Aqui, neste Maranhão que significa "águas que correm brigando", habituais e contumazes frequentadores de festa têm lá seus pejorativos indicadores que os diferenciam dos demais festeiros. Na capital, os festeiros de carteirinha são cognominados de "ARIRI" - "Ariri de Festa". Ao passo que lá na Baixada, o pejo, isto é, o escárnio, vem com o epíteto de "LAMPARINA DE FESTA".
Ariri de festa. E por que ARIRI DE FESTA? Ariri é uma palmeira nativa dos trópicos que costuma enfeitar terreiros e arraiais em festas populares. De sorte assim que as palmeiras de ARIRI, vindas do matagal tropical, convertem-se em presenças costumeiras, enfiadas à beira do asfalto durante os festejos populares. Essa repetência, quiçá, enseja o codinome aos (às) festeiros(as) renitentes que abusam das pândegas e noitadas de bate-caixa e bate-coxa.
LAMPARINA DE FESTA. O que na capital é "Ariri de festa", lá na Baixada, brejeira, vem a ser "LAMPARINA DE FESTA". Sim, mas e por que "Lamparina"? Lamparina de festa? Lamparina esse velho senão desusado artefato de iluminação, foi outrora, presença obrigatória em todos os momentos e eventos da noite. Festas, bailes, levantamentos de mastro, novenas, rodadas em chocolate ou café com bolo e outros que tais. A iluminação à  lamparina fora, então, uma antecessora da nossa hodierna e civilizada luz elétrica.
De sorte assim que, tanto em "Ariri de festa" quanto em "Lamparina de festa", são estes uma adjetivação e interpretação livre deste signatário, buscando dar feição aos(às) festeiros(as) que costumam abrir e fechar os salões de festas - sejam os brejeiros lá do brejo ou os socialaites dos raio soçaite do asfalto por aí. São os habituais e carimbados e calejados frequentadores dos picadeiros e ribaltas das festanças por aí...
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Tereza e Domingas, filhas do velho Zeca Amorim, eram legítimas LAMPARINAS DE FESTA e, bem assim, denominadas. Em toda festa de baile, vesperal, matinal, farra de caixa, boiada (bumba-boi), festa-de-tambor e outras quizumbas do gênero lá estavam as duas. Moças humildes, solteiras, brancas dos olhos azuis., que adoravam uma dança, quer dizer uma contradança. Estavam em todas - presença obrigatória em todas as festanças, e logo ganharam a estrela de "lamparina de festa". Apesar de festeiras, mesmo brancas, comportadas, louras e de olhos azuis e pobretonas, não despertavam o interesse ou o sentimento da rapaziada. Insossas todas! E não tinham aquele "id", capaz de despertar as flechas de cupido. Daí que viviam a sós. Essa solidão do quotidiano, inclusive nas festas, juntava-se à companhia do seu irmão caçula, MANOEL. "Manoel Corinho" para os íntimos, tão insosso e solitário como suas irmãs, embora um tanto "pra frente". Tereza era mais velha, Dominga mais moça e Manoel o último de Zeca Amorim. E lá se vão os três, como sempre, a caminho das festas.
Manoel Corinho se virava em andanças pelo meio do povão, porém DOMINGAS E TEREZA, contidas na sua insipidez e "fracas da vista", agasalhavam-se as duas, sempre as duas a um canto e ali ficavam solitárias, recanteadas, afastadiças à espera de um cristão que lhes convidasse à dança. Era como se suassem para encontrar um voluntário, desses que, igualmente, ressentem-se de dificuldades para encontrar "um par" naquela festa de baile. E assim nessa solidão por vezes afetada por um desavisado e igualmente festeiro, arremetem-se aos solavancos entre uma e outra eventual dança. E assim atravessam a noite na festa.
Agora o dia amanhece. Seis da manhã. O músico põe a viola no saco, como se diz. Desmontam, agasalham os instrumentos. A festa acabou. Era assim naquele meu sertão brejeiro. Tereza, Domingas e Manoel Corinho pegam o caminho de volta - quatro, cinco, seis quilômetros, a pé. Tereza, a mais velha, vai à frente, Domingas mais atrás. Manoel Corinho, o caçula, fiel acompanhante das irmãs é último desse cordão. E lá se vai o clã de Zeca Amorim. Passaram a noite só com a água do pote, em casa também lhe espera, quem sabe só água do pote, uma farinha na cuia e nada mais. Na festa não ganham nem um bolo, nem um doce e os poucos candidatos à dança, igualmente tão só filhos da água do pote. Era nesse universo que viviam as crias de Zeca Amorim... ... lamparinas de festa.
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Faz algum tempo e naquela ilha (naquela ilha!), a centenas de milhas, as trombetas soaram, como aliás soam em noite e dia. Era mais uma festa na tribo, dessa com direito a "mídia", que no passado chamava-se "propaganda". Festeiros de todos os cantos estavam lá. No dia seguinte, o raio soçaite dos colunáveis estampa os nomes e os rostos da montoeira e das amigas de sempre. Carimbadas e inevitáveis como sempre, fazendo retratinho com sorrisinhos para o social. Olhando aquilo, eu, questionador do social, lembrei-me do clã dos festeiros de Zeca Amorim e pude ver que tanto lá quanto cá, até parece que há uma linha do mesmo DNA, em meio às festeiras das festas de sempre. São os Ariris de Festa. São as Lamparinas de festa. Ou, como no velho ditado: "te manca e tooooooma que o filho é teu".

* Viegas questiona o social