Uma certeza de nossos tempos: não são mais três dias de folia, mas quatro, cinco, seis ou sete dias, quem sabe mais, bem mais, a depender de onde se realiza essa festa alucinante, de costume, trajes e fantasias brasileiros, rotulada simplesmente de carnaval. Não me isolei da folia. Estou aqui em Carolina, bem pertinho de Imperatriz. Abro O Progresso, que me é enviado pela direção desta nossa aguerrida folha, e leio, na edição do dia 6 de março, estampado ufanisticamente na manchete que, durante o carnaval, só ocorreram dois assassinatos e, assim mesmo, fora do "corredor da folia", sendo fatos isolados, pois praticados em bairros periféricos. Confesso: fiquei transbordante de alegria: só dois assassinatos, em quatro dias de folia, e, ainda assim, sem ter relação com a nossa querida festa popular. Não sei se Imperatriz está de parabéns, ou se a abstinência momentânea de tirar a vida do outro decorreu do fato de que o poder público, por problemas "isolados", ficou inerte sem ter participação na nossa popularíssima festa.

Pois bem. Meu carnaval foi o carnaval de leituras. De tudo li alguma coisa. E, desse carnaval de leituras, fui captando algumas informações, comprovando a mim mesmo o quanto estava desatualizado. Vim a saber que, apesar da médica cubana desertora, tão amplamente divulgada, o combatido programa Mais Médicos, até este sacrossanto momento, atendeu 51 milhões de brasileiros, o que, diga-se, é algo inusitado, porque falam o diabo dos médicos cubanos, que estão sendo vítimas de escravização e etc. Aqui, em Carolina, tive oportunidade de conversar com alguns deles (na verdade, médicas), e deduzi - não sei se fui enganado - que estão alegres e satisfeitas. Deixaram transparecer esse estado de espírito e de, como cubanas, estarem orgulhosamente prestando serviços relevantes para o Brasil.
Também tomei conhecimento que o nosso JB, não o uísque, por favor qualquer semelhança é mera coincidência, está na iminência de deixar o Supremo Tribunal Federal. As notícias, a esse respeito, vêm sendo divulgadas com insistência, sem que haja qualquer desmentido. A revista Isto é, de 26-2-2014, se refere ao telefonema dado por JB à presidenta Dilma Rousseff, para dar-lhe ciência que não deixará o STF antes de 30 de abril deste ano, porém, confirma, está de saída. Outra notícia diz que JB está conversando com a direção do Partido Verde para disputar o Senado pelo Rio de Janeiro. Como se vê, a toga não tem mais limites. Tirou definitivamente a máscara e faz política, sem maiores pruridos. Tudo vale a pena, se a alma não é pequena. Fernando Pessoa, como sempre, está certo. Como ninguém pode contrariar o rei, a melhor solução é aguardar os acontecimentos. Eliana Calmon, ex-ministra e Corregedora do CNJ, que atacou o quanto pôde a magistratura brasileira, fez desse cruel discurso sua plataforma política. Aposentada, sem maiores constrangimentos, filiou-se a um partido político e, dizem, à boca pequena, que é candidata. Deve subir nos palanques e chamar todos os juízes de ladrões, ou coisa mais ou menos parecida. É só esperar. Com certeza, terá os votos de muitos incautos que acreditam nessa balela, como até agora acreditaram.
Deixemos de lado esses deuses benditos. Tomei conhecimento que os ricos estão ficando cada vez mais ricos. E pobres estagnaram na pobreza. Esse fenômeno não se restringe ao Brasil, mas aos Estados Unidos da América do Norte. Lá, diz o economista Paul Krugman, a desigualdade tem se acentuado de tal maneira que perde para a Nicarágua, minúsculo país da América Central. A par disso, tem-se o denominado "desemprego tecnológico", que decorre das inovações tecnológicas, com a automatização das profissões. Fator que tem contribuído para incrementar a desigualdade, acumular riquezas em mãos de uns poucos e reduzir o mercado de trabalho. Alguém, do alto de sua insensatez capitalista, disse que a desigualdade faz parte do jogo, como fator de geração do crescimento econômico. Essa brutal desigualdade está definida no fato de que 85 bilionários detêm o mesmo patrimônio de 3,5 bilhões de seres humanos que mourejam nessa nossa bendita terra, que, um dia, há de comê-los, sem indagar se são ricos, pobres ou remediados. 18 trilhões de dólares se encontram em paraísos fiscais. Mas, apesar de todas as críticas pessimistas, o Brasil têm procurado, com relativo êxito, superar a crise que assola o mundo desenvolvido, aplicando políticas compensatórias como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e o PROUNI. O PIB, em 2013, teve um crescimento além do razoável, considerando a situação da economia mundial. O crescimento foi de 2,3%, quando havia uma torcida catastrófica para menos. O tiro saiu pela culatra.
Na revista Sociologia, consta uma substanciosa matéria sobre o programa Bolsa Família. Nela fiquei sabendo que o programa recentemente foi agraciado com o Award for Outstanding Achievement in Social Security, considerado o prêmio Nobel Social, concedido pela Associação Internacional de Seguridade Social, com sede na Suíça, por representar o início da superação da cultura da resignação, na avaliação dos antropólogos. Sobre essa comenda, silêncio comprometedor. Parodiando alguém que disse que a política foi colonizada pelo dinheiro. Direi: a política foi colonizada pelo rancor.