Lilia e o pai Júlio, no primeiro dia do reencontro em Parauapebas (PA) - Foto Lima Rodrigues
João Vilar (primo do “Seu” Júlio) e a esposa Josy, em Amapá do Maranhão - Foto Arquivo de família
Dona Raimunda, que mora em São Paulo, ficou muito feliz ao receber notícia do irmão Júlio após 48 anos - Foto Arquivo de família

Uma história emocionante

Localizados os irmãos, primos e tios do “Seu” Júlio no Maranhão e em Goiás

Final feliz completo para mais uma história que não levei nem 15 dias nas minhas investigações, mas obtive sucesso graças às redes sociais. Localizei a filha, um irmão, tios, primos e os sobrinhos do servente de pedreiro Júlio Saturnino da Silva, de 60 anos.

Primeiro localizei a filha dele, Lilia, em Breu Branco (PA), depois que a cunhada dela, Elisabethe, viu a história na página do Genilson Pereira, o “Japa”, que já havia compartilhado a matéria do meu Facebook, reconheceu o “Seu” Júlio e avisou para ela, em forma de pergunta. “Lilia, não é teu pai, não?”. Lilia, então, entrou em contato com o primo dela (por parte de mãe), Ezequiel Sousa, o “Izaac”, que também mora em Breu Branco, e este, por sua vez, ligou para mim e passou o contato da irmã dele, Viviane Sousa, que mora no bairro Cidade Jardim, em Parauapebas. Liguei para ela e fomos até a casa de “Seu” Júlio. De lá, a Viviane ligou para a Lilia, e pai e filha tiveram uma conversa emocionante.

Depois de localizada a filha, passei a trabalhar na localização dos tios, irmãos e dos primos de “Seu” Júlio no Maranhão. Publiquei a matéria em jornais e sites maranhenses, mas a descoberta ocorreu por um milagre e graças à existência das redes sociais, ou melhor, do Facebook.

Amapá do Maranhão

Na tarde de sexta-feira (12), a Lilia recebeu mensagens em seu WhatsApp de um cidadão do Maranhão, João Vilar, dizendo ser primo de “Seu” Júlio, mas que não o conhecia, porque quando ele foi embora há mais de 40 anos, era criança ainda. E ele chegou até ao meu face de forma inusitada.

Confira o relato do João Vilar, que é pequeno produtor rural em Amapá do Maranhão: “Com esse negócio de pandemia a gente quase não pode sair de casa. Tem um irmão do meu pai, que também é irmão do pai do Júlio, que foi embora quando eu nem era nascido ainda. Ele é conhecido por Zé Gilo. Tem outro irmão dele também conhecido por João Gilo. Aí eu disse vou já botar aqui no Facebook o nome Zé Gilo para ver se encontro alguém. Surgiram vários nomes, mas aí apareceu também a reportagem do Lima Rodrigues. Aí vi a história todinha que o repórter escreveu e lá dizia que o Júlio Saturnino da Silva procurava os primos João e José Gilo e os irmãos José de Ribamar e Bernardo. Aí eu disse: esse homem bem aqui é irmão do José de Ribamar que mora em Goiás, que é meu tio também, mas a gente nunca se viu, só se fala por telefone. Aí liguei para o José de Ribamar e perguntei se ele tinha um irmão chamado Júlio. Ele disse que sim, mas não o via há muito tempo”.

E neste caso a história bateu com a história contado pelo “Seu” Júlio na entrevista, que havia ido embora com o pai dele, Bento, com 8 anos de idade, após a separação dos pais no interior do Maranhão. A mãe ficara com os sete irmãos pequenos. Júlio era o mais velho.

Confira o final da declaração do João Vilar: “Ele me disse que não via o irmão há muito tempo. Disse que o irmão dele, Júlio, foi embora com o pai, Bento, quando ele tinha 8 anos, e nunca mais se viram. Aí o José de Ribamar falou com o sobrinho dele, Pedro, que mora em Tutóia, no Maranhão. O Pedro é filho de Mariana (já falecida), irmã de “Seu” Júlio. O jovem Pedro pesquisou e localizou a matéria e respondeu na postagem dizendo que era sobrinho do Júlio da Silva e colocou seu telefone para contato e acabou localizando você (a Lilia). Eu moro em Amapá do Maranhão, que fica aqui quase na divisão do Pará com o Maranhão. Foi isso”, relatou João Vilar em mensagem de áudio enviada para a sobrinha Lilia, que agora está em Belém acompanhando o tratamento do pai.

O pedreiro José de Ribamar, que mora em Goiânia, chorou muito ao saber notícia do irmão e mais ainda quando falou por telefone com “Seu” Júlio e com a sobrinha Lilia.

“Seu” Júlio já ficou sabendo que tem alguns tios vivos, que a irmã Raimunda mora em São Paulo e está bem, mas que, infelizmente, o irmão Osvaldo morreu em São Luís e a irmã Mariana morreu em Tutóia (MA).

A história

No final de maio, recebi uma mensagem de áudio da senhora Larissa Lima, dizendo que um cidadão estava sofrendo muito com câncer nos órgãos genitais e vivia sozinho ao lado de sua casa na 9ª Etapa do bairro Nova Carajás, em Parauapebas (PA). Ele havia mudado há poucos dias para o novo endereço, após ganhar uma casa popular de um programa da Prefeitura Municipal de Parauapebas. Ela e a mãe dela, dona Cecília, passaram a cuidar do vizinho com muito carinho. Limparam a casa dele, lavaram as panelas e os pratos, e fizeram almoço para ele. A partir da descoberta feita pela Larissa sobre o sofrimento do guerreiro Júlio, que achava que ia morrer sem ver os parentes, a vida dele começou a mudar. Primeiro, pelo o apoio das vizinhas e depois pela investigação que passei a fazer.

Omissão

Fui lá, fiz uma longa entrevista com o “Seu” Júlio, peguei todos os detalhes, gravei em áudio e vídeo, com o apoio da Larissa. Fiz a matéria e publiquei no meu Facebook, nas minhas redes sociais, em O Progresso, de Imperatriz (MA) e no site www.pebinhadeacucar.com.br. A repercussão foi imediata, mas ele omitiu uma informação importante. Negou que tivesse filhos, apesar da insistência do repórter, levando em conta que teve alguns relacionamentos amorosos.

TFD

Com a informação publicada, a senhora Telma Heringer, moradora do bairro Primavera, bem distante da casa de “Seu” Júlio, entrou em contato comigo e passou duas informações surpreendentes: que ele tinha uma filha, Lilia, que mora em Breu Branco (PA) e que ela estava fazendo o acompanhamento dele desde dezembro do ano passado junto ao programa Tratamento Fora do Domicílio (TFD), coordenado na cidade pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Parauapebas. Telma conheceu "Seu" Júlio em 2015 quando ele trabalhou na roça do pai dela, José Ary Alves, na Vila 400, às margens do Rio Parauapebas.

No mesmo dia, com várias pessoas compartilhando a matéria no meu Facebook, acabei localizando a filha dele, Lilia, e depois os primos, tios e sobrinhos no Maranhão e em Goiás, conforme dissemos na abertura da coluna.

Ex-mulher morreu

A sobrinha de “Seu” Júlio, a Viviane, informou que a ex-mulher dele, Raimunda Maria de Oliveira, morreu em Breu Branco (PA) no ano passado. “Ele é meu tio por parte da minha mãe. A mãe da Lilia, é irmã da minha mãe, morreu há seis meses vítima de câncer, mas não temos notícias dos parentes dele que moram no Maranhão”, disse Viviane. Lilia não tinha notícias do pai há quatro anos, mas continuava morando no mesmo lugar em Breu Branco. Apenas perdeu o número do celular do pai e ele também havia perdido o contato dela. Doente, vendendo picolé pelas ruas de Parauapebas, morando às vezes até de favor e sem dinheiro para ir a Breu Branco, Júlio Saturnino ficou isolado, sozinho no mundo e sofrendo bastante. Em todos os sentidos.

“Seu” Júlio já está em Belém para tratamento

A partir daí foi tudo rápido. Entramos em contato com a filha de “Seu” Júlio, ela falou com ele por telefone e disse que viria na semana seguinte para Parauapebas. E foi o que fez. Dia 5 de junho já estava em Parauapebas cuidando do pai. Ela e o pai viajaram no domingo de madrugada para Belém, chegaram à capital paraense por volta de 11h da manhã de segunda- feira, e  “Seu” Júlio foi consultado por um oncologista e estava só aguardando um leito disponível para ser internado e fazer o tratamento do câncer. A ambulância para levar o “Seu” Júlio consegui com o Danilo Montezani, da empresa Saúde e Vida e com o apoio da enfermeira Nhirly Brito, coordenadora da Diretoria de Regulação, Controle e Avaliação (Dirca), da secretaria Municipal de Saúde de Parauapebas.

Durante o período em que ficou em Parauapebas, "Seu" Júlio recebeu um atendimento especial do pessoal do CRAS do bairro Nova Carajás e da Unidade Básica de Saúde do bairro Novo Brasil. E, agora, com a filha ao lado dele e já se comunicando por telefone com o irmão José de Ribamar, em Goiânia, e com os sobrinhos, no Maranhão, a vida dele mudou muito. E para melhor. Ficará melhor ainda quando ele vencer o câncer. Vamos torcer.

Este foi o oitavo caso desvendado por mim desde dezembro de 2018. Obrigado meu Deus por tudo.