Este colunista entrevista o presidente da CAMPO, Emiliano Botelho, no estande da empresa na AgroBrasília
Embaixadores africanos assinaram protocolo de intenções com as diretorias da CAMPO e da EMATER-DF para desenvolver a agricultura em seus países

Empresa que já atuou no Maranhão produzirá alimentos na África

Hoje, 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, nada mais justo do que falar em agricultura sustentável e aumento da produção de alimentos com responsabilidade para contribuir com o fim da fome e da miséria no mundo.

ENTREVISTA – Emiliano Botelho, presidente da CAMPO

Em entrevista exclusiva ao programa Conexão Rural, que produzo e apresento na Rede TV de Parauapebas, o presidente da CAMPO, Emiliano Botelho, revelou como será o trabalho da empresa na África e destacou como começou o desenvolvimento agrícola da região de Balsas (MA)  e no Tocantins. A entrevista na TV irá ao ar no próximo domingo.

A CAMPO é uma empresa Nipo-Brasileira com uma história intimamente relacionada ao desenvolvimento do Cerrado Brasileiro. Sua trajetória tem início em 1978, com a implantação do maior programa de desenvolvimento agrícola do país, o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados – PRODECER. A partir desta grande experiência, a CAMPO se tornou referência dentro e fora do Brasil, levando a tecnologia desenvolvida para países da América do Sul e Central, Ásia e África, além de novos projetos em diversos estados brasileiros  

No início dos anos 2000, se organizou a CAMPO Holding permitindo a criação de três novas empresas: a Campo Consultoria e Agronegócios, Campo Biotecnologia Vegetal e Campo Tecnologia Agrícola e Ambiental.

Foi na gestão de Emiliano Pereira Botelho que houve a expansão nacional e internacional das experiências do PRODECER, além da criação dos laboratórios de biotecnologia, consultoria e prestação de serviços de análises químicas. Antes de presidir a CAMPO, Emiliano foi Diretor Superintendente da Cooperativa Agropecuária do Vale do Paracatu e Diretor Presidente da mesma; presidiu a Câmara Franco Brasileira de Cooperativismo; além da Cooperativa de Crédito Rural dos Produtores do Vale do Paracatu – CREDIPROVALE. É formado em Contabilidade na Escola de Comércio Inconfidência Mineira.

Confira trechos da entrevista com o empresário Emiliano Botelho, presidente da CAMPO:

É uma honra entrevistá-lo e contar um pouco de sua história de contribuição ao agronegócio brasileiro.

Obrigado. A imprensa brasileira tem contribuído muito nesse processo novo do agronegócio. Precisamos parar com essa ideia de que a agricultura é uma desgraça. A imprensa tem dado destaque para aquilo que é importante para o Brasil. Nós precisamos parar de jogar a agricultura para a sociedade como uma desgraça. Nós sabemos que agricultura é a solução desse país.

Surgimento da Campo

A CAMPO surgiu em 1978, com a importante participação do ex-ministro  da Agricultura, Alisson Paulinelli, que teve contribuição fundamental na implantação do PRODECER e até hoje faz parte da nossa diretoria. Implantamos 21 projetos em sete estados, sendo que no Maranhão e no Tocantins eu estava como presidente da empresa e tive a honra de negociar no Japão todas as diretrizes e os parâmetros dos dois projetos. Os demais estados foram: Minas Gerais, Goiás, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, totalizando quase 600 mil hectares de terras. O PRODECER teve um apoio muito grande do Japão. O efeito multiplicador disso tudo é imenso. Nós fomos para a região de Balsas e implantamos 50 mil hectares de agricultura. Dois anos depois, já tinha mais de 200 mil hectares em volta do primeiro projeto e aí criou-se dois parâmetros muito importantes: o lado japonês tinha como objetivo aumentar a bolsa de alimentos no mundo. Como eles importavam tudo, ninguém tinha contrato para vender diretamente nada para o Japão. Desde que aumentasse a bolsa de alimentos, o país ia comprar alimento mais barato. Isso cresceu. Era para durar 10 anos e durou 25 anos.

Em 1992 houve a necessidade de se expandir a empresa e criamos o Departamento de Biotecnologia que hoje está localizado dentro da Embrapa no Centro de Mandioca e Fruticultura na Bahia. E temos cinco laboratórios em Minas Gerais, e houve um crescimento mais na área ambiental do que na área agrícola e cresceu muito essa empresa de consultoria. Nos últimos três anos voltamos os olhos mais para a África. A África tem um potencial muito parecido com o do Brasil.  É fantástico. Tem terras vazias. A África sofre pela necessidade de alimentos. Nós detectamos que o africano não come proteína animal ou come muito pouco. A Nigéria, por exemplo, que tem 2 milhões de habitantes, consome 900 gramas per capita de frango. No Brasil, isso chega a 40 quilos.  Para atingir 2 quilos, que é a média da África, a Nigéria tem que implantar 2 milhões de hectares de soja e de milho. Todo esse processo o Japão tem interesse em ajudar.

Segundo a FAO (A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, uma das agências da ONU, que lidera esforços para a erradicação da fome e combate à pobreza) nos próximos 15 anos temos que aumentar 820 milhões de toneladas de alimentos na cesta básica. A população vai triplicar em 20 anos. Espera-se que o Brasil faça 40% dessas 820 milhões de toneladas. Isso é mais do que o dobro do que o Brasil produz hoje.

Nós não temos dúvidas hoje que a África será esse grande ambiente, porque a não ser o Brasil, você só tem a África. Estados Unidos já plantou o que tinha que plantar. A Europa e a Ásia não têm nada novo. Mais tenho certeza absoluta que a África será a nossa redenção.

O senhor recebeu a visita de embaixadores africanos no estande da Campo durante a AgroBrasília. Qual foi o objetivo?

Há uma grande dificuldade na África na produção de alimentos, principalmente na extensão rural para o pequeno produtor. Nós assinamos um protocolo de intenções junto com a Emater-DF, que tem potencial para nos ajudar muito, especialmente na área de piscicultura e programas para o pequeno produtor, porque podemos, acredito que não devemos ir para a África ocupar a terra. Nós temos que integrar a população e trazer benefícios para aquela população dentro desse processo. E claro que numa escola muito menor isso aconteceu em Balsas, no Maranhão quando implantamos o projeto PRODECER lá na região. Quando chegamos lá, não tínhamos tratoristas e operadores de colheitadeiras. Com a ajuda do Senar (Serviço Nacional de Aprendizado Rural)  treinamos muita gente e foi um sucesso. Um dos projetos mais produtivos que a CAMPO implantou foi o de Balsas. Isso abriu outros espaços. Além desse desenvolvimento agrícola, gosto de falar disso, o programa contribuiu muito para o desenvolvimento regional. Veja o caso de Lucas do Rio Verde (MT) e Luiz Eduardo Magalhães (BA) e Cristalina (GO) e minha cidade, Paracatu (MG). Tudo isso teve uma transformação muito grande depois do programa.  Lucas do Rio Verde tinha 3 mil habitantes e nem tinha hotel na cidade. Hoje, a cidade tornou-se um modelo para o Brasil e tem uma população de quase 100 mil habitantes com jovens produtores. É uma segunda geração de médicos e engenheiros agrônomos e de outras profissões. Tudo isso contribuiu bastante para o desenvolvimento do Brasil. Hoje, o Brasil é o 2º maior país exportador do mundo

Além do Maranhão, o senhor conhece bem o Pará. Como foi a passagem da CAMPO pelo Pará?

Nós atuamos em Marabá, Redenção, Dom Elizeu e Paragominas para promover a agricultura e gerar carga para a Ferrovia Norte Sul e para o Porto de Itaqui, em São Luís. Fizemos isso durante 25 anos. A Vale mantém esse programa desse 1992. Junto com a CAMPO pelos bons resultados que o programa apresentou, o Porto de Itaqui está praticamente saturado pela eficiência desse trabalho que foi feito ao longo do Tocantins e do sul do Pará. Eu tenho o sul do Pará como um sonho. Tenho um amigo – Ricardo Carneiro, de Uberlândia (MG), que cria Senepol no sul do Pará. Ali vai ser o foco. Vamos fazer um leilão naquela região.

Fizemos uma reunião com o presidente da Faepa, Carlos Xavier,  com a presença dos presidentes dos 121 sindicatos rurais do estado  e apresentamos um programa de recuperação das margens do Lago de Tucuruí, incluindo projetos nas áreas de saúde, educação e manejo florestal. Já encaminhamos a solicitação de financiamento ao BNDES. O governador Helder Barbalho acompanhou a gente ao Rio e deu total apoio. Nós vamos transformar o Lago de Tucuruí, a exemplo do que foi feito em Itaipu (PR). Quando terminar essa negociação com BNDES vamos cumprir nossa missão de mudar a condição de vida daquela gente e o desenvolvimento social naquela região melhorará consideravelmente.

Desenvolvimento

Além de transpor o obstáculo de fazer da terra do Cerrado um celeiro extremamente produtivo, o PRODECER trouxe desenvolvimento a regiões antes isoladas pela pobreza e qualidade de vida aos pequenos agricultores e suas famílias. A coordenação do programa deu tão certo que a empresa expandiu seus horizontes.

Sustentabilidade

A empresa cresceu, se estabeleceu no mercado, conquistou grandes clientes e teve sempre em mente a busca pelo desenvolvimento sustentável, através de ações responsáveis. Desde o PRODECER a Campo alertou os agricultores para todo tipo de danos que poderiam estar causando à natureza, manteve 20% da área total como reserva legal, além de utilizar métodos como curvas de nível, a rotação de culturas e a conservação dos solos pelo sistema de micro bacias hidrográficas, propiciando a utilização das terras por várias gerações. (Com informações do site oficial da CAMPO, que tem sede em Brasília).