As máscaras são tiradas. O rei estará nu, nesse desfile de vaidades. As caras se desnudam. Caem as máscaras. Os risos se transformam em choro. A alegria de uns poucos se transmudam em escárnio de muitos. A fantasia desaparece do palco da insensatez para dar vez à cruel realidade. Até quando? Talvez nem se tenha o quando. Mas apenas a perspectiva sombria de que o quando pode vir. Ninguém o augura. Ninguém o quer. Apesar do golpe e dos sucessivos golpes que advirão, com o apoio do conservadorismo dominante. Os velhos estarão muito velhos, ou mortos, com o sarcasmo do rótulo inútil de aposentados. Previdência será apenas Providência divina. Ainda assim, deve se acreditar no futuro. Meu avô, um sábio conhecedor das coisas da vida, que me deu muitas lições, resmungava, na sua sapiência do mundo dos menos favorecidos com as dádivas da fortuna, que o futuro vinha na frente. Claro, trata-se de uma obviedade. Com vaticínio de tudo que poderia advir num dia após o outro. A Deus o futuro pertence, ainda pespegava o sábio cearense na cara dos incrédulos, que se achavam senhores do mundo. Apesar de tudo, o mundo gira como se fosse uma roda. E não há algo de novo no front, a não ser o esperado, produto da insensibilidade deste desgoverno do Temer. O Brasil está sendo vendido a preço de banana, na expressão antiga ora bem atualizada.

A uma semana de completar um ano do fatídico golpe do impeachment, a jornalista Renata Mielli, que coordena o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, que levou o Brasil a essa situação de calamidade, afirma que "o que se vê no país é um rastro de destruição. Já dá para tirar as placa de vende-se que estava fincada no mapa do Brasil e substituir por outa: Vendido". Pretende-se privatizar tudo, sob os aplausos da nossa mídia. Enfim, golpe é golpe. E no meio de tudo isso tem sempre alguns poucos que estão enchendo o bolso. Com certeza, não é o povo. Este é apenas massa de manobra. No caso presente, nem o militares chegaram a tanto. A união entre a Avenida Paulista, grupos econômicos estrangeiros, mídia e classe política conservadora, liderada por esse nefasto Temer, está pondo o país à venda no mercado. Não sobrará pedra sobre pedra. Eletrobrás, aeroportos, rodovias, loteria, até a Casa da Moeda, incluindo os serviços de telecomunicações e o SUS, sob o engodo de serem criados planos de saúde populares. É Brasil sendo entregue para os grandes e poderosos grupos econômicos.
Estamos a trilhar o longo poema No caminho com Maiokóvski, de autoria do poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa: "Na primeira noite eles se aproximaram / e roubam uma flor / do nosso jardim. / E não dizemos nada. / Na segunda noite, já não se escondem: / pisam as flores, / matam o nosso cão,  / e não dizemos nada. / Até um dia, / o mais frágil deles / entra sozinha em nossa casa, / rouba-nos a luz, e, / conhecendo o nosso medo, / arranca-nos a voz da garganta. / E já não podemos dizer nada."
Com isso...
Os ricos, rindo à-toa. Voltamos à Velha República. A Avenida Paulista está em festa. Volta a deter todo o poder que emana do povo. Vive-se a era do poste: Doria. Sem ideologia. Gestor dos seus negócios. Riquíssimo às custas de bajular os poderosos. Se continuar capacho, cumpre a sua sina determinista, não foge do seu destino, e a Avenida Paulista agradece penhoradamente. É mais dinheiro para banca, que nada tem de besta. Ao contrário, quanto mais ganhar melhor. Por cima, há os brasileiros que gostam de bajular ricos.
E sem qualquer sobressalto, li na coluna de Mônica Bergamo, na FS, de 08 de outubro, p. C2, que o advogado de João Doria está organizando um jantar de arrecadação para ajudar o tucanato (aviso: qualquer semelhança com o PSDB não é mera coincidência) a pagar as dívidas de campanha, que passam de seis milhões de reais. Diz o advogado organizador: "Não estou colocando valor mínimo. Mas espero que cada pessoa dê mais de R$ 20 mil." Ainda acrescenta, com o viés de desprezo à turma do sereno: "Se for para doar menos, é melhor fazer jantar para 300 pessoas. A ideia nossa é ter poucos, mas bons doadores." E aí me despontou uma crucial interrogação, recorrendo à música popular, quando se lutava pela democratização do país, e o Doria, como o chamam os íntimos, se refestelava nesses banquetes de poucos comensais: - E o povo como está? tá com a corda no pescoço? É o dito popular, larga a carne, come o osso.
Só o nosso Saflate tem a mania cruel de falar mal, contrariando a expectativa desses doadores milionários de R$ 20 mil e dos milhões de eleitores, quando afirma que "a eleição do sr. João Doria é uma dessas piadas que só situações terminais são capazes de produzir". Ouso discordar. Ora, bolas, São Paulo, já de longos anos, e o Brasil, com certa intermitência reativa, são dos tucanos, que têm salvo-conduto para fazer o que bem entenderem, inclusive roubar. Vejamos: desvio de milhões do Metrô, corrupção na merenda escolar, racionamento de água por incompetência de gestão, fechamento de escolas, espancamento de professores. E nada. Aguarde-se 2018, para o assalto final. E que se privatizem as eleições, até porque Gilmar Mendes é favorável.