- Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está convosco; bendita és tu entre todas as mulheres.

E, após um momento de hesitação e temor, tendo o anjo do Senhor lhe dito para não temer, por ser a sua concepção obra do Espírito Santo, para trazer ao mundo o santo que seria chamado de Filho de Deus, ela responde: - Aqui está a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.
Cristo nasce dessa exortação da alegria, anunciado pelo anjo do Senhor. Da alegria verbalizada, num primeiro momento, para ser plantada neste mundo repleto de contradições e de muitos absurdos. Alegria que se une à solidariedade, nascida do nosso interior e projetada como uma torrencial cascata para fora, a invadir e contaminar os corações dos nossos semelhantes. O anjo conclama a Mãe escolhida, de modo convincente, como porta-voz do Pai: - Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está convosco.
Maria aceita essa convocação veemente, manifestada na mensagem da alegria, do Verbo que irá se fazer Carne e habitar entre nós, e dá a resposta ao desafio de ser mãe: - Faça-se em mim segundo a tua palavra. E, consumado esse diálogo, o Verbo se fez Carne e passou a conviver entre nós, ensinando-nos lições, fazendo prodígios, que permanecem vivos em todos os natais.
A Mãe, sempre presente, acompanha os primeiros passos do Filho. No casamento de Caná da Galileia, lá estava ela, quando faltou vinho. Chamou o Filho e disse-lhe: - Eles não têm vinho. Em resposta, o Filho apenas perguntou-lhe: - Para que me dizes isso? Maria, com a certeza da missão salvífica do Filho, aconselhou aos encarregados dos serviços: - Fazei tudo o que Ele vos disser! E deu-se o milagre da mudança da água em vinho. Todos provaram e beberam à vontade, nessa primeira manifestação do Filho de Deus.
As lições foram sendo disseminadas, e os natais foram sendo construídos nessa sua rápida e eterna passagem pela terra. Enfrentou todos os desafios de uma sociedade legalista e injusta, dividida entre os pouquíssimos ricos e os muitíssimos pobres. Sacrificou-se pelos pobres e deu a vida pelos sofredores. Enraivecido, expulsou os vendilhões do templo, mas nos ensinou o perdão: Se perdoardes aos outros as suas faltas, o vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. E disse mais: Se alguém vos bater na face direita, oferece ao agressor também a esquerda.
Como todos nós somos juízes dos outros, só não dos nossos atos, e estamos prontos para proferir o nosso implacável julgamento, ficou esta lição: Não julgueis e não sereis julgados. Pois com o mesmo julgamento que julgardes os outros sereis julgados, e a mesma medida que usardes para os outros servirá para vós. Não pode haver dois pesos e duas medidas, já que não há, segundo esse secular ensinamento, generosidade nenhuma quando o bem é feito apenas para quem nos faz o bem. Não se pode amar a dois senhores. Ou se ama a Deus, ou se ama ao dinheiro. Felizes os pobres, porque deles é o reino de Deus; os ricos, alerta o Filho, festejado nesse Natal, já têm o consolo da sua riqueza. Não respeitou o legalismo do sábado. Curou os enfermos, ressuscitou aos mortos e pregou a reconciliação: - Procura reconciliar-te com o teu adversário, enquanto ele caminha contigo para o tribunal. Trata aos outros como queres que ele te trate.
E ainda, a grande lição: ama o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças; e ao próximo, como a ti mesmo. Se assim todos procedessem, teríamos em cada dia do ano um Natal de grande alegria, porque assim se teria a solidariedade entre homens de boa vontade. Embora hoje, neste domingo, Feliz Natal! Deem de presente o que a grande poeta Cora Coralina recomenda em seu poema de Natal: “...um pedacinho de amor, / carinho, / ternura, / reconciliação, / perdão! / Tem presente de montão / no estoque do nosso coração / e não custa um tostão! / Enfeite o seu interior!” A felicidade é simples, porque a vida deve ser simples. Alegra-te, é sempre Natal!