A minha veia de “escriba” anda meio escasseada. E disso me ressinto. Tenho comigo um texto que “já escrevi e reescrevi” nas madrugadas acordadas – que é como escrevo. Chama-se MESTRE CÂNDIDO – coisas de uma repartição (pública) dos anos de chumbo. Tudo real, como enfim são os meus temas. Ainda assim não me arremeti nem me arremeto em levá-lo ao papel. Enquanto isso, vive dias de silêncio o meu quadro RÁDIO VERDADE, nestes dias em que o meu companheiro ARIMATÉIA JÚNIOR – Nativa/FM, recupera-se de um “piripac” do coração e, recolhido à sua casa, aproveita para viver um tempo de reflexão.
E vou, então, agora, sobre os meus próprios rastros, em trechos e textos que os fiz para o programa desse ex-fumante inveterado que andou... apaga-não-apaga e quase paga o pato e o preço pelo cigarro que consumiu compulsivamente por tanto tempo. Recupera, companheiro! Põe aquela “boneta”, aqueles óculos de rabicho, aquela barriga pronunciada, aquele vozeirão todo-seu e aquela verve toda sua. E voltemos ao rádio. O rádio te espera. E nessa viagem eu pego brisa e carona. Saudações...
DINHEIRO – UM BICHO QUE GRITA
Eu ainda era estudante e costumava ouvir uma frase em meio aos colegas: “o dinheiro é o vil metal”. Dinheiro? Vil metal? Eu me perguntava. Vil, quer dizer: perverso, mal, vilão. Miserável, Aviltante. E por aí vai... Olha que a gente se desdobra, trabalha noite e dia, enfrenta sol e chuva, corre, dá um duro danado – tudo por causa do dinheiro. E nesse dia-a dia, a gente vê assaltos, mortes, pistolagem, assassinatos, roubos, furtos, estelionato, mensalão – cadeia, prisão – vai ver que no fundo, no fundo tem sempre pelo meio a busca ao dinheiro; dinheiro fácil - esse famigerado e VIL METAL.
- O dinheiro enfim é esse bicho profano, pelo qual todos correm. Ricos pobres, católicos, evangélicos, analfabetos e letrados. Reis e vassalos. Essa escolaridade toda: cursos, concursos, diplomas, faculdade, graduação, pós graduação – vai ver que têm olhos e pernas – o olho de olho e as pernas correndo atrás de quê? Do DINHEIRO. E quer saber mais? O DINHEIRO é um bicho, que não aguenta ficar calado; é um bicho que fala alto. É um bicho que grita. Seja na mão de quem for, o dinheiro berra. O dinheiro não aguenta ficar enrustido, abafado. O dinheiro tem que sair correndo... gritando...
Os caras metem as mãos nos cofres da prefeitura, ou se vendem como vereadores, como deputados e outros mandatos e outras firulas e o dinheiro grita lá adiante e grita em forma de casas (mansões); grita em foram de carros; grita por intermédio de laranjas. Grita no caixa-2. E ainda que ninguém diga absolutamente nada e fique por isso mesmo, o dinheiro delator e malandro, continua gritando. Ainda que todos estejam surdos...
Obras da administração pública? Empreiteiras? Licitações? Verbas públicas? Hackeres? Jogo do poder? Eleições? Mandatos? Vai que que o dinheiro grita pelo meio. O dinheiro é vil, inconfiável e tem o seu lado covarde. Primeiro fica calado, se esconde; depois ele mesmo bota o bloco na rua, grita, ele mesmo denuncia. Ele mesmo faz a farra, seja no banco, seja na mala, seja na cueca, seja enterrado. Esteja lá onde estiver – O DINHEIRO GRITA!!!
Numa certa prefeitura deste mundo, o dinheiro escorria pelas mãos de uma figura, que o abafava em casa, escondido, longe de banco. E o dinheiro lá, gritando: me tirem daqui! Me tirem daqui! E os ladrões, na beira, ouviram a conversa e os gritos do dinheiro. E foram lá: cadê do dinheiro? cadê do dinheiro?? Claro, com o dinheiro gritando este teve que aparecer. E os ladrões de arma em punho saíram correndo, carregando a grana. E o dinheiro zangado, enfezado e gritando: Eu não disse? Eu não disse? Me tirem daqui, me tirem daqui??? Dinheiro, eita bicho que grita!!!!
MEU AMIGO PEDRO
Esta semana, andando pelo Parazão, encontrei-me com o meu amigo Pedro. Pedro é (ou era) um político da velha-guarda, desses que aprendeu a tirar leite das pedras e dar nó em pingo d’água. Conheci o Pedro ainda nas beiradas da vereança, foi pra deputado, queria ser prefeito, governador e foi subindo nas suas pretensões eleitorais. Carregado pelos braços do povo chegou a meia altura.
Aí só andava na cola do prefeito, tapinha nas costas do prefeito; prefeito pra cá, prefeito pra lá - alegria, alegria - tapinha nas costas do Pedro; aquele sorrisão largo e meu amigo Pedro estava em todas. Se inaugurassem um bueiro, se lançassem uma pedra fundamental; se pintassem uma escola, se fizessem um quebra-mola, o Pedro estava lá, de paletó e gravata na inauguração. E estava em todas – no rádio, no jornal e na TV. E Pedro achava que aquela vaca gorda era para o resto da vida! Afinal, o poder tem essa capacidade de nos fazer imaginar que “vida boa é para sempre”. Mas eu dizia: Pedro, fica esperto e tem cuidado que “tudo que tem começo tem fim”. E dizia mais: “Pedro tudo acaba onde começou”. E Pedro dava de ombros... era como se eu falasse às paredes.
- Esta semana, em terras do Parazão, encontrei-me com o meu AMIGO PEDRO. Velho político de outrora, agora não tem mais mandato; não tem mais aquele sorriso largo; não tem mais tapinha nas costas do prefeito; também não participa mais nem de lançamento de bueiro, nem de inauguração de quebra-mola. Pedro pareceu-me um balão vazio (esvaziado); ao chão, abandonado. Lembrou-me uma moeda proscrita, fora de circulação. Pareceu-me uma faca sem cabo e sem ponta e... de resto... uma mala... sem alça.
Aí eu me lembrei daqueles tempos em que eu conversava com o Pedro e dizia: “Pedro tudo acaba onde começou”. E Pedro dava de ombros, nem ligava. E dizia: Pedro tem cuidado, porque o povo que te botou lá em cima é o mesmo que te deixa lá em baixo. E lembrava: “Pedro, tudo acaba onde começou...” (leia isso e ouça a música MEU AMIGO PEDRO, com Raul Seixas, que foi como tocou no rádio).
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· Viegas é o olhar do pássaro sobre o galho e questiona o social. Email: “mailto:viegas.adv@ig.com.br”viegas.adv@ig.com.br
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