Quem diria! Um ex-procurador de Justiça, kantiano (relativo ao filósofo alemão Immanuel Kant ou à sua doutrina; Aquele que adere às ideias de Kant ou se identifica com sua doutrina moral; Que adere a moral como lei universal, Moralista), considerado a reserva moral do Senado, agora se vê enrolado até a tampa da panela e prestes a renunciar ao mandato, acusado de envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira, de Goiás, mesmo estado do quase ex-senador. Digo quase ex porque se ele não renunciar, o que é mais provável, vai ser cassado.
No domingo, Demóstenes se reuniu com o advogado dele, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakai (um dos mais caros de Brasília), para avaliar a possibilidade de renunciar ao mandato e fugir da perda dos direitos políticos. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, pediu a renúncia do senador do DEM alegando que as provas são contundentes. Mesmo renunciando, Demóstenes pode ficar inelegível por causa da Lei da Ficha Limpa.
O DEM deu prazo no máximo até hoje (terça-feira) pela manhã (Portanto, pode até ser que Demóstenes tenha renunciado ontem à noite e a coluna já esteja até defasada, já que enviou o material para o jornal no começo da tarde de segunda-feira). O próprio líder do Democratas na Câmara, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), declarou à imprensa que a situação de Demóstenes era muito complicada. O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), também declarou que o caso do senador goiano era complicado.
Gravações telefônicas, autorizadas pela Justiça, comprovam que Cachoeira liberava dinheiro para o senador de Goiás, o baluarte da moral e da ética, em troca de favores, incluindo presentes e muita grana. O contraventor, conforme as gravações, chegara a pedir para o senador tentar mudar leis que favorecessem os contraventores, ou seja, amenizasse a situação daqueles que ganham dinheiro de forma corrupta e contra as leis do Estado. Cachoeira comandava uma rede de jogos de azar em Goiás. Seu histórico com a contravenção é antigo. Agora, está preso de novo.
É lamentável ver o senador Demóstenes em fim de carreira. Quando se falava em corrupção e algo errado, ele era o primeiro a discursar e criticar o governo. Agora, vive abatido, não consegue dormir, conforme ele mesmo revelou a amigos, e vive seus momentos finais no Senado.
Com este episódio, fica a pergunta: e agora, José? Ou melhor: e agora quem são os senadores éticos que podem amenizar a desgastada imagem do Congresso Nacional e, especialmente, do Senado? É só esperar o próximo escândalo ou a próxima reportagem denúncia de algum jornal, revista ou TV.
No episódio do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, acusado de receber dinheiro de propina, o Democrata foi forte e expulsou o seu então único governador. O partido adotará o mesmo caminho agora com aquele que era considerado o mais ético e rigoroso do Senado. Adeus Demóstenes!