Tempos antigos, neste Maranhão das minhas bandas, no interior do Estado, a escolaridade era pouca, minguada. O sistema de educação, no interior, girava basicamente em torno das escolas públicas e sem nenhuma referência ao ensino particular (privado). Era o tempo do pré-histórico e dinossaureano curso primário, um extensivo curso de cinco anos que se esticava do primeiro ao quinto ano e que determinadas escolas praticavam o “preliminar” que era uma espécie de “jardim de infância” - o que estendia, em tais casos, o curso primário integral para seis anos. Ou como dirão outros: esse era o tempo da roda quadrada, do botão de sola.
A esse tempo, na sequência da escolaridade, quer dizer, da educação, tínhamos o nobre “curso secundário”, ou “ginásio” (ginasial), em três anos com opções para os cursos “clássico”, “científico”, “normal” e “técnico”. O curso ginasial (ginásio) em três anos, aqui o Maranhão, existia basicamente somente na capital. De sorte que os abastados pais daquele tempo tinham que se contorcer com internatos, pensões e hospedarias para que os filhos prosseguissem a nobreza privilegiada da escolaridade do ginásio, na capital, para não deixá-los estagnados num básico curso primário, ao passo que a grande massa do estudantado confinava-se aí em sua formação escolar. E olhe lá! Pois que o “primário completo” daquela época não era chão nem chance para qualquer um!
A bem da verdade e justiça se lhe faça, o curso primário - de cinco (ou seis) anos - daquela época da roda quadrada e do botão de sola era uma invejável sacramentada escolaridade e tanta! E, se compararmos no tempo e na realidade, o curso primário antigo dá de bolo de palmatória e deixa cruel e impiedosamente de joelhos e arrastado o segundo grau moderno dos nossos dias. Mas, afinal de contas, o que houve ou o que há com a educação de base destes tempos de modernidade, em que o colegial não assenta corretamente, por vezes, nem o próprio nome? Nem o seu endereço? Arre!!!
Naqueles (bem)ditos e antigos tempos do curso primário de cinco anos, o “aluno” aprendia a ler, a escrever, pontuar e acentuar. Enfim: ortografia. Tinha “cópia” e “ditado”. Emprego do verbo no tempo (presente, passado e futuro), emprego dos pronomes: eu, tu, ele; aprendia-se gramática, “sujeito” e “predicado”, sinônimo das palavras; emprego da crase, do hífen às quatro operações em matemática, “carroção”. Contas de multiplicar e dividir. Noções de redação e expressão. Era um tempo em que a escolaridade e a cultura daquela gente exigia a que se usasse o lápis, a cabeça e o que foi ensinado.
Com a modernidade, inflando e acelerando o processo educacional - tal como se acelera o crescimento e engorda de um confinado frango-de-granja, o então curso primário de cinco (ou seis) anos reduziu-se para quatro anos e o severo e exigente “ginásio” de outrora passou a ser um galopante prato de arroz-doce em meio à rapaziada. Uma banalidade ao alcance de qualquer um, mesmo que fique nos barzinhos, nos triviais da rua ou fazendo sexo no banco da praça. Sétima série, oitava série - que antigamente eram um bicho-de-sete-cabeças, agora é um café-com-açúcar, mole-mole.
Segundo grau hoje dá no meio da canela, derramando pelo ladrão e tá todo o mundo aí com o segundo grau no bolso ou nas mãos para cima e para baixo e isso indica o “avanço” e a liberalidade do processo educacional do nosso tempo. E as antigas reprovações que impunham pesadelo ao educando e sua família ao final do ano, foram convertidas em “aprovações obrigatórias” e “deixa passar”, o que indica o desleixo, a liberalidade e na “democracia”, que vergastam a nossa educação. E todo esse processamento resulta no insípido, desqualificado e vexatório segundo grau a que hoje se vê. E isso para não descer a desabonadores comentários. Mas se eu estiver errado que me corrijam.
E se em tempos idos os ícones da educação – representados pelos cursos primário e secundário – estavam nas escolas públicas, como selo de integridade, a esse tempo com o ensino particular então estigmatizado pelo “pg/pp” (pagou, passou), hoje o ensino particular tornou-se referência de escola e serviço com respeitável liderança na formação, educação e escolaridade da nossa juventude. Enquanto isso e em nome da moderna avalanche da “globalização” e da democratização do ensino, pululam vestibulares de faz-de-conta e faculdades duvidosas e outras a toque de caixa e tudo isso provocando graves reflexões e debates quanto ao nível de aprovações dos novos concludentes do “ensino superior”.
Revejo e compreendo agora as lições do meu antigo e esticado curso primário; as exigência de uma “boa base”, o velho mote em que “ou estudava, ou não passava”, o respeito a que se dava; as reprovações para a garantia ao futuro da educação e do homem e procuro entender por que o ensino em nome da modernidade esvazia-se no relento. Naquele tempo havia “sabatina” e o aluno tinha a obrigação de saber. HOJE, Basta sabatinar um/a detentor/a do “segundo grau” ou mandar fazer um bilhete, uma conta qualquer. E o próximo passo é o vestibular-de-faz-de-conta.
Olhando tudo isso, eu avalio que bom mesmo era no tempo do curso primário (de cinco anos). Lá a gente aprendia a fazer contas de dividir. A ler e escrever e preparava a “base” para um ginásio de verdade e daí para o vestibular, também de verdade! E sem essa de “PG/PP”, da linguagem de um tempo em que na escola particular era “pagou / passou”. O tempos mudaram... para pior.
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Este tema eu escrevi faz em torno cinco anos. Reaproveito-o agora porque “quem come e guarda como duas vezes”, como na lição do homem rude do meu lugar. Esclareço que o “repeteco” se dá porque o meu dia-a-dia virou de ponta-cabeça, envolvido que estou com uma defesa no Tribunal do Júri, já nesta segunda-feira, no Fórum de João Lisboa. E, nessa circunstância, não tenho tido tempo para pensar em mais nada, embora me sinta duramente vergastado pela lembrança que carrego do “MEMORIAL ANTÔNIO DE INEZ”, um horto florestal que ora construo, no chão que viu nascer, para homenagear a memória do meu pranteado pai.
* Viegas, advogado, é olhar do pássaro sobre o galho e questiona o social.
Email: viegas.adv@ig.com.br
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