No último, foi presidente da Câmara Municipal, tendo feito uma administração reformadora, reconstruindo todo o prédio da edilidade carolinense e humanizando a prestação dos serviços ao cidadão daquele município.
Por ter Dino feito do seu mandato um instrumento de realização da cidadania, tributando todo o seu serviço ao povo humilde, justamente aquele que mais tem carência dessa dedicação, as pessoas das regiões mais distantes, chorando o choro da perda de um grande amigo, se fizeram presente até o último momento da despedida. Apenas uma ligeira verdade: quando se perde um conhecido, ainda assim sofremos, quando perdemos um amigo, a dor do desencontro eterno ainda é maior, mas, quando se perde um irmão, vai-se um pedaço da gente, porque sentimos que uma parte essencial de nossa vida também se foi para não mais voltar. A Dino, cunhado, amigo, irmão, marido e pai, fica aqui a dor da saudade.
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