Faz tempo, tanto tempo e ouço falar de O CAMINHO DAS PEDRAS. Algo abstrato do qual nunca encontrei uma explicação de ninguém mas ainda assim, volta e meia e sempre no aleatório e em parábola, refiro-me ao CAMINHOS DAS PEDRAS como uma travessia de embaraços.
Recente, vi na TV, uma reportagem passageira (sem profundidade) sobre coisas e costumes da CHINA e então a moça que ali fazia o papel de "guia turístico" mostrava numa rua, um trecho com pequenas pedras encravadas ao chão cimentado para transeuntes em pés descalço. Aquele e era O CAMINHO DAS PEDRAS. Disse ela.
Igualmente recente, converso com o meu irmão José Viegas - um dos melhores exemplares do ser humano que o conheço sobre a face do chão e que me contou uma passagem da sua vida colegial. Disse que de certa feita, em sala-de-aula, no velho curso primário, fez uma "CÓPIA" e tirou nota sete. Como castigo ficou em pé no corredor. Esse era o preço convencional.
Ocorre que em seguida passa a Diretora que acolhia o aluno em sua casa e interpelou a razão daquele castigo. Informação óbvia: tirou NOTA SETE, na cópia. Ah! Pra quê?! O mundo caiu-lhe ali mesmo à sua frente com "reguadas nas juntas" da mão, foi como me disse. Em resposta, eu, no puro instinto declarei-lhe: Esse É O CAMINHO DAS PEDRAS. E ele em contra-partida me disse: "é como diria o teu pai: "hoje tu chora, amanhã tu sorri".
E saí dali a me perguntar sobre O CAMINHO DAS PEDRAS. E, tantas vezes, nas noites em claro, busco no meu mundo sobre o CAMINHOS DAS PEDRAS. E escrevo na mente, vou escrevendo e o sono "me rouba". Novamente, d'outra vez, volto à "escrita" na pura mente sobre os tal CAMINHO DAS PEDRAS e, afinal nunca chego ao fim, nunca concluo a obra; nunca tenho um desfecho, nunca concluo um enredo. E vou vivendo faz, dias, tentando "escrever" sobre O CAMINHOS DAS PEDRAS.
Lembrei-me então de um passagem da minha infância: Naquela casa surrada pelo tempo, na bifurcação de um "entroncamento" de caminhos, oriunda acho-que dos velhos ancestrais, morava o velho NORATO BARROS. E sempre que eu ali passava pelas manhãs, rumo à escola da tabuada, costumava ouvir uma "zuadeira", uma "brigalhada", um chororô. Nada não! Era Norato Barros meu tio-avô, ensinando ao seu filho FRANÇA DE NORATO a fazer "cofo".
- Abre parêntese: "cofo", para quem não sabe é uma artefato feito a partir de jovens palha de babaçu, a chamada "palha madura"; uma espécie de "jacá", feito de um "tecido" artesanal, e que se presta ao acondicionamento e transporte da pequena agricultura daquela gente da roça. Um costume até os dias de hoje. Fecha Aspas.
E assim, FRANÇA DE NORATO, na tormenta, e a dura penas, debaixo de cocorotes naquelas manhãs, aprendeu a fazer cofo. Hoje quando o encontro nas constantes viagens que tenho feito à minha terra-natal, costumo parar, encostar à sua porta, levar um dedo de prosa e perguntar: "E aí fio FRANÇA, já aprendeu a fazer cofo? No que ele, pacato como sempre, me responde afirmativamente. Então, olho no tempo e vejo que o aprendizado em fazer cofo, de FRANÇA DE NORATO era o seu CAMINHO DAS PEDRAS.
Certo dia, no meu tempo de curso primário, ganhei inesperado da minha então diretora um CADERNO Nº 2. Oito folhas, capa azul! Lembra do CADERNO Nº 2? Era um caderno destinado à escrita básica daquele meu tempo em curso primário. Como contrapartida a diretora mandou-me fazer uma CÓPIA. E eu, no lápis e em caderno zerado toquei-me rumo ao dever. Era um tarde de verão. Duas meia, três, da tarde.
Direto à leitura, a diretora constatou que havia dois erros. Nota OITO. Ah! Pra que? Qual o meu irmão ao seu tempo em pé no corredor, o mundo agora caia à minha frente, E foram reguadas e mais reguadas, seguidas de uma observação: "No ditado tu tiras notas boas. A cópia você lendo, não pode errar". E tome reguadas. Hoje eu olho no tempo e vejo que aquilo fazia parte do meu... CAMINHO DAS PEDRAS.
Novamente revendo como sempre, minhas velhas passagens, vejo que a minha vida foi feita ao CAMINHO DAS PEDRAS. Quatro anos no internato da Escola Federal. Glória a Deus! Uma honra e um diploma. Uma chance para poucos. Qualquer um gostaria de estar ou ter estado nesse lugar. Mas aquilo era O CAMINHOD AS PEDRAS. A experiência de vida na casa alheia - uma gratidão da qual não abro mão nunca-nunca. Sou ETERNAMENTE agradecido. Outro CAMINHO DAS PEDRAS.
Casa do estudante, convívio coletivo em "repúblicas" estudantis; desemprego; quatro meses sem salário no serviço público. E as tacas do meu velho pai? E as reprimendas e proibições da minha mãe? E o castigo na escola do bê-a-bá? Tudo CAMINHO DAS PEDRAS.
Hoje eu olho no tempo e vejo que tanto quanto no ofício de advogado, O CAMINHO DAS PEDRAS tem sido uma constante na minha vida.
*Viegas é o olhar do pássaro sobre o galho. E questiona o social.
Edição Nº 15024
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