Este colunista entrevista o ex-deputado e ex-senador Francisco Escórcio em sua chácara no Park Way, perto de Taguatinga (DF)
Chiquinho Escórcio disse que a chácara tem 20 mil metros quadrados e mais 10 mil metros quadrados de área verde
Após a entrevista, o empresário do ramo imobiliário se transforma no meia esquerda do Time Azul

Política

Chiquinho Escórcio: “Houve um desmantelo administrativo dentro do nosso grupo. Todos nós erramos”.

O ex-deputado e ex-senador e empresário do ramo imobiliário Chiquinho Escórcio (MDB) me recebeu no sábado (23) em sua chácara de 20 mil metros quadrados, com 10 mil metros quadrados de área verde, na MSPW 5, Conjunto 6, lote 4, Avenida Vereda da Cruz, no chamado Park Way, no Distrito Federal, onde há mais de 30 anos promove descontraídas partidas de futebol na quarta-feira à noite e no sábado à tarde, para conversamos sobre sua vida e sobre política.

Ele disse que não guarda mágoa de ninguém, mas fez desabafos sinceros. Selecionei alguns e publico hoje na coluna.

O que houve com o Grupo Sarney para sair bastante derrotado nas últimas eleições?

“Houve um desmantelo administrativo dentro do grupo. Todos nós erramos. Eu tinha voz, tinha poder para impor meu pensamento, mas acho que eu errei em não puder fazer nada. Só fazendo tudo errado. Acostumamos só a dizer amém, amém, amém. Fui aceitando a situação porque não quis decepcionar mais o grupo.

E quem erou foi a ex-governadora Roseana Sarney?

A governadora Roseana errou quando disse que não ia mais ser política. (Roseana Sarney renunciou ao mandato em 10 de dezembro de 2014, alegando problemas de saúde e o presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, Arnaldo melo, assumiu o governo interinamente por 21 dias).  Ela era a líder política de todo o grupo e poderia pelo menos ter sido candidata ao Senado Federal, porque ela nos deixou na mão de maneira errada ao escolher o Luiz Fernando, que é meu amigo particular, para ser o candidato do grupo ao governo do Maranhão, mas ele também nos abandonou e tivermos que buscar o Edinho Lobão num leito de um hospital. Mas sem poder, sem a caneta na mão, como é que iríamos impor à população os nomes de Roseana Sarney e de Zequinha Sarney (candidato ao Senado), após a Roseana dizer que largaria a política e volta quatro anos depois se declarando candidata? Aí já foi tarde demais.

A governadora errou. Eu falo isso ela. Ela sabe. Errou e muito. Eu fiz tudo, eu briguei, apanhei, fui chamado de louco, para ela chegar ao Palácio dos Leões (Roseana assumiu o terceiro mandato de governadora em 16 abril de 2009, após o então governador Jackson Lago ter tido o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral) e ela, quando estava com a caneta na mão errou em não ter dito: olha, eu tenho um candidato e preciso dar uma importância maior a ele, que é o Chiquinho Escórcio. Não fez isso.

Ao ser perguntado se o ex-presidente José Sarney errou ao decidir ficar na política do Amapá como senador e não voltar para retomar o controle do grupo político que tem o MDB como principal partido, Chiquinho Escórcio não comenta diretamente sobre a pergunta, mas deixa transparecer na resposta que se Sarney tivesse voltado a tempo a situação seria outra.

O maior cabeça do nosso grupo é o presidente Sarney. Não tenho dúvida disso. Ele é privilegiado. É amável, competente e tem muitas virtudes, mas tem um defeito que todos nós vamos ter: ficou velho. Nosso grupo não se renovou. Não abria para quem estava chegando. Faltou renovação. Fui aguerrido, lutei e meu grupo não fez nada por mim, mas eu tenho respeito para com as pessoas que fazem parte do grupo e tenho amor por elas, mas faltou renovação.

“Não tenho mágoas”.

“Faltou ao Chiquinho ser mais contundente e exigir do grupo mais respeito.

Fui uma pessoa dura, aguerrida, com capacidade de lutar pelo grupo, mas o grupo não fez nada por mim. Não tenho mágoas, mas tenho respeito por todas as pessoas do grupo, mas faltou uma maior determinação que pudesse dar lugar para os mais novos”.

“Fiz muito por Imperatriz e região”

“Fiz muito por Imperatriz e região. Me empenhei por Imperatriz e pela região tocantina. Briguei muito pela região, mas sabia que a cidade tinha compromissos com os ex-prefeitos Ildon Marques, Sebastião Madeira, Pastor Porto, além da candidata Curada. Então, enquanto eu estava buscando recursos para os municípios, esses candidatos estavam fazendo política na região tocantina. Mas mesmo assim, fui sincero e tive 6.800 votos na cidade. Briguei muito pela região e por Imperatriz

Por causa dos resultados das eleições de 2018 e pelo o que aconteceu com o Grupo Sarney, o senhor não mais se candidatará a um cargo eletivo e sai da política?

Sim. Eu acho que sim. Não quero dizer dessa água não beberei. Mas do jeito que as coisas estão eu não tenho disposição a fazer isso (voltar a disputar cargos. Vou fazer 70 anos em julho. Meu amigo, construí um patrimônio muito bom ao longo da minha vida com muito trabalho e empenho, nunca me envolvi em falcatrua, não respondo a nenhum processo, sou limpo, então prefiro cuidar das minhas coisas e dar atenção para minha família.

A história de Chiquinho Escórcio

Francisco Luiz Escórcio Lima nasceu em 18 de julho de 1949 em São Luís (MA), filho de uma lavadeira (Helena Escórcio) e um servente da Escola Técnica Federal do Maranhão (Francisco Vieira) e teve mais 11 irmãos. (Seis morreram no Maranhão). Ainda garoto, sua mãe conseguiu a transferência de seu pai para Brasília e a família foi para a capital da República e direto para a cidade satélite de Taguatinga, que já se destacava como a mais pujante do Distrito Federal. Depois, moraram em um apartamento funcional na SQS 409 (no Plano Piloto de Brasília). Ele tinha de 13 para 14 anos. E na capital fez o 3º ano ginasial. Algum tempo depois a família consegue comprar um apartamento maior na 416 sul. O jovem Chiquinho fez um curso técnico de edificações e mais tarde conseguiu fazer os cursos de Matemática e de Administração de Empresas.

A partir daí, cada um partiu para sua vida própria. E Chiquinho resolveu se casar. “Me casei com uma pessoa maravilhosa há 45 anos, uma goiana de Itaguatins (hoje Tocantins), cuja família é de Imperatriz. O nome dela é Alba Leite Nunes Lima, técnica em edificações e advogada”, disse o ex-deputado, para em seguida fazer um agradecimento especial:  “Ela me ajudou muito na trajetória da minha vida profissional e empresarial. Com ela, fui bem sucedido, trabalhei na área de construção civil, fui auxiliar de engenheiro numa construtora, fui subgerente e gerente de uma multinacional que trabalhava com forro, parede, divisórias removíveis, móveis para escritórios  e só tinha dois ou três concorrentes no Brasil”.

A Paulista

Em 1976 fundei a empresa A Paulista e cheguei a ter 580 funcionários. “Fiz as principais obras de reformas em Brasília: no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional, em ministérios, na UnB e tantos outros locais. A empresa funcionou até 2004, e a partir daquele ano ela transformou-se numa espécie de imobiliária e administra os imóveis que temos em Taguatinga (a maior cidade satélite do Distrito Federal)”, a onde ele mora até hoje em uma confortável residência.

Chicobol

Em 1988 Chiquinho comprou o terreno de 20 mil metros quadrados, com mais 10 mil metros quadrados de área verde, a onde ele fundou o Chicobol, um espaço esportivo que tem futebol toda quarta-feira às 20h e todo sábado a partir das 16h. Por lá já passaram Romário (hoje senador pelo Rio de Janeiro); Popó (ex-lutador e ex-deputado federal), o deputado Tiririca e políticos de peso como os presidentes José Sarney, Itamar Franco, Dilma Rousseff e Lula. Só o Michel Temer não foi por lá. Além de piscina e um ótimo espaço para uso de sua família e suítes em que ele hospedava prefeitos e vereadores maranhenses que vinham para Brasília, o espaço do belo campo de futebol (com medidas padrões) tem uma cozinha, banheiros masculino (com vestiário para os jogadores) e feminino, um belo e os jogos são apitados por arbitragens da Federação Brasiliense de Futebol.

Chiquinho fez questão de mostrar as fotos que registram as passagens de personalidades pelo Chicobol. Quem estava programada para fazer uma visita ao Chicobol no sábado passado, por exemplo, era a ex-jogadora de vôlei e atual senadora pelo Distrito Federal, Leila do Vôlei. A visita ficou para depois do carnaval. Uma camiseta com o nome dela já foi até confeccionada.

Enquanto conversava comigo, o ex-senador Chiquinho Escórcio recebia ligações e mensagens de gente importante do atual governo federal. E a todo momento chegava um atleta e dizia: “Boa tarde Seu Chico”. Os jogadores do Chicobol são empresários bem sucedidos, funcionários públicos, advogados, médicos, entre outros profissionais liberais. Após o futebol, é servida uma janta maravilhosa feita por uma experiente cozinheira. No sábado, o cardápio foi rabada e frango assado.

Ponta Esquerda

Ao 69 anos de idade, o ex-deputado, torcedor do Maranhão Atlético Clube (MAC), o tradicional clube maranhense fundado em 1932, e do Corinthians (SP)  atua com a camisa 10 pela meia esquerda e às vezes arrisca no meio de campo. “Ele não costuma marcar, mas dá boas assistências para os companheiros fazer gols”, disse o Engenheiro de Manutenção Fernando Bonfim, que deixou o campo para a entrada de Chiquinho Escórcio na partida realizada no sábado passado entre o Time Vermelho e o Time Azul.

Filha

Chiquinho Escórcio e Alba Leite têm uma única filha: a advogada Juliana Nunes Escórcio Lima, mãe do Luiz Felipe, 16 anos, que acaba de chegar dos Estados Unidos, e do João Gabriel, de um ano e quatro meses.

Senador Alexandre Costa

O maranhense Chiquinho Escórcio se aproximou do então senador biônico pelo Maranhão Alexandre Costa (Arena) em 1979  por uma causa de uma nota fiscal que ele tinha para receber do Senado Federal. Alexandre Costa era o primeiro secretário do Senado, uma espécie de prefeito da casa. “Eu vivia fazendo obras, mas não recebia, aí resolvi pedir ajuda para o senador Alexandre Costa. Ele me ajudou a receber e foi um misto de pai, de irmão, um grande companheiro e foi tudo na minha vida. Felizmente tive a dificuldade, mas encontrei um pai. Ele até me chamou para trabalhar no Senado, já que naquela época não era exigido concurso (só a partir da Constituição de 1988 é que o concurso passou a ser obrigatório no serviço público). Mas eu não quis trabalhar no Senado, para não largar as minhas empresas, mas fiquei auxiliando o senador Alexandre Costa”.

Experiência política

Chiquinho tinha experiência na política no Distrito Federal. Havia sido vice-presidente da Associação Comercial de Taguatinga  e presidente da União das Forças políticas de Taguatinga e Conselheiro da Associação Comercial do Distrito Federal. “Cheguei a ser convidado para ser administrador de Taguatinga, mas o senador Alexandre Costa não deixou. Eu era muito ligado a ele”, lembra o ex-deputado.

Chiquinho Escórcio foi o coordenador da eleição de Alexandre Costa para o Senado no Maranhão. Bello Parga foi o primeiro suplente e Chiquinho o segundo suplente e assumiu o mandato no Senado em 1996. Depois ele foi assessor de Alexandre num ministério e secretário Executivo no Ministério da Integração Nacional.

Mais tarde assumiu boa parte de mandato de deputado federal no lugar de Clóvis Fecury, que havia tirado licença para tratar de assuntos particulares. Em 2010 foi nomeado pela então governadora Roseana Sarney como Chefe da Representação do Governo do Maranhão em Brasília (2010-2011). Em 2015 foi assessor especial da presidente Dilma Rousseff e do presidente Michel Temer, para quem se reportava diretamente.

Nas eleições de 2014 tentou voltar à Câmara, mas apesar de ter tido mais votos do que outros seis candidatos a deputado federal da coligação, não se elegeu porque estava num partido considerado grande e não atingiu o coeficiente eleitoral suficiente, ou seja, eram necessários mais votos para conquistar a vaga.

Boa semana, bom carnaval, brinque com responsabilidade e beba com moderação e até depois do carnaval com saúde e paz.