Servir bananas em poema é alcançar o ápice do malabarismo estético, transfigurado na arte de poetizar. Ferreira Gullar conseguiu essa façanha, no poema Bananas Podres 3, do seu último livro Em Alguma Parte Alguma. Gullar evoca uma tarde quente na quitanda, "e aquele calor / acendia o perfume das bananas apodrecendo / fato a que ninguém dava atenção". E conclui a sua evocação poética: "...mas o perfume daquelas frutas / que feito um relâmpago / desceu na minha carne / e ali ficou, parado, / esse de vez em quando / volta a esplender." Esse poema me fez pensar em meu avô. E também pensar nas bananas que se comiam em casa à abundância. Nunca houvera percebido o seu perfume, o cheiro de estar maduras ou enegrecidas pelo excesso de maturação. Mas eram as mais diversas bananas, com sabores múltiplos. Bana-maçã, banana-prata, banana-roxa, banana-nanica ou anã, banana-da-terra, banana-cacau ou babona, banana-d'água, banana-pera, banana-casada (cruzamento de banana-maçã com banana-roxa), banana de qualidade (assim chamadas as bananas exóticas do tipo casada e roxa), banana-anajá ou banana-ouro. Enfim, banana-figo, banana-pão, doce de banana, banana à milanesa, além da banana-comprida, utilizada como ingrediente no cozidão de carne.

Por que lembrei do meu avô? Sempre adorei bananas. Maçã, roxa, prata, d'água, ou de qualidade. Meu avô gostava de banana-cacau ou babona. Uma banana de casca grossa, grande, que, com a sua amolada faca, cortava no meio, sem tirar a casca, para, com uma colher, extrair parcimoniosamente a sua polpa macia para comer, aos poucos, como se estivesse a saborear uma espécie de manjar dos deuses, misturando com o que restava da comida, peixe fresco cozido, ou carne moída, que eram preparados pela minha tia. Nunca fui adepto gastronômico da banana-cacau. Não era o meu sabor preferido. Mas as outras bananas tinham a minha preferência. Entre uma banana-maçã e uma maçã, expressão agregada que a qualificou no rol das bananas elitizadas, sem demonstrar qualquer dúvida, sempre optei pela primeira. Ah!, como é gostoso comer uma banana com um ovo frito misturado na farinha d'água! Nunca comi caviar, ou coisa que o valha. Mas banana com ovo frito supera essa comida metida a besta e decantada pelos grã-finos.
A lembrança do meu avô, ainda não esclarecida, consiste no fato de que ele gostava de banana bem amadurecida, quando a casca tomava a tonalidade preta, bem preta. Sentia um prazer imenso de comer a banana nesse estágio terminal, quase alcançando a fronteira do apodrecimento. Dizia-me que, além de ser mais gostosa, tinha substanciosos ingredientes alimentícios. Não concordava. Relutava, e ainda reluta até hoje, em aceitar a sua tese, que justificativa o seu prazer de comer aquelas bananas, que eram retiradas do cacho, pendurado da ripa ou no caibro do telhado, com as cascas enegrecidas pelo excesso de amadurecimento. Gostava - e gosto - da banana madura, ainda com a sua casca amarela ou roxo, mas sem estar verde, ou de vez.
Mas não sabia que a banana tinha tanta importância econômica para o nosso país. Fazendo uma rápida pesquisa, tomei conhecimento de que a banana é o segundo fruto mais produzido e consumido no Brasil. Pois é. É uma fruta, que não é tão chique assim, como a pera, a maçã, a uva, ou outras mais, sendo da preferência nacional. Banana serve pra tudo. Serve pra plantar, pra comer, pra vender, pra crescer, já que é riquíssima em vitaminas. Lembram da velha canção popular: - Banana menina, é vitamina, banana também faz crescer. Há ainda a farofa de banana, que é uma mistura de arroz, carne de sol e torresmo. Quem já comeu, afirma, com a veemência da certeza induvidosa, que é tão gostosa que o sujeito fica de queixo caído. Ainda não experimentei, razão pela qual deixo de dar o meu aval. Não esqueçam que há, ainda, para valorizar essa popular fruta, o grupo musical baiano Chiclete com Banana, que faz tanto sucesso quanto a banana frita. 
Os entendidos em banana dizem, com absoluta convicção, que banana contém, tanto na casca como na polpa, oito benefícios, que são os seguintes: Riqueza em fibras. Contém três açúcares naturais: frutose, sacarose e glicose. É rica em magnésio. Possui vitaminas do complexo B (B1, B2, B6 E B12), sendo um alimento importante para sistema nervoso. Contém ferro, e serve para os casos de anemia. Ajuda na digestão e sacia a fome. Tem um aminoácido chamado triptofano que é precursor da serotonina. E, ainda, mantém os níveis de açúcar elevado, eliminando o cansaço físico e mental. Portanto, é uma fruta rica, embora da mesa do pobre.
O grande mal da banana é o seu mau uso. Quem nunca deu uma banana, mandando para os diabos o seu desafeto. Nos estádios, os racistas jogam casca de banana nos atletas negros numa agressão hedionda, como marca preconceituosa. Há o Diário de um Banana, livro besteirol que faz sucesso entre a turma do mesmo time. E, tempo atrás, cunhou-se, para os países latino-americanos, com regime instáveis e comandados por ditadores, o rótulo pejorativo de república das bananas. Mas o banana mesmo, na denominação vulgar, é o sujeito inexpressivo, besta, idiotizado, que, na China, é o asiático ocidentalizado. Pois é, depois de tantas bananas, convido-as saborearem um gostoso doce de banana.