Lição da vida me ensina que "quem mais faz menos merece"; vejo também que "uns fazem e outros merecem". É como temos visto por aí. Digo assim para lembrar JOSÉ PEREIRA DE OLIVEIRA, o VELHO OLIVEIRA. Velho Oliveira era um Pernambucano, chegou por aqui em meados da década de 50. Teve família e fihos mas divergiu dos seus. Plantava no seu ofício de "calheiro" - de fazer calhas de zinco para os telhados desta velha cidade. Ao que se tem notícia era sozinho, na terceira idade. Exercia o seu ofício, no puro artesanato, no ferro frio, no suor do rosto, nas mãos de um mestre, na qualidade e empenho de um profissional. Valores que os transmitiu a outras gerações.
O seu ofício não era de fundo de quintal - era dentro casa mesmo! Qual um sultão no deserto, VELHO OLIVEIRA era solitário e sua oficina, na beira da Br-14 que depois virou Avenida Dorgival Pinheiro, no setor do Entroncamento. Seus ferros e ferramentas e o lixo metálico era tudo junto, tudo amontoado; qual um porão dentro da mesma casa, onde ali todos "conviviam" juntos.
VELHO OLIVEIRA, sozinho, era um profissional em tempo inteiro - dia e noite noite e dia, dentro daquela casa escura, mal iluminada, vigiada por um viraa-lata, de um tipo sem quintal, onde ali tudo se misturava. E como profissional na sua modesta arte em calha-de-zinco, prestou relevantes e inestimáveis serviços a esta cidade. O nosso escritório assentado no mesmo lugar faz 37 anos, até hoje é servido pelo serviços de encalhamento das quatro laterais, prestados pelo VELHO OLIVEIRA.
Solitário, o velho sultão veio de arranjar uma companheira "free lance". E ensinou o ofício aos seus fihos e aos irmãos da companheira, estes que depois ensinaram a filhos e netos - de tal sorte assim que hoje existe uma plêiade que herdou e sobrevive da cepa do VELHO OLIVEIRA. Hoje, VELHO OLIVEIRA ainda que nas sombras do passado e dos telhados por aí; nas infiltrações preocupantes do inverso ou na mansidão despreocupada do verão - é um LEGADO que a velha Imperosa de GUMERCINDO MILHOMEM e GUILHERME CORTEZ esqueceu. Ou dele nem mesmo nunca se lembrou.
E AGORA JOSÉ?
O cara tava com tudo e tava prosa. Mandato nas costas, microfone nas mãos e no ar. E o cara enchia a bola do Prefeito em suas ações. Vixe! Era Deus no céu o Prefeito cá no chão. E o cara ali, juntinho, na base aliada, servindo de bandeja ao patrão. Tapinhas nas costas, sorrisinhos escafaçados e louvaminhas derramando pelo chão que é isso que faz a política e o cala-boca! E a gente ali, nas gerais só olhando o jogo correr e a água escorrer. Aí o mundo deu voltas - que bicho besta é o mundo para dar voltas - foi quando o cara, sevil da ocasião, filho e cria da louvação crente que chegaria lá para o "n" mandato e... o povo disse não. E agora José? Agora?! Agora que faltou terra nesse teu chão, sim porque a esse tempo dourado de outrora, ignoravas à terra e ao chão porque vivias voando em tempos de louvação...
VIRA ESSA TUA BOCA PRÁ LÁ...
Corria o ano de 1994 (faz 19 anos) quando o Brasil adotou sua nova moeda - O REAL. Primeiro houve aquele breve período da URV, uma espécie de "transição" para o ingresso do ciclo da nova moeda - uma inédita revolução na economia brasileira, quebrando na espinha dorsal o gigante de uma desastrosa inflação! Um novo paradigma para a nossa cultura capitalista.
E então, naquela transição, ainda posso lembrar quando alguém disse uma frase: "isto aqui vai virar um pais de roubos e assaltos; de ladrões e assaltantes". Foi quando outra voz replicou: "vira essa tua boca prá lá". E eu, como sempre nas gerais, ainda lembrando do ataque e do contra-ataque, pus-me a observar sobre aquela troca de expressões e a previsão desse mundo e submundo de assaltos e assaltantes. E venho observando essa trajetória ao longo do tempo. Não deu outra! É o que estamos vendo.
A JOVEM GUARDA (do professor e escritor Carlos Brito)
Domingo passado, leio em O PROGRESSO sobre a Jovem Guarda do escritor e professor Carlos Brito que o leio, inclusive, para ver até aonde é capaz de chegar. E Brito cita cantores e canções, trechos e articulações do musical que marcou a si e a geração de um tempo - tal a dele assim com a minha; afinal sou filho e cria e guardião das lembranças e das ações e canções da Jovem Guarda.
Cultivo a Jovem guarda porque lá ficaram os meus passos, os meus rastros, a minha juventude, os meus devaneios. Gosto da Jovem Guarda porque lá ficou a rua em que eu morava, a moça que eu amava, a rosa que se guardava. Amo a Jovem Guarda porque ela foi a fruta caída ao chão; o verso pronto e o refrão. Foi alegria, sensação, foi nostalgia, foi a noite foi o dia, um tempo em que se vivia. E foi lá em que ficaram os meus riscos e rabiscos, cadernos, recados, bilhete, cartas, canetas, retratatos, anel e cordão. Ficou o primeiro emprego, sonhos, ideais minhas vãs aspirações. Lá ficaram os os meus medos, minhas interrogações, ficou o meu sorriso e o sorriso dela - encontros, desencontos e emoções, minhas santas tentações. Ficou o sofá e a janela; ficou aquela chuva fina, a parada de ônibus, a canção de Renato e a lembrança dela.
Relembro e revivo musicais da jovem guarda, porque lá ficaram os meus anos dourados; como ficaram os inocentes e saudáveis bailes e embalos de sábado à noite, em casas de família, na minha velha Ilha-capital, do meu sagrado tempo e templo colegial, numa época em que a minha juventude não fumava, nem cheirava, não desbundava nem roubava mas que ainda assim carregava um pecado que se multiplica até hoje: namorava em pé... deitado... do lado... suado e sem medo de ser feliz.
Meu caro Brito, a gente passa um pelo outro pelas ruas da vida e você não me conhece mas eu, ainda que à distância, ainda que sem convívio, de você tenho referência e o distingo entre os demais, tanto que o leio para ver até aonde é capaz de chegar. E, se não temos nenhum relacionamento social, mas a JOVEM GUARDA, pelo visto é ponto de convergência entre a gente. Saudações...
* Viegas questiona o social
Edição Nº 14684
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