O mundo e o Brasil não estão tão conturbados assim como se pensa ou como dizem. Alguns fatos, embora escondidos nas entrelinhas das páginas de nossas folhas, ainda são divulgados, bastando que se tenha cuidado para ler, dispensando-se a eles a atenção de um arquivista. Soube, por acaso, que seleção brasileira goleou a francesa, pelo elástico (este adjetivo é por minha conta) placar de cinco a dois, conquistando, num domingo desse qualquer, o torneio, que não é a Copa do Mundo, mas o de Toulon, na França. Essa notícia estava escondidinha no pé da página, como se estivesse com vergonha de ali estar. Diz mais a envergonhada notícia que o Brasil conquistou a competição pela oitava vez. Em que pese esse fato importante, o destaque dado foi a morte do ex-zagueiro da seleção brasileira Marinho Chagas, que, infelizmente, já algum tempo, havia morrido para futebol, tendo começado o seu estertor na Copa de 74, conquistada pela Alemanha, país que está aqui no Brasil todo metido a besta, com vontade de levar a taça. Pelo menos, é o que dizem os nossos analistas da imprensa brasileira. 

Também tomei conhecimento, em outra página perdida no meio de nossos jornais, que ativistas (os nossos democratas manifestantes, que batem, quebram e incendeiam) foram, por incrível que isso possa parecer, vaiados. A tal notícia, publicada sem destaque, diz o seguinte: "Com o país em clima de Copa, manifestantes mascarados foram hostilizados por moradores de pelo menos quatro cidades antes e durante o jogo de abertura. Em São Paulo, Rio, Porto Alegre e Brasília protestos violentos foram recebidos com vaias por torcedores e moradores dos locais onde os atos foram realizados." E ressalta, ainda: "Os ativistas também foram hostilizados por comemorar o gol da Croácia contra a seleção brasileira." Pelo andar da carruagem, essas manifestações estão, como costumava dizer o nosso Stanislaw Ponte Preta, mais para urubu do que para colibri. Bom. Mas, convenhamos, é o exercício pleno da democracia. Não viram um grupo de brasileiros torcendo pela Argentina, sob a justificativa de que o Brasil não tem saúde, escola etc. etc. etc. Veio-me de logo uma reflexão e um questionamento. Falta ao nosso país tudo isso. Se é ou não é verdade, não entro nessa discussão. As eleições estão chegando, e é o foro do debate. A minha acaciana conclusão é a seguinte: por que esse pessoal não vai pra Argentina? Se eles estão torcendo pelo país irmão, porque ao nosso falta tudo, lá deve ter o bastante, e a vida por lá deve ser bem melhor do que por aqui. Mas, aviso logo aos apressadinhos: não entro nessa do ame-o ou deixe-o. Cada um sabe onde o sapato aperta, e, assim, sabe qual o caminho a ser tomado.
Outra notícia alvissareira. (Fazia um tempão que não usava essa palavra. Desculpem-me as alvíssaras!) Tudo bem. Essa é recentíssima. Qualquer desavisado já sabia que estava vindo a cavalo. É a chamada notícia óbvia. O nosso ministro Joaquim Barbosa, que alcançou fama como relator do processo denominado de "mensalão", conhecido popularmente por JB, deixou, com todas as pompas midiáticas, nada recomendáveis para um magistrado, a relatoria do processo da AP 470, sob o inaceitável argumento de que os advogados dos condenados passaram a atuar politicamente, pressionando-o através de manifestos e até mesmo partindo para insultos pessoais. Fiquei a matutar aqui da minha província: - Um juiz que deixa de atuar num processo, porque sofre pressão de advogados e recorre a uma solução controvertida. Se a moda pega, o Judiciário brasileiro vai ter sérios problemas, sobretudo em demandas eleitorais. E haja magistrado, por qualquer incidente processual, que é natural em conflitos judiciais, a se afastar dos processos, alegando esse inconsistente argumento. Se há insultos pessoais, ou atuação política do advogado, o juiz, agindo como magistrado, com equilíbrio entre acusação e defesa, tem como agir, sem recorrer à pirotecnia de um injustificável afastamento, como fez o ministro JB. Essa decisão, sim, se reveste de natureza populista, por ser absolutamente destituída de fundamento jurídico.
Para o mal ou para o bem, essas notícias indicam que o mundo e o Brasil estão caminhando para o seu destino. Qual? Não sei. Não sou vidente. Mas, a grande notícia é que Chico Buarque de Holanda fez setenta anos. E outra boa notícia é que Chico não é mais unanimidade nacional. Ainda bem. Ser unânime, em nosso país, é um insulto. O melhor é ser odiado. Na Ilustrada, a Folha (16/6/2014) afirma que o autor de Olé, Olá, Carolina, A Banda, Pedro Pedreiro, Roda Viva, Olhos nos Olhos, Januária, Apesar de Você, Gota d'Água, Quem te Viu, Quem te Vê, Cotidiano, Construção e tantas eternas canções, não é mais unanimidade nacional, sendo odiado por muita gente. Essa feliz constatação decorre "da fartura de comentários negativos que podem ser lidos em sites noticiosos e nas redes sociais". Chico deve estar velho de feliz, já que ser odiado por essa gente é conseguir vencer os limites da burrice e alcançar a imortal consagração de chegar aos setenta com vigor artístico, alicerçado numa obra que não pode estar ao gosto dessa turba ignara, que não lê sequer a nossa festejada literatura de cordel. Ainda assim, sobrevivendo-se a tudo isso, acende-se uma luzinha no fim túnel.