Getúlio é eleito, em 3 de outubro, presidente da República, retornando ao poder pela vontade do povo, sendo consagrado nas urnas com 49% dos votos O seu governo vai até 1954, quando, no mês de agosto, acossado pelas aves de rapina (grupos econômicos internacionais e nacionais), denunciadas na carta-testamento, como último ato, Vargas dá o tiro no peito, entregando ao povo em holocausto a sua vida e dando o passo em definitivo para a eternidade, e assim entrando para História. Os anos 50, foram marcados por grandes avanços que contrariaram interesses econômicos estrangeiros. Foi criada a Petrobrás (dizia-se que o Brasil não tinha petróleo), foi instituída a Lei de Remessa de Lucros e dados os primeiros passos para criação da Eletrobrás. Getúlio assentou o alicerce sobre o qual Juscelino Kubitschek iniciou a retirada do país da condição agrária e desse andamento, de forma efetiva, ao processo de sua industrialização. Nessa onda de mudanças, vieram os movimentos culturais como a bossa nova, o cinema novo, a poesia concreta, e, em 1958, a vitória da seleção na copa do mundo na Suécia. Brasília foi construída em três anos. Juscelino aplicava, para desenvolver a economia do país e eliminar as desigualdades, o plano de metas, centrado na ideia-chave de 50 anos em 5.
No início dos anos 50, era bem criança. Mas a história diz que país vivia momentos de euforia. Era época de ouro do rádio, que alimentava os sonhos dos brasileiros através das rádio-novelas, O rádio ditava o comportamento daquela época. Marlene, Emilinha Borba, Francisco Alves, César de Alencar, na Rádio Nacional, Garrincha, Pelé, Didi, Nilton Santos, Vavá. O Brasil estava se construindo, buscando o seu destino, como ainda o faz até hoje. Elvira Pagã era a grande vedete, com o mesmo prestígio das atuais, porquanto ficara famosa por ter posado nua e fez da foto cartão natalino. Foi a primeira rainha do carnaval carioca. O Vasco da Gama, atualmente disputando a série B do campeonato nacional, era o Expresso da Vitória, No dia 7 de setembro de 1952, no Maracanã, goleia o Bangu por 6 a 2, e o time, que os torcedores sabiam de cor e salteado, era Barbosa, Augusto e Haroldo; Ely, Danilo e Jorge; Edmur, Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico. No Bangu, figurava no elenco o grande mestre Ziza, o Zizinho.
O Maracanã era o palco dos grandes embates no futebol. Nessa passarela, desfilaram astros de primeira grandeza: Garrincha, Pelé, Gerson, Castilho, Pompeia, Gilmar, Nilton Santos, Zózimo (campeão do mundo no Chile, em 1962, formando dupla de área com Mauro Ramos, que tomou a vaga de Belini, falecido recentemente), Zico, Roberto Dinamite, Telê, como jogador e técnico, e técnicos como Flávio Costa, Aymoré Moreira, que dirigiram a seleção brasileira, e o folclórico Gentil Cardoso, autor de hilariantes frases, como "craque trata a bola de você, não de excelência", ou "quem se desloca recebe, quem pede tem preferência". E a música de sucesso exaltava: "Vai haver mais um baile no Maracanã." E todos iam pra lá. Enquanto nós por aqui ficávamos no rádio, ouvindo as transmissões feitas pelo grande Oduvaldo Cozzi, que cunhava a frase da última volta dos ponteiros, para acentuar que o jogo estava chegando ao fim.
No mundo, lá fora, a moda e os costumes se incendiavam. O duque e a duquesa de Windsor, Edward VIII e Wallis Simpson, se envolveram sentimentalmente, enquanto (para época um escândalo sem tamanho) Wallis ainda era casada com o seu segundo marido, Ernest Simpson. Mas eram novos tempos. Ele deixou de ser príncipe e passou a duque, pelo amor à plebéia Wallis. Os dois representaram o glamour romântico de uma época, em que Katharine Hepburn revolucionava a moda com um estilo masculino de se vestir, rompendo todos os códigos que estabeleciam regras inflexíveis da elegância feminina. Surge então Christian Dior, criando vestidos que se amoldavam às curvas do copo elegante da mulher. Nessa linha revolucionária, vem a invenção considerada mais importante depois da bomba atômica: o biquíni, as duas tiras endeusadas no corpo de Brigitte Bardot, sem falar no vestido de noiva de Grace Kelly, quando, no casamento do século, uniu-se, em 19 de abril de 1956, ao príncipe Rainier de Mõnaco, renunciando à vida artística.
No Brasil, perdemos, em pleno Maracanã, a copa de 50, ante a perplexidade de 200.000 torcedores, que foram ao estádio. Em 16 de julho de 1950. Gol Uruguai de Ghiggia. Os saudosistas mórbidos, apesar de o Brasil ter ganhado cinco títulos mundiais, repetem masoquistamente esse histórico fracasso. Barbosa morreu cumprindo a pena eterna de ter sido o goleiro que deixou a bola vazar a sua meta. Pena perpétua do não esquecimento. Lembremos dos cinco títulos. O Brasil é outro, bem diferente de 50. De lá para cá, foram tantos astros que, com o seu futebol, fizeram a história das copas disputadas pelo escrete brasileiro. Os anos 50 são a bossa nova, são o cinema novo, são a poesia concreta, são o gesto heróico de Getúlio, denunciando as aves de rapina, dando a sua vida para entrar para História, são Juscelino, 50 anos em 5, são Éder Jofre, são Maria Ester Bueno, são o início da industrialização do país, são a conquista de 58 na Suécia, quando a seleção saiu daqui totalmente desacreditada. Enfim, a década de 50 se constitui no passo definitivo para expurgar de nossas entranhas o complexo de vira-lata. Sem sonhos, nada se ganha.
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