Aureliano Neto*

É lugar-comum dizer-se, para que o mundo inteiro ouça e tome conhecimento, exluindo qualquer dúvida que ainda houver, que Imperatriz foi construída pela força do trabalho dos seus homens e mulheres, isso desde quando frei Manoel Procópio aqui aportou e plantou a semente dessa árvore que nasceu, cresceu e, com os seus majestosos galhos, deu sombra para os seus filhos nativos ou para aqueles que vieram para estas terras com a intenção de adotá-las como sua pátria. Eu, por exemplo, cheguei a Imperatriz no início do mês de fevereiro de 1975, em pleno carnaval. Fiquei um ou dois dias, provisoriamente, num hotelzinho localizado na rodoviária. Agora, antiga rodoviária. Quando dei por conta de mim e do mundo, fui encontrado pelo meu amigo Vicente Costa, um dos mais brilhantes advogados criminalistas que conheci, que aqui chegou com a sua prole, e, ao lado da sua mulher, ajudou, com o seu trabalho honesto e dedicado, a construir os alicerces desta robusta cidade. Pois bem. Vicente, como o chamava - mantínhamos uma amizade de respeito recíproco -, ao encontrar-me, sapecou-me aquela pergunta clássica: - O que tu estás fazendo por aqui? Apertei a sua calejada mão, que já fora de um babeiro, que estudou às duras penas, para receber o diploma de bacharel em direito, para, no virar do tempo, estar a falar com o advogado, que sabia já formado. Desconhecia apenas o seu paradeiro. Disse-lhe: - Estou chegando do Rio de Janeiro para exercer a função de advogado do INCRA. Vicente estava num Volks, se não me engano, de cor vermelha. Era um fusquinha. O diálogo continuou, antecedido dos apertos de mãos e abraços. Há muito tempo não nos víamos. Disse-me então: - Meu escritório é bem perto do INCRA. Levo-te lá. Aceitei o convite. Daí em diante reavivamos nossa velha amizade. Acrescento: Vicente me conheceu moleque de rua, jogando bola e sujando a sua roupa de respingo de lama, quando ele, integrante do PTB, ia ao comitê que ficava na casa do meu pai, no Lira.
Faço essa ressalva a Vicente, e, reitero os encômios: um grande homem e um honrado advogado, porque foi um dos companheiros que participou bravamente da construção desse Judiciário robusto que temos hoje em Imperatriz. Tive a honra de receber o seu voto, quando, por duas vezes, fui eleito presidente da Subseção da Ordem dos Advogados. No primeiro mandato, nos idos do regime militar, a luta se centrava na melhoria da prestação jurisdicional e pela liberdade democrática. A OAB, em seus vários segmentos, empunhava a bandeira contra o arbítrio ditatorial; no segundo, continuava os reclames pela melhoria dos serviços do Judiciário. Mas a classe dos advogados se agigantava nesta região, e Vicente estava lá firme, sempre como advogado, profissão que exerceu como sacerdócio, embora sendo um excelente pregador de outra igreja.
Certa vez, fui procurado por ele e pelo então Promotor de Justiça José Romualdo Coqueiro. Os dois tinham sido contemporâneos no curso da Faculdade de Direito de São Luís, que funcionava no prédio da Rua do Sol, em frente ao Teatro Artur Azevedo. Tomei conhecimento dos fatos, que foram trazidos não ao amigo mas ao presidente da OAB, e fiquei estarrecido. Vicente era advogado numa causa, dessas complicadas, em que, por trás, sem que o causídico saiba, há a dormitar interesses escusos. O fato é que, estando no seu escritório, que não era mais na Rua Godofredo Viana, mas na Dorgival Pinheiro, esquina com a Sousa Lima, fora "visitado" por um famoso pistoleiro desta região, que, de revólver na cintura, bem exposto e visível, o aconselhava a desistir da demanda. De imediato, fomos os três - eu, Vicente e Coqueiro - à Delegacia do 1° Distrito, onde estava instalada a Diretoria Regional de Segurança. Relatamos o ocorrido e requeremos que o autor da ameaça fosse intimado para se fazer presente, a fim de ser interpelado a respeito da sua atitude delituosa. Assim foi feito. O famigerado pistoleiro foi intimado, e, perante o diretor regional de segurança, negou que tivesse feito ameaça a Vicente, que continuou no exercício da sua honrosa profissão.

Imperatriz, dessa época, mudou. Tem ares de rainha, mas precisa de retoques na sua vestimenta.

Essa minha crônica, que não é minha, é da cidade, seria mais para o bravíssimo, agora sim, Dr. Vicente Costa, um dos advogados que exerceu com destemor, galhardia e sapiência o tribunal do júri, que se reunia ora no velho prédio da prefeitura, situado na Praça da Cultura, ora na sede urbana do Clube Tocantins, na Godofredo Viana. Mas Vicente que lutou por esta cidade, ao exercer com extrema dignidade a advocacia, vai me permitir, neste finalzinho, a falar de um assunto, assim resumido: andar de táxi em Imperatriz. Não é possível mais voltar-se aos tempos antigos. Tempos da pistolagem e dos buracos. Imperatriz projetou-se para o futuro. Quer ser capital de um estado, em fase de criação. É uma cidade que recebe turistas. E serviço de táxi é precário, mesmo uma calamidade. Não raramente o taxímetro está sempre desativado. A cobrança do serviço está sendo feita no olhômetro. Falta uma ativa fiscalização de trânsito. O serviço é público. Tem que ser fiscalizado. Além do mais, a frota dos veículos está bastante deteriorada. A sinalização semafórica, e a vertical, e a horizontal precisam ser refeitas, ou instaladas em vários pontos da cidade, como no cruzamento do Shopping Tocantins. Os veículos não podem ficar estacionados nas vias públicas, ao mesmo tempo, de um lado e doutro. Enfim, se Vicente estivesse em nosso convívio, e Deus não o tivesse convocado tão cedo, com certeza, ele diria: - Manel, estou contigo. E do alto da tribuna, com a sua voz de pacificador, acrescentaria: - O trânsito precisa ser melhorado, para que se tenha uma Imperatriz vestida de roupa de festa para ser, por direito, a capital do novo estado.

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