Sem o direito de ir e vir
Um absurdo. Um desrespeito. Uma brutalidade. Assim podemos definir o que vem ocorrendo no Pará há muitos anos e, especialmente, nos últimos meses, com a atitude do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ao fechar rodovias e não deixar ninguém passar, inclusive ambulâncias.
O sofrimento é geral e atinge crianças, jovens, adultos e idosos; pessoas com problemas de saúde e motoristas que transportam cargas perecíveis no sul e sudeste do Pará. O governo poderia tomar uma atitude mais rígida e o Congresso Nacional deveria aprovar um projeto para que quem bloqueasse rodovias com paus e pneus, impedindo a passagem de pessoas e veículos, fosse preso imediatamente.
Não sou contra os Sem Terra. Apenas peço respeito às pessoas. Estou vivendo na pele esta situação. Por que os trabalhadores sem terra não vão protestar em frente ao Incra em Marabá, em Belém ou em Brasília? Respeitem o direito das pessoas de ir e vir. É um direito constitucional.
Viagem
Cheguei de Brasília no voo da Gol no domingo à noite e na segunda-feira, às 8h30, peguei um confortável ônibus da Jam-Joy em Imperatriz com destino a Parauapebas (PA), onde moro atualmente. A viagem vinha tranquila até Marabá, onde almoçamos. Por volta de 14h30, já na BR-155, chegamos à vila Sororó, a 40 quilômetros de Marabá. Lá, a fila de caminhões, automóveis e ônibus já era bastante grande. Todo mundo esperando a boa vontade dos Sem-Terra em liberar a estrada. Até o início da tarde, quando enviei a coluna para o jornal, a rodovia ainda não havia sido liberada, pois dependeria de uma reunião de autoridades e lideranças do movimento por volta das 16h em Marabá.
Espera
Após uma longa espera, no final do dia a Polícia Rodoviária Federal informou que a rodovia não seria liberada na segunda-feira e pediu para que todas as pessoas fossem embora. Muita gente ficou lá mesmo na beira da estrada. Outras pessoas voltaram para Marabá para se abrigarem em hotéis, já que nas vilas Sororó e Monte Sinai, do lado de cá, isto é, no sentido Marabá-Parauapebas, já não havia mais água mineral nas lanchonetes e os lanches não eram suficientes para atender à demanda de motoristas e famílias que aguardavam a liberação da rodovia.
Eu mesmo dormi em Marabá e na terça-feira, logo após enviar a coluna para a redação, saí em busca de algum meio de transporte para chegar até a Parauapebas. O preço da passagem normal é R$ 25,00, mas motoristas de van estavam cobrando R$ 60,00 até Parauapebas, alegando que tinham que fazer um longo desvio por estrada de terra. Outras pessoas optaram, ainda na noite de segunda-feira, em viajar no trem da Vale.
Isto, repito, é uma verdadeira falta de respeito às pessoas que querem exercer seu direito de ir e vir. As autoridades precisam tomar uma providência para que essa violação aos direitos constitucionais não ocorra mais no Pará ou em qualquer outro lugar do Brasil.
Reivindicações
Segundo noticiou o G1-Pará, os manifestantes bloquearam a BR-155 com pedaços de madeira e formaram uma barreira humana em protesto pelo não cumprimento do acordo fechado entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e os trabalhadores em agosto deste ano, que previa melhoria nos acampamentos, estradas de acesso e créditos fundiários. O grupo diz que só irá liberar a rodovia se representantes do Incra ou do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) forem ao local negociar.
Agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) estão orientando os motoristas a seguirem por rotas alternativas. No último dia 19 de novembro, a rodovia foi interditada pelo MST pelo mesmo motivo.
Caderneta
Aproveitei a situação para conversar com motoristas e passageiros sobre a lamentável situação de esperar o desbloqueio da BR-155 entre Marabá e Redenção. (De Eldorado do Carajás para Parauapebas a estrada é a PA-275). Infelizmente, ao sair apressado para ouvir os agentes da Polícia Rodoviária Federal, acabei esquecendo minha caderneta na lanchonete onde estávamos sentados esperando a liberação da rodovia. Se eu conseguir recuperá-la, prometo contar as histórias numa matéria especial aqui em O PROGRESSO.
Carvalho
Lamento profundamente o assassinato do meu amigo Carvalho. Grande figura, gente boa. Convivemos em algumas reportagens, especialmente em Curionópolis e em Serra Pelada (PA). Que Deus te coloque num bom lugar, amigo, e dê força para sua família superar esta insuportável dor.
Boa semana a todos e até quarta-feira, com saúde e paz, sem bloqueio de rodovias.
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