Este colunista e o cineasta Victor Lopes em Curionópolis

“Eu acho que a mecanização do garimpo de Serra Pelada (PA) foi importante. Só espero que essa distribuição dos dividendos seja justa por parte de todos os envolvidos, seja da empresa, seja da cooperativa, seja dos garimpeiros em geral para que esse dinheiro seja distribuído com justiça e que a justiça seja feita com esse sonho e com essa luta maravilhosa desses heróis brasileiros garimpeiros de Serra Pelada”. A declaração foi feita pelo cineasta Victor Lopes (fotos), diretor do documentário “Serra Pelada – A lenda da Montanha do Ouro”, em entrevista exclusiva.
O diretor dos documentários “Língua – Vidas em Português” e “Eliezer Batista – O engenheiro do Brasil”, passou alguns dias na região de Serra Pelada para concluir um documentário sobre o garimpo. O diretor, que recentemente dirigiu o longa de ficção “Agamenon – O repórter”, foi ao antigo garimpo para filmar as últimas imagens para o seu mais recente documentário que conta a epopeia do garimpo e toda sua trajetória até os dias atuais.
Segundo o diretor, há mais de 9 anos o filme vem sendo construído e agora está fazendo as últimas imagens para o fechamento e lançamento ainda este ano. Participam da produção em Parauapebas, Ivan Oliveira, do Labirinto Cinema Clube, e fazendo a produção técnica a equipe da HD Produções com a direção de fotografia. Confira a entrevista exclusiva com o cineasta Victor Lopes, feita no domingo, em plena Assembleia Geral Ordinária da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), realizada na Escola de Ensino Médio Governador Dr. Almir Gabriel, em Curionópolis (PA), quando foi eleita a nova diretoria da cooperativa, tendo à frente o presidente Gessé Simão.

Victor, você está produzindo um documentário sobre Serra Pelada. Há quanto tempo ele está sendo feito?
Olha, estou fazendo há mais de 9 anos. Eu comecei a filmar em 2002 e agora estou aqui finalizando o filme que será lançado no segundo semestre de 2012. São 9 nove anos de trabalho, da maneira que eu posso, com muita força para contar esta grande história e a luta de todos esses homens que fazem parte história que encanta o mundo que é Serra Pelada.

Você documenta desde a época do garimpo a Céu Aberto?
É. O documentário apresenta imagens desde o início, desde o garimpo a céu aberto. Tenho várias imagens, inclusive da Grota Rica (onde surgiu o garimpo), da Vale do Rio Doce da época, então a gente mostra a história de Serra Pelada desde o início. Na verdade, desde os primórdios da descoberta até o dia de hoje. Vamos ver se a gente tem um final feliz.

Foi uma coincidência você concluir o filme no dia da reeleição de Gessé Simão à frente da Coomigasp ou já estava programado?
Foi tudo pensado. A gente queria concluir o filme nesse momento em que a mina está prestes a entrar em operação e queríamos mostrar esse momento dos votos, além de mostrar o poder de organização, de força dos garimpeiros e das conquistas, porque nessa hora a gente sabe que está todo mundo junto. A gente tem encontrado muitos garimpeiros que participaram do filme e sempre é um momento marcante para se fazer a marcação do tempo. Então eu resolvi vir nessa eleição e registrar o dia a dia das pessoas que moram em Serra Pelada; da questão das indenizações e das remoções das casas e, claro, as coisas que envolvem o contrato e a operação da Colossus, para a gente ver se chega ao final dessa história. (A Colossus é uma mineradora canadense que fechou parceria com a Coomigasp para exploração mecanizada do garimpo de Serra Pelada. A sociedade prevê 75% dos lucros para a Colossus e 25% para os garimpeiros. A empresa já investiu mais de R$ 240 milhões na nova Mina).

Paralelamente a este filme, você já fez outro documentário sobre mineração que trata do ex-presidente da Vale, Eliezer Batista...
Isso. Eu acabei fazendo um filme por ironia do destino sobre Eliezer Batista, que é o pai do Eike Batista (o homem mais rico do Brasil e o oitavo do mundo), que era o presidente da Vale à época do garimpo. Então eu tenho histórias muito fortes também do lado de lá, da Vale, e o próprio Eliezer Batista dá depoimento no filme sobre indenizações e outros aspectos da relação da empresa com o Garimpo.

Hoje, o garimpo está quase produzindo. Em no máximo um ano e meio os garimpeiros vão começar a receber os dividendos. Essa mecanização foi importante?
Eu acho que foi importante. Só espero que essa distribuição seja justa, seja leal e tenha a ótica da justiça na hora da distribuição dos dividendos por parte de todos os envolvidos, seja da empresa, seja da cooperativa, seja dos garimpeiros em geral e que a justiça seja feita com esse sonho e com essa luta maravilhosa desses heróis brasileiros garimpeiros de Serra Pelada.

E o filme Agamenon, o repórter, também está fazendo sucesso...
É, o Agamenon, que eu também fiz, é um filme menos sério. Mas Serra Pelada é minha volta ao cinema sério, no cinema balizado numa história que é muito importante para todos nós.