André Dusek vê uma das fotos que fez em Serra Pelada em 1980
O livro de André Dusek sobre Serra Pelada será lançado em 2020
Serra Pelada será tema de livro de André Dusek
 
O experiente e premiado fotógrafo André Dusek, que completa 63 anos de idade dia 15 de setembro, desembarcou na tarde de segunda-feira em Marabá (PA) e até esta sexta-feira desenvolve um trabalho fotográfico na Vila de Serra Pelada, no município de Curionópolis, no sudeste do Pará, onde na década de 1970 existiu o maior garimpo a céu aberto do mundo.  O garimpo enricou poucos garimpeiros e empobreceu a maioria. Muitos, inclusive, do Maranhão, que venderam o que tinham para adquirir barrancos em Serra Pelada e ao final ficaram endividados. Ou seja: não bamburram, como diziam quando os garimpeiros conquistavam algumas pepitas de ouro. Alguns morreram “na bala” e outros de malária. Não há estatística oficial sobre essas mortes. 
 
Primeira visita
 
Em 1980, André Dusek estava em Conceição do Araguaia (PA), quando recebeu o convite do então Major Curió para visitar Serra Pelada. Seria o primeiro fotógrafo de um jornal da chamada grande imprensa a visitar o garimpo. 
Veja o relato dele sobre a visita quando participou de uma exposição do projeto “Museu da Fotografia Documental”, promovida pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cultura:
 
FOTÓGRAFOS CONVIDADOS - ANDRE DUSEK
 
SERRA PELADA,  por André Dusek
 
 Voltando de uma reportagem, pelo Correio Braziliense, me encontrava num hotel em Conceição do Araguaia, no Pará, para dormir e pegar no dia seguinte o voo de volta para Brasília. Durante o jantar tive a sorte de conhecer o famoso Major Curió. Era o ano de 1980 e o Garimpo de Serra Pelada tinha acabado de desencadear uma intensa corrida do ouro. Curió, que era o comandante do garimpo me perguntou se eu gostaria de conhecer com ele a Serra Pelada. Até então só a TV Globo tinha feito uma reportagem e nenhum fotógrafo de jornal havia ido lá. O repórter que estava comigo tinha um compromisso inadiável em Brasília, mas eu não queria perder a grande chance de reportagem da minha vida. Entreguei meus filmes que eu tinha feito na reportagem e pedi pra ele avisar ao jornal que mudaria meu voo de volta e ia pra Serra Pelada. Um problema: eu só tinha 5 rolos de filmes Tri-X de 20 poses e mais um filme cromo Ektachrome de 36 poses. E lá fomos no dia seguinte de helicóptero, eu, o Curió, seu filho e o piloto, uma câmera Nikkormat e 136 fotos pra gastar Depois de duas horas de vôo o helicóptero avistou Serra Pelada. O piloto começou a dar várias voltas sobre o grande buraco da Serra Pelada me sugerindo que fotografasse e eu comecei a ficar mareado. Ao invés de fotografar vomitei o helicóptero todo por dentro. Depois de ter me restabelecido me toquei que eu era o primeiro repórter fotográfico de jornal a desembarcar no garimpo de Serra Pelada. Comecei a fotografar tudo, me controlando para não gastar de uma vez os 5 filmes preto e branco e o cromo. Desci no imenso buraco aonde o eram feitas as escavações e me deparei com os 25 mil homens que ali trabalhavam feito formigas. Entrevistei vários garimpeiros e segui com eles todo o processo, desde as escavações até a lavagem e também a venda do ouro numa agência precária da Caixa Econômica Federal que havia no local. Apesar de serem 25 mil garimpeiros, poucos policias militares e alguns agentes da Polícia federal, havia ordem no local. Eram proibidos bebidas alcoólicas, jogos e a entrada de mulheres e armas de fogo, Fiquei lá por dois dias e fiz uma das grandes reportagens. Quando voltei publiquei a reportagem na primeira página do Correio Braziliense por dois dias, fiz uma exposição na Aliança Francesa e ainda publiquei minhas fotos na revista francesa Photo Reporter. Convido vocês a curtirem as minhas fotos de Serra Pelada no Museu da Fotografia Documental.
 
Segunda visita em 1996
 
Depois, ele voltou a Serra Pelada em 1996 para fazer uma matéria para a revista Isto É. 
 
Terceira visita
 
Agora, pela terceira vez, após 39 anos da primeira visita, André Dusek retorna à Serra Pelada para fazer novos registros sobre a situação dos ex-garimpeiros com o objetivo de publicar um livro ano que vem sobre o que viu no garimpo mais famoso do mundo no chamado ANTES e DEPOIS.
O fotógrafo carioca-brasiliense, torcedor do Botafogo e irmão do cantor Eduardo Dusek, verá que Serra Pelada agora é uma vila com mais infraestrutura – escola, energia elétrica, água encanada, segurança, etc. E, claro, tentará encontrar algumas pessoas que ele fotografou há 39 anos. 
 
Veja o relato de André Dusek publicado no seu Facebook no  domingo, dia 4 de agosto sobre a viagem ao Pará:
 
“Fotografar o início do garimpo de Serra Pelada em 1980 foi uma oportunidade que marcou muito a minha vida profissional. Além de duas primeiras páginas no Correio Braziliense, as fotos do maior garimpo a céu aberto do mundo me proporcionaram diversas publicações em veículos internacionais inclusive na revista francesa Photo Reporter. Nesta semana, 39 anos depois, estou voltando a Serra Pelada para ver o que mudou no garimpo que nos anos 1980 retirou mais de 45 toneladas de ouro”.
 
Parceiro de grandes coberturas
 
Desejamos bom trabalho e ótimo retorno à Brasília para o amigo André Dusek. Lembrando que convivi em Brasília com o Dusek durante mais de 20 anos nas coberturas jornalísticas no Palácio do Planalto, Congresso Nacional, ministérios e Casa da Dinda, a ex-residência do ex-presidente Fernando Collor de Melo, hoje senador por Alagoas.
 
PERFIL
 
André Dusek formou-se em 1979 em Comunicação Social (Fotornalismo) pela Universidade de Brasília (UnB). Ele participou de coberturas jornalísticas dos principais fatos políticos e econômicos da Nação nos últimos 40 anos, além de coberturas internacionais.
Segundo o site “Portal dos Jornalistas”, André Dusek “integrou a equipe de fotógrafos do jornal O Estado de São Paulo, e mantém o site? Foto Coleguinhas? com fotografias de jornalistas e momentos de coberturas; trabalhou na revista  Fatos&Fotos, jornal Correio Braziliense, agência AGIL Fotojornalismo,  presidiu a União dos Fotógrafos de Brasília e foi subdiretor de fotografia da revista IstoÉ.
Ele já participou também de inúmeras exposições fotográficas, entre as quais, “Contrastes e Confrontos (1993- Rio de Janeiro – RJ), promovida pela Funarte;  Artigo sobre Bienal Fotojornalismo Brasileiro – 1990-1995 (1995, São Paulo), promovida pela Fundação Bienal de São Paulo; “Artigo sobre Coleção Pirelli/Masp de Fotografia (2002, São Paulo – SP). (Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural).
 
Lançamento
 
Com certeza, o livro de André Dusek sobre Serra Pelada ficará muito bonito e com imagens espetaculares. Aguardemos com muita ansiedade até o ano que vem. 
Ah, e vamos torcer para que ele venha lançar o livro em Serra Pelada, Curionópolis, Parauapebas e Marabá, no Pará, e em Imperatriz (MA), cidade com o maior número de garimpeiros de Serra Pelada. 
 
Bom trabalho, meu caro Dusek.