Análise das eleições
As eleições do domingo passado mostraram bem que nem tudo está perdido – ou estava perdido – para alguns candidatos, a começar pelo próprio senador Aécio Neves (PSDB-MG), que em determinado momento achava que não chegaria ao segundo turno da eleição presidencial na disputa com Dilma Rousseff (PT). Após a morte do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na onda da comoção, a candidata Marina Silva (PSB) chegou a aparecer nas pesquisas até mesmo derrotando Dilma em um possível segundo turno. Teve até conhecidos meus e políticos mudando de lado, ou seja, para o lado de quem estava, àquela altura, subindo demais nas pesquisas. Os chamados oportunistas de plantão. Quebraram a cara, porque o 5 de outubro mostrou outra realidade concreta, apesar das últimas pesquisas de opinião pública deixarem bem claro que Aécio Neves estava subindo e que Marina estava caindo.
Mas não foi só o exemplo do candidato tucano, não. Podemos destacar aqui mais dois exemplos concretos e grandiosos: no Rio de Janeiro, as pesquisas indicavam que Luiz Fernando Pezão, do PMDB, disputaria o segundo turno com o ex-governador Antony Garotinho (PR), mas para a surpresa de todos quem surge no domingo? O Pastor Marcelo Crivella (PRB), legítimo representante da Igreja Universal do Reino de Deus, mostrando a força dos evangélicos. O outro exemplo é o do Rio Grande do Sul, quando a jornalista e senadora Ana Amélia Lemos chegou a aparecer em 1º lugar nas pesquisas de opinião pública, deixando para trás até mesmo o experiente e atual governador gaúcho Tarso Genro (pai da candidata do PSOL, Luciana Genro). Ao final, como quem não quer nada, quem aparece para disputar o segundo turno com Genro? O então candidato que aparecia em terceiro lugar nas pesquisas: José Ivo Sartori, do PMDB. E assim tivemos muitos outros exemplos nestas eleições, inclusive de candidatos a deputado federal ou a estadual que já se consideravam eleitos e, após a contagem dos votos, viram que esqueceram de um detalhe: combinar com o eleitor.
Injusto
Reconheço, entretanto, que em alguns aspectos a legislação eleitoral é falha quando se trata de um tal de quociente eleitoral. (Segundo a Wikipédia, Quociente eleitoral é, em conjunto com o quociente partidário e a distribuição das sobras, o método pelo qual se distribuem as cadeiras nas eleições proporcionais brasileiras - cargos de deputado federal, deputado estadual ou distrital e vereador. Este sistema é matematicamente equivalente aos métodos de d’Hondt e de Jefferson, sendo na verdade uma mistura desses dois métodos). Este danadinho já deixou muito político bom de voto na mão, isto é, na saudade. Vejamos mais um exemplo absurdo: em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Já houve casos em que o deputado Paulo Maluf, o famoso Enéas e na eleição passada o humorista Tiririca elegerem alguns deputados federais por eles, à época, tiveram mais de um milhão de votos cada. Agora, a história se repete com Celso Russomanno, que obteve 1.524.361 de votos e levou para a Câmara mais quatro companheiros do PRB, incluindo o cantor Sérgio Reis, que obteve apenas 0,22% dos votos, ou seja, 45.330 votos, e o ex-prefeito de Santos, Beto Mansur, que obteve somente 0,15% dos votos, ou seja, a preferência de 31.301 eleitores paulistas. Lembre-se: 31 mil, 45 mil, 60 mil votos, em se tratando de São Paulo é fichinha. O estado tem 70 deputados federais e o “caba” para se eleger precisa ser bom de voto e ter muitos, mas muitos votos. É lamentável que alguns candidatos obtiveram o dobro ou triplo do que Sérgio Reis e Beto Mansur e ficaram foram da lista de eleitos para a Câmara Federal. Tiririca elegeu dois deputados federais no PR. Eu pergunto: não seria mais justo eleger os mais votados, independente do tamanho do partido? Ou mesmo alterar esta lei com bastante antecedência do pleito eleitoral? Ficam as duas perguntas para quem for mais entendido no assunto responder.
Campeã de votos
Égua, fiquei impressionado com a deputada federal Manuela D’Ávila, do PCdoB gaúcho. Ela havia sido eleita com uma expressiva votação para a Câmara Federal há quatro anos, chegando inclusive a ser a mais votada proporcionalmente no Brasil, com quase 500 mil votos. Agora, a bela moça obteve mais de 222 mil votos para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Caramba. Vai ser boa de voto assim pra lá. Ah, Manuela é formada em Jornalismo.
Roberto Dinamite
É, depois de cumprir dois mandatos de deputado estadual, o atual presidente do Vasco, Roberto Dinamite, não conseguiu se eleger no Rio de Janeiro. Teve pouco voto e ficou de fora, ao contrário de Bebeto do Tetra, o baiano magrinho, que foi reeleito deputado estadual no Rio com uma expressiva votação.
Romário
Agora, por falar em jogador, Romário mostrou que não era só bom de bola, não. O baixinho é bom de voto. Há quatro anos, foi eleito deputado federal pelo PSB com uma grande votação. No domingo, obteve mais de quatro milhões de votos e foi eleito senador da República. E olha que era apenas uma vaga. Desbancou políticos experientes, com destaque para o ex-prefeito Cezar Maia. Vamos torcer que Romário cumpra bem seu papel de senador da República. Se continuar assim, o ex-craque da seleção brasileira vai acabar se elegendo prefeito do Rio de Janeiro e depois governador.
Cada uma...
Em eleição acontece cada uma: o candidato Aécio Neves ganhou em São Bernardo do Campo (SP) e o candidato de Lula, Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, amargou o terceiro lugar na disputa pelo Palácio dos Leões. Em compensação, o PT deu o troco em Minas Gerais, terra de Aécio Neves, e elegeu Fernando Pimentel o novo governador do estado logo no primeiro turno. Será se os mineiros têm alguma coisa contra o Aécio ou ele fez alguma coisa errada por lá?
Agora é tarde
Arrasado. Assim ficou o cantor e atua vice-prefeito de São Bernardo do Campo, Frank Aguiar (PMDB), ao saber que obteve apenas - digo, apenas - pouco mais de 26 mil votos como candidato a deputado federal. Ele alega que foi prejudicado na véspera da eleição com falsas denúncias de envolvimento com um traficante de drogas. Entendo, Frank, mas você foi comprar logo a casa onde o cara morava e para completar ainda foi indicar para o sujeito a compra de uma concessionária de veículos na Paraíba. Por que isso, meu caro cantor?
Vamos ser sinceros e realistas...
A imprensa e meio mundo de gente estão alastrando por todo canto do país que acabou a era da família Sarney no Maranhão; que a tacada de Flávio Dino foi feia em cima de Edison Lobão Filho, indicado pela família e que o grupo sarneysta enfraqueceu, etc., etc., e tal e tal. Agora, vamos ser bem francos, sinceros e realistas: se o nobre comunista Flávio Dino não fizer um bom governo nos próximos quatros anos, na outra eleição o grupo Sarney volta por cima da carne seca tranquilamente. Vamos tirar a água do fundo, mas sem quebrar o pote.
Boa semana a todos e até quarta-feira, com saúde e paz.
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