José Sarney
Independente de gosto político, de ideologia partidária, se a família Sarney ficou rica no poder e não desenvolveu o Maranhão, ou não, dedico o espaço desta coluna de hoje para falar sobre o senador José Sarney. Não pretendo debater aqui se a tradicional família beneficiou ou prejudicou o Maranhão. Vou falar sobre o homem Sarney.
Convivência
Passei a conviver com o senador José Sarney em 1979, já fazendo visitas ao Congresso Nacional para enviar notícias para O PROGRESSO e depois para o jornal Tribuna de Imperatriz, do meu amigo Coquinho. A partir de 1980, passava flash ao vivo para a Rádio Imperatriz AM e depois para a Nativa FM, falando sobre o dia a dia da política em Brasília e entrevistei o senador maranhense várias vezes. Ele sempre foi gentil e muito educado. Tive a honra de viajar várias vezes pelo Brasil na comitiva presidencial quando ele era o presidente do Brasil. Só para lembrar, cobri o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional para diversas emissoras de rádio, incluindo 17 anos na Rádio Nacional, desde o início do governo Sarney. Depois, viajei com os outros presidentes, especialmente com Fernando Henrique Cardoso e com Luís Inácio Lula da Silva pelo exterior. No Brasil, fiz mais viagens com o presidente Sarney. Nas viagens ou em seu gabinete no Senado, sempre que ia entrevistá-lo ele perguntava: e como vai a nossa Imperatriz? Eu respondia que ia bem. Em uma das viagens, o acompanhei pela Ferrovia Norte Sul no trecho entre Imperatriz e São Luís.
PDS
Acompanhei de perto os bastidores em Brasília sobre a ida de Sarney para a Aliança Democrática, com a saída dele do PDS e seu ingresso no PFL, quando foi formada a união entre PMDB e PFL. Na negociação política, ele foi indicado a vice na chapa de Tancredo Neves, do PMDB. Esta negociação envolveu a influência do então deputado Ulysses Guimarães, já falecido, que presidia o PMDB e a Câmara dos Deputados (e mais tarde a Assembleia Nacional Constituinte). Com o apoio de Ulysses, o então deputado federal Epitácio Cafeteira foi eleito governador do Maranhão, apoiado por Sarney, outrora seu adversário político. Com a morte de Tancredo Neves, José Sarney assumiu o mandato. E aí a maioria dos brasileiros sabe o resto da história. Independente de sua atuação econômica, que foi fraca e deixou o comando do país com a inflação lá em cima, Sarney teve um papel importante na redemocratização do país. Abriu espaço para a legitimidade dos partidos que viviam na “clandestinidade” e convocou a Assembleia Nacional Constituinte. Quer queira ou quer não alguns mais ferozes quanto à atuação da família Sarney, o político maranhense ficará na história como o homem que ajudou a acabar com o regime militar no Brasil, cujo sistema ele apoiou politicamente desde a sua implantação. Todo mundo muda de posição e ele mudou na hora certa, a bem do país.
Prato que comeu
A maioria dos políticos do Maranhão nasceu e cresceu graças ao senador Sarney. E a maioria virou adversário político tempos depois e passou a cuspir no prato que comeu, criticando o “velho” político maranhense. Alguns, como baratas tontas, foram e voltaram para os braços de Sarney. Outros conseguiram sobreviver como “inimigos” da família Sarney.
Ao contrário de alguns, eu revelo aqui que em 1980, graças a um bilhete do senador José Sarney, presidente do Congresso Nacional, ao então secretário de Saúde do Distrito Federal, o maranhense Jofran Frejat, eu consegui um bom emprego no Hospital de Sobradinho. Trabalhei lá por sete meses, pedi demissão e fui cursar jornalismo em Uberaba (MG). Fiquei lá por um ano e meio e depois concluí o curso em Brasília. Trabalhava um período no hospital (às vezes, até no período noturno) e nas horas vagas ia para o Congresso Nacional acompanhar as atividades das bancadas do Maranhão na Câmara e no Senado e enviar as notícias para O PROGRESSO e para as rádios da cidade, conforme expliquei lá no início da coluna. Lembro muito bem dos deputados federais (à época): João Alberto, Luís Rocha, Freitas Diniz e Cafeteira, entre outros.
Despedida
José Sarney se despediu na semana passada do Senado Federal e a partir de janeiro de 2015, após 50 anos, não exercerá mais mandato eletivo. Preferiu cuidar mais da saúde e dar mais atenção à Dona Marly e seus familiares.
Meu caro senador Sarney, obrigado por tudo e obrigado por sua participação ativa na redemocratização deste país. Não estou preocupado se vou desagradar algumas pessoas por estar aqui elogiando o político maranhense, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Não estou entrando no mérito administrativo em si. Apenas relatei o que convivi e vi de perto no dia a dia em Brasília de 1985 a 2010. Eu estava lá.
FELIZ
Neste momento em que você está lendo esta coluna, estou seguindo para a capital federal, para passar o Natal e o Ano Novo com meus filhos e netas. Um FELIZ NATAL a todos, com saúde e paz.
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