Patrono da cadeira n.º 9 da Academia Maranhense de Letras - AML. E, por escolha do fundador, o poeta Olavo Bilac, é o patrono da cadeira n.º 15 da Academia Brasileira de Letras - ABL.
Nasceu em 10 de agosto de 1823, no sítio Jatobá, em Boa Vista, próximo à vila de Caxias. Filho natural do negociante português João Manuel Gonçalves Dias e de Vicência Mendes Ferreira, mulher mestiça e pobre, que se ligara ao pai do poeta tanto na condição de amante como prestadora de serviços domésticos.
Na sua obra Últimos cantos, publicada em 1851, consta o célebre poema Canção do Tamoio, cujos versos enfatizam a resistência do índio gonçalvino, que não aceitou a servilidade:
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida;
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.
(...)
Sobre Gonçalves Dias, o grande romancista José de Alencar afirmou: "Gonçalves Dias é o poeta nacional por excelência; ninguém lhe disputa na opulência da imaginação, no fino lavor do verso, no conhecimento da natureza brasileira e dos seus costumes selvagens." Alencar e Gonçalves Dias, representantes do romantismo brasileiro, formaram a dupla que deu à literatura do Brasil o seu caráter nacionalista. O primeiro no romance indianista, e o segundo, como fundador da poesia nacional, lírico-indianista.
A crítica literária, ao examinar a vasta obra poética de Gonçalves Dias, reconhece o imenso valor desse bardo maranhense, como "aquele que plantou fundo e de modo inequívoco os definitivos alicerces de sua emancipação literária" (M. Nogueira da Silva). Ou ainda: "Foi ele, sem dúvida, a primeira voz definitiva da nossa poesia, aquela que nos integrou na própria consciência nacional" (Ronald de Carvalho). E Antonio Cândido: "Gonçalves Dias se destaca no medíocre panorama da primeira fase romântica pelas qualidades superiores de inspiração e consciência artística."
Nos Primeiros cantos, publicados em 1846, Gonçalves Dias fez surgir na literatura pátria o vulto do índio, e a ele se deve o grande impulso para a nossa independência literária, como intérprete do Brasil. A partir de Gonçalves Dias, o Brasil teve o seu primeiro e genuíno poeta. Olavo Bilac, em 1904, na data do aniversário de morte do poeta do I-Juca-Pirama, assim se manifesta numa passagem do que falara a seu respeito: "Nenhum outro poeta cantou com mais brilho e com mais verdade as nossas florestas, os nossos rios, as flores dos nossos campos e as estrelas do nosso céu, a formosura e a graça das nossas mulheres".
Em I-Juca-Pirama, poema épico de Gonçalves Dias, o herói tupi, feito prisioneiro pelos timbiras, entoa seu canto de morte:
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros descendo
Da tribo Tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte
Guerreiros, ouvi.
(...)
O lirismo de Gonçalves Dias, cujo índio representa o símbolo do nacionalismo exaltado e orgulhoso, também se faz sentir em seus versos quando distante da sua pátria, daí o seu canto-saudade em A Canção do Exílio, poema publicado nos Primeiros cantos, em 1846, cujos versos extravasam a melancolia da distância do poeta:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(…)
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
(…)
E Deus ouviu a prece poética de Gonçalves Dias. Em 1864, voltava para sua pátria, a bordo de um veleiro (Ville de Boulogne), sendo o único passageiro. No dia 10 de agosto daquele ano, completara 41 anos de idade. Ainda precisava, embora doente, viver para continuar a construção do seu trabalho não só poético, mas de pesquisa científica. Na costa maranhense, próximo à vila de Guimarães, o veleiro partiu-se ao meio. No dia 3 de novembro de 1864, morre Gonçalves Dias. Seu corpo nunca foi encontrado. Mas a sua obra continua a eternizá-lo. O canto do sabiá repica em todos os cantos. Ainda uma vez - adeus! P.S.: Texto, com algumas modificações, lido na Praça G. Dias, no 10/8/2018, em comemoração da AML à data de nascimento desse vate, criador da poesia nacional.
* Membro da AML e AIL.
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