Envio, semanalmente, textos e produção completa para o programa CLUBE DA SAUDADE, Rádio Mirante/Am (São Luís), com retransmissão local, no tema "PÁGINA DE SAUDADE", um quadro que se completa com a sugestão musical. Vejamos!
QUANDO A GENTE TOMAVA A BÊNÇÃO
Havia um tempo e os pais impunham a que os filhos tomassem a bênção aos mais velhos. Fosse por onde fosse, encontrasse os mais velhos e tomar a bênção e respeitar aos mais velhos. Era a "lei", o costume do meu lugar. E assim se fazia respeitar. Tios, padrinhos, avós, parentes cobravam A BÊNÇÃO às crianças. E ai de quem não obedecesse a lei. Papai e mamãe tomavam conhecimento e aí... e aí... moleque prestava contas...
Era o tempo do SIM SENHOR, NÃO SENHOR. Justo esse tempo em que criança não se metia em conversa de "gente grande", nem ficava "ouvindo conversa alheia", também não passava pelo meio, nem desmentiam pai e mãe. E ai de quem! Ai de quem! E assim as gerações cresciam, casavam, tinham filhos - tudo debaixo de ordem, de obediência, de respeito. Obediência! Uma virtude e um costume desgastado. Mas isso foi o tempo da "roda quadrada". Hoje, a "moda" é outra. É o que a gente vê por aí...
Recentemente, tenho voltado constante ao meu velho lugar - o chão dos meus pais, o chão da minha gente. E lá, ainda hoje (ainda hoje), os mais jovens, o-bri-ga-to-ri-a-men-te, res-pei-to-sa-men-te, tomam a bênção aos mais velhos. E eu fico impressionado, porque aqui no asfalto os costumes são outros. E essa cultura - esse costume de um velho tempo que ainda resta no chão dos meus pais, é hoje a minha reverente e respeitosa PÁGINA DE SAUDADE.
- Sugestão musical: Pisa como eu pisei - Zeca Pagodinho.
TEMPO DE CRIANÇA
Velhos tempos aqueles meu (e nosso tempo de criança). Um tempo em que a gente era feliz e nem se dava conta. E nem sabia! É logico que naquele tempo nem tudo eram flores, mas que tinham frutos, isso tinha! E a gente, sem medo de ser feliz, ia fundo em busca das nossas tentações... Por vezes se relava, se machucava, se feria. Levava até uma taca, mas que isso fazia parte da nossa rotina - isso fazia!
E então me lembro daquela murteira, na beira do caminho, chegando na escola do meu tempo de bê-a-bá; ao tempo da tabuada. Na saída da escola, meio dia, morto de fome e a murteira pagava o pato. Varejávamos, sacudíamos, trepávamos. E comíamos frutos verdes e maduros. Mais tarde, quando voltei por lá, só encontrei o lugar. Foi aí que o peito doeu...
E aquele cajueiro? Era na volta da escola! Uma festa de chão limpo ao redor. Trepávamos, apanhávamos verde e maduros. E a nódoa do caju para sempre, nas roupas. Mamãe em casa ficava uma fera mas não dava jeito. Um dia, escrevi e lamuriei sobre esse cajueiro e mais tarde quando voltei ao lugar, nem o lugar encontrei. Novamente o peito doeu... e o coração bateu em tum-tum-tum, de tantas lembranças!
E aquela de jogar a pedra na manga? Na mangueira? De cara pra cima, por vezes o "rebolo", quase caía por cima da gente. Hei tempão! A gente roía a manga, umas "de vez", outras maduras e levava o resto pra casa, como um troféu. E comia depois.... E a goiabeira? Coitada da goiabeira! E a mangueira e de manga-rosa? Aí... era mais devagar...
E o tamarindo? Tamarindeiro nas alturas aquilo era um risco, um perigo! Meu Deus do céu! Livrai-me Nossa Senhora! E subia no tamarindeiro e varejava e jogava pedra. Bom mesmo era os tamarinhos "areientos", menos azedos que a gente comia até os dentes ficarem sensíveis (moles, como a gente dizia). - Tempos de criança! Velhos tempos, belos dias! Dá até um livro, mas por aqui é só uma PÁGINA DE SAUDADE.
- Música: TEMPO DE MENINO - MARTINHO DA VILA
ERA NOITE AQUELA NOITE
Era noite aquela noite! E isso faz tantos anos e mais anos! Mas a poeira da mente insiste em relembrar. Era noite aquela noite, quando aquele casal de ex-namorados encontrou-se para lembrar um velho tempo. Um velho tempo em que namoraram, em que se amaram. Se amassaram - em que somaram; tempos depois... em que se dividiram.
Era noite, aquela noite! Tantos anos distantes e então foram ter esse encontro num restaurante à luz de vela, tudo por sugestão dela. Na beira da praia. A brisa do Araçagi trazia um ar frio, maroto, insinuante, misturado a sentimentos inebriantes. O mar bramia qual naquele verso de Casimiro de Abreu, da minha infância. E a luz de vela ali... ao vento - flanando, variando, ora acendendo, ora quase apagando - assistindo... como que documentando.
De repente, quando o cara dá por si, um filete de lágrimas lhe molha a camisa, o braço, depois o ombro. E o jantar nem começou. E a noite bem ali terminou. E o que ali ficou, foi a lembrança antiga de um amor que acabou. Tantas lembranças, tantas culpas e desculpas, enganos e desenganos - tantos rastros... a primeira vez... a última vez e tantas vezes...
E nesse encontro o que restou foi um final desencontro. Sim porque "a vida é a arte dos encontros... e dos desencontros". E no ar, naquele tempo, naquela noite, tocava uma canção - ela mesma que hoje me recorda nesta PÁGINA D SAUDADE.
- Música: Grito de Alerta - Maria Betânia
* Viegas questiona o social
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