De logo, alerto: não é essa data o dia do trabalho, é o dia do trabalhador. Nesse sentido, com exigências atuais, é dia do trabalhador e da trabalhadora. Basta que seja alguém que trabalhe mediante recebimento de salário. Mas nem sempre foi assim. Durante muitos e muitos anos, foi apenas dia do trabalho. O trabalhador era assemelhado a um escravo. Só que o escravo era um bem patrimonial, integrando a propriedade do seu senhor, que detinha amplos direitos sobre esse patrimônio-escravo. Já o trabalhador, nessa condição, trabalhava de sol a sol (com algumas pequenas variações) e recebia (e ainda recebe) um ganho como paga do seu trabalho. Lendo-se A dialética do trabalho, obra escrita por Marx e Engels, vol. II, quando tratam dos limites das jornadas do trabalho e fazem a pergunta clássica: O que é uma jornada de trabalho? A resposta dada pelo capitalista, que a compra, é: a jornada de trabalho conta diariamente 24 horas completas, com dedução das poucas horas de descanso sem as quais a força de trabalho recusa absolutamente a renovação do seu serviço.

Marx e Engels, que muito influenciaram o movimento trabalhista do mundo inteiro, chegam à seguinte dedução: "É desde logo evidente que o operário, ao longo de todos os seus dias de vida, nada é senão força de trabalho; que, por isso, todo o seu tempo disponível é, por natureza e direito, tempo de trabalho e pertence, portanto, à autovalorização do capital."
Em consequência, a luta do trabalhador, no mundo inteiro e aqui no Brasil, para humanizar a jornada de trabalho e fazer surgir, com grandes movimentos reivindicatórios, uma legislação trabalhista que o protegesse, foi marcada por um intenso conflito, em que muitas vidas de integrantes da classe obreira foram sacrificadas. Conta a história que a primeira grande manifestação dos trabalhadores se deu em Chicago, em 1886, com a participação de mais de 500 mil operárias, que reivindicavam melhorias nas condições de trabalho, como a fixação de uma jornada diária de oito horas. A Revolução Industrial, a partir da Inglaterra e dos Estados Unidos da América, sobretudo os Estados do norte deste país, contribuiu para desvalorização da mão de obra trabalhista. As máquinas substituíram grande parte do trabalho físico, tendo início a produção em massa, com redução do valor do produto. No curso dessa luta, vários trabalhadores foram assassinados pelas forças repressivas, a serviço do industrial capitalista. Fora o dia 1º de maio escolhido em junho de 1889, em Paris, pelo Internacional Socialista, organização que congregava partidos socialistas, comunistas e trabalhistas, para comemorar mundialmente a dia dos trabalhadores.
Vargas, considerado pelos historiadores como um personagem, em si, repleto de contradições, assumiu o poder em 1930, participando do golpe que depôs o presidente Washington Luís, implantou, em seguida, o Estado Novo, impondo uma ditadura nos moldes nazi-fascista. Perseguiu, prendeu, torturou e exilou. Mas, em que pesem todas essas mazelas, foi o primeiro líder político a legitimar o seu poder com uma legislação extremamente social, de proteção ao trabalhador. E fez uma verdadeira revolução, ao outorgar à classe obreira do Brasil leis trabalhistas. Para isso, criou o Ministério do Trabalho, que incluía Indústria e Comércio, o qual foi chamado de ministério da Revolução. A partir desses passos iniciais, organizou a Justiça do Trabalho, cuja origem eram as Juntas de Conciliação e Julgamento, que foram criadas em 1932. Também a Previdência Social. E, em 1942, nomeou uma comissão encarregada de unificar e organizar as leis trabalhistas, tendo nascido a Consolidação das Leis do Trabalho, CLT, aprovada por decreto em 1º de 1943. Instituiu o salário mínimo e estabeleceu a jornada de trabalho. O trabalhador passou a ter uma relação trabalhista humanizada
Apesar de todas as lutas, o 1º de Maio deve estar sempre presente na vida do trabalhador, que deve se conscientizar dos seus direitos e dos seus deveres. A atividade sindical, como pilastra do Estado de Direito e da democracia, deve ser garantida. Uma reforma trabalhista, que foi feita aos trancos e barrancos pelo atual desgoverno Temer, não pode ser imposta através de negociações espúrias, antiéticas, imorais, num toma lá, dá cá, o que faz com que o trabalhador brasileiro continue viver os dramas do passado. São 13,7 milhões de desempregados, afora os milhares que não estão nessa estatística oficial. A informalidade é uma regressão brutal tanto para o trabalhador como para sociedade. Nessa doença social está uma das causas do crime, fruto de uma desumana exclusão. Ricardo Antunes, autor da obra Adeus ao trabalho?, 16ª edição, refere-se ao fim do trabalho para alertar: "...o sistema de metabolismo social do capital necessita cada vez menos do trabalha estável e cada vez mais das diversificadas formas de trabalho parcial ou part-time, terceirizado, dos trabalhadores hifenizados." Está-se, pois, generalizando a nova classe de proletários precarizados. Só resta lutar. 

* Membro da AML e AIL.