As máscaras são tiradas. O rei estará nu, nesse desfile de vaidades. As caras se desnudam. Caem as máscaras. Os risos se transformam em choro. A alegria de uns poucos se transmudam em escárnio de muitos. A fantasia desaparece do palco da insensatez para dar vez à cruel realidade. Até quando? Talvez nem se tenha o quando. Mas apenas a perspectiva sombria de que o quando pode vir. Ninguém o augura. Ninguém o quer. Apesar do golpe e dos sucessivos golpes que advirão, com o apoio do conservadorismo dominante. Os velhos estarão muito velhos, ou mortos, com o sarcasmo do rótulo inútil de aposentados. Previdência será apenas Divina Providência. Ainda assim, deve se acreditar no futuro. Meu avô, um sábio conhecedor das coisas da vida, que me deu muitas lições, resmungava, na sua sapiência do mundo dos menos favorecidos com as dádivas da fortuna, que o futuro vinha na frente. Era uma obviedade, claro. Mas era um vaticínio de tudo que poderia advir num dia após o outro. A Deus o futuro pertence, ainda pespegava o sábio cearense na cara dos incrédulos, que se achavam senhores do mundo. Apesar de tudo, o mundo gira como se fosse uma roda. Há algo de novo no front. Lá no Rio, desponta, no dizer de Vladimir Saflate, este filósofo que sempre cito por aqui, uma das mais impressionantes experiências políticas dos últimos tempos, o candidato a prefeito Marcelo Freixo. Jovem, preparado, inteligente, aguerrido, que se impôs na disputa eleitoral como alternativa de grande qualidade, com apenas 11 segundos de televisão (no primeiro turno) e sem um tostão para gastar, na luta contra os candidatos milionários e ainda apoiados por partido de igrejas. Há uma luz no fim do túnel. Ou tudo pode apagar. Escuridão!? Dúvida ou perplexidade. Mas é preciso, ante a militarização da política, e também pela ingerência de segmentos religiosos, de quaisquer matizes, pensar um pouquinho. Arre!,como estou farto dos profissionais da política. Não os suporto. Mas desconfio, e como desconfio, daqueles se dizem apolíticos. Gestores das suas grandes fortunas pessoais, que querem gerenciar o nosso patrimônio. É um Hitler, travestido de um bom-mocismo insuportável. Arre égua! Essa é uma contradição necessária. Sempre damos com o burro náguas, com um ou com o outro cafajeste, vendedor de ilusões.
Esse parágrafo saiu longo. Perceberam? Se chegarem ao final, parabéns! Creio que quem o leu, compreendeu o seu sentido.
Mas...
Os ricos, rindo à-toa. Não sou contra, nem poderia ser de outra forma. Voltamos à república do café com leite. A Avenida Paulista está em festa. Volta a deter todo o poder que emana do povo. Vive-se a era do poste: Doria. Sem ideologia. Gestor dos seus negócios. Riquíssimo às custas de bajular os poderosos. Se continuar capacho, cumpre a sua sina determinista, não foge do seu destino, e a Avenida Paulista agradece penhoradamente. É mais dinheiro para banca, que nada tem de besta.
E sem qualquer sobressalto, li na coluna de Mônica Bergamo, na FS, de 08 de outubro, p. C2, que o advogado de João Doria está organizando um jantar de arrecadação para ajudar o tucanato (aviso: qualquer semelhança com o PSDB não é mera coincidência) a pagar as dívidas de campanha, que passam de seis milhões de reais. Diz o advogado organizador: "Não estou colocando valor mínimo. Mas espero que cada pessoa dê mais de R$ 20 mil." Ainda acrescenta, com o viés de desprezo à turma do sereno: "Se for para doar menos, é melhor fazer jantar para 300 pessoas. A ideia nossa é ter poucos, mas bons doadores." E aí me despontou uma crucial interrogação, recorrendo à música popular, quando se lutava pela democratização do país, e o Doria, como o chamam os íntimos, se refestelava nesses banquetes de poucos comensais: - E o povo como está, tá com a corda no pescoço. É o dito popular, larga a carne, come o osso.
Seu Doria é seu Doria. Não é politico. É gestor. Gosta de salões de festa, com muito poucos convivas, desde que ricos. Antes de assumir, já disse a Deus ao mundo que vai desconstruir tudo. Coitadinha de São Paulo. Não sobrará pedra sobre pedra. Ainda bem que, para glamorizar essas agradáveis notícias banquetais, a empresária Lucília Diniz está a organizar um jantar em homenagem a Doria, de quem é dileta amiga, e que será realizado nos Jardins. Bem, e é bom que se diga, nos Jardins da Sra. Lucília, pobre só entra como empregado doméstico, em traje típico de serviçal, e assim mesmo com curso superior de qualquer especialidade, e mestrado e doutorado em boas maneiras.
Só o nosso Saflate tem a mania cruel de falar mal, contrariando a expectativa desses doadores milionários de R$ 20 mil e dos milhões de eleitores, quando afirma que "a eleição do sr. João Doria é uma dessas piadas que só situações terminais são capazes de produzir". Ouso discordar. Ora, bolas, São Paulo, já de longos anos, e o Brasil, com certa intermitência reativa, são dos tucanos, que têm salvo-conduto para fazer o que bem entender, inclusive roubar. Vejamos: desvio de milhões do Metrô, corrupção na merenda escolar, racionamento de água por incompetência de gestão, fechamento de escolas, espancamento de professores. E nada. Aguarde-se 2018, para o assalto final.
Edição Nº 15740
Até quando?
Aureliano Neto
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