Na edição de domingo passado, publiquei neste espaço, a meu modo uma "ode" - qual um hino - uma declaração de amor à JOVEM GUARDA, esse movimento musical que marcou a juventude da juventude do meu tempo. Achei pouco e resolvi "remasterizar o texto", dizer mais e rasgar os meus segredos que os publiquei no programa CLUBE DA SAUDADE (Mirante/AM, oito em ponto de domingo) no espaço cativo em que assino a PÁGINA DE SAUDADE, com o "TEMA PARA A JOVEM GUARDA". E então, vamos nessa.
"Hoje, mais uma vez, o instinto e a razão me levam a viver e a reviver a JOVEM GUARDA - a música de um tempo - daquele meu velho e saudoso tempo. Cultivo a Jovem guarda porque lá ficaram os meus passos, os meus rastros, a minha juventude, gana, garra - os meus devaneios. Gosto da Jovem Guarda porque lá ficou a rua em que eu morava, a moça que eu amava, a lição que eu estudava. Lá ficaram os meus anseios. Amo a Jovem Guarda porque ela foi o prato à mesa, a canção e a beleza; a fruta caída ao chão; o verso pronto e o refrão. Foi alegria, sensação, foi nostalgia; foi a noite e foi o dia! Um tempo em que a gente sentia na pele e na alma a música que a gente ouvia!!!
Relembro e revivo os musicais da jovem guarda, porque lá ficaram os meus anos dourados, sentimentos guardados; como ficaram os inocentes e saudáveis bailes e embalos de sábado à noite, em casas de família, na minha velha Ilha-capital, do meu sagrado tempo e templo colegial, numa época em que a minha juventude não fumava, nem cheirava, não desbundava nem roubava mas que ainda assim carregava um pecado que se multiplicava: namorava em pé... deitado... do lado... no perigo e a um "triz" - no sufoco e sem medo de ser feliz.
E foi lá na JOVEM GUARDA em que ficaram os meus riscos e rabiscos, cadernos, recados, bilhetes, cartas, canetas, retratos, anel e cordão - essas coisas de uma velha paixão. Ficou o meu primeiro emprego, a casa-do-estudante, sonhos, ideais, minhas preces, joelho ao chão. Minhas vãs aspirações. Lá ficaram os meus medos, meus segredos e como sempre o acordar cedo; minhas interrogações, os sonhos do amanhã. Ficou o meu sorriso e os sussurros dela. Lágrimas, confissões - encontros, desencontros e emoções; minhas tantas tentações. Ficou o caminho a pé, o cinema e a Santa Sé; a gente que emudeceu e o filho que não nasceu. Ficou a conversa a dois e os planos para depois. Ficou o sofá e a janela! O risco do amor por ela. Ficou aquela chuva fina, pecados entre cortinas, a parada de ônibus, a canção de Renato e Golden Boys e a inesquecível lembrança e saudade dela."
A NOSSA RODOVIÁRIA
É um perigo à vista, a saída da rodoviária, no sentido centro, nos horários de pico. Pior ainda se durante e/ou debaixo de chuva quando o trânsito enlouquecido, enlouquece mais ainda. Deixando a reta da rodoviária, rumo centro, ao bater de cara com o tráfego da rodovia, num pequeno aclive ali existente, o condutor fica ao deus-dará. A situação se complica quando existem outros veículos na mesma mão de direção (na mesma rota) - uns do lado, outros por trás. De cara com a rodovia, há um trânsito intenso e simultâneo, seja rumo a Açailândia; seja rumo a Brasília. E quando raramente alivia de um lado, a outra corrente mantém-se intensa e vice versa. O condutor, de cara com essa dupla corrente de trânsito da Belém-Brasília, fica no ora-e-veja, tentado a uma travessia arriscada. E, não raro quando ali manobra o faz de forma precipitada, caótica e perigosa. E o desfecho de tudo isso é que aquela saída de rodoviária, mormente à rota do centro, converte-se numa corda-bamba terrível que beira o desastre e a desgraça em que os condutores se vêm constrangidos e obrigados a manobras bruscas, inseguras; um tudo-ou-nada - que é como tem-se visto por ali.
Não é de agora que a "nossa rodoviária", que vem dos tempos anteriores, repaginada e reproduzida em tempos do velho Lago e concluída depois é um eterna polêmica ao seu entorno. E mostra-se INCONCLUÍDA até hoje, tal o alagadiço rebelde que volta e meia emerge no local, à tinta-fresca da entrega, quer dizer da inauguração. É bem verdade que o bate-boca não resolve; que o disse-me-disse é fuxico, todavia chega a ser acachapante e inaceitável o fato de que o trânsito de acesso (entrada e saída) da "nossa rodoviária" não teve nem tem um planejamento sério e decente, algo como um rotatória ou qualquer outra coisa que ali permita um trânsito seguro e responsável. Contrário disso, o que ali se vê e se pratica é uma zorra, um deus-nos acuda; um tudo-ou nada; um salve-se quem puder; um trânsito selvagem, ignóbil e perverso.
Não quero nem posso que minha voz ou minhas mãos estejam a serviço do vaticínio da desgraça, mas a desgraça em potencial é tudo o quanto ali se vê. E uma questão de enxergar. Ou, uma palavra cansada e suada: uma questão de "vontade política".
A VIDA COMO ELA É!
Vejo no rádio, na TV e no jornal a cara do cara, o nome do cara, o crime do cara. E já indicam: pode pegar de tantos a tantos anos de cadeia. Uma previsão afobada senão irresponsável, muitas vezes. E rasgam o cara de baixo pra cima; de cima pra baixo. Traficante, ladrão, bandido, "suspeito" - que suspeito é verbo novo na linguagem da imprensa. Um "eufemismo" para aliviar o dano que ali se pratica - como quem expia a própria culpa da falação, pelo fato do cara ainda não ter sido julgado. É como se a palavra "suspeito" resolvesse a questão.
Eu que tenho quase-70, venho de um tempo em que ladrão não tinha rosto, porque ladrão, naquele meu pequeno mundo era pouco, não se criava. A esse tempo e mais depois, ladrões ganharam espaço, mas enfrentavam o xadrez, o cassetete a borracha e a farda cáqui. Hoje não; hoje até parece que ladrão virou profissão, meio de vida. Status do social. Mas o que me chama atenção nesse "tom marrom" da comunicação é que quando a matéria envolve um graduado, seja empaletozado ou engravatado, seja uma pessoa física ou uma empresa de ou do poder, aí não se cita nome, não se mostra a cara do cara, sonegam-se, escamoteiam-se e manipulam-se as informações, e deixa-se o ouvinte ou telespectador "em bundas", como dizem por aí. Afinal mostrar a cara de um ladrãozinho meia-tigela isso é mole para qualquer um. Agora eu quero ver é fazer isso com um posudo com anel no dedo, dinheiro no Banco, ou diploma dessas faculdades por aí.
* Viegas é advogado e questiona o social
Edição Nº 14690
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