Os humanos agem com culpa ou voluntariamente, proposital. Os animais agem por impulso, irracionais. É mais ou menos assim que aprendemos lá na base. Nesse paralelo eu me convenço que de o ser humano, senhor de tantas virtudes, pode ser também um antro a serviço das desvirtudes. Basta olhar os presídios, as tornozeleiras eletrônicas, o Alvorada, O Jaburu, as prefeituras, as Câmaras. O Congresso. A PETROBRAS e uma cambada de tantos outros e outras. Nesse passo, hoje eu vou pela contramão. Recente, por equívoco, pus o crédito no celular alheio, o que aliás já fiz outras vezes. Por vezes vou atrás, tento recuperar e enfrento o mau humor, a má vontade e a resistência das pessoas que se beneficiaram do meu equívoco. Tem sido assim. Diante disso, resolvi tirar a limpo ouvir pessoas sobre se devolveriam ou não o crédito, em tal situação, uma vez solicitado.
A primeira pessoa que procurei foi uma jovem que, de regra, me fornece créditos celulares. Expondo a situação, perguntei: DEVOLVERIA OU NÃO DEVOLVERIA? A jovem mordeu, mordeu, torceu a cara, sorriso falso - depende, depende e finalmente acabou por dizer que NÃO DEVOLVERIA, no que aliás, desde o seu morde assopra, eu já havia entendido. Em seguida, entra no local um rapaz desses com capacete a meio rosto. Este foi enfático e incisivo. Não tenho nada para devolver. Não pedi. E se a pessoa se enganou é problema dela. Aí eu não aguentei e parti pra cima dos dois. Isso é uma questão de caráter, de ética, de vergonha. É aí em que cada um dá o que tem. "Se se você não tem vergonha eu tenho por você". Hoje eu estou na dúvida se volto ou não àquela moça para recarregar os meus celulares. Estou com vergonha dela.
E eu que esqueço de tudo: caneta, chaves, óculos - acabei por esquecer de um celular no banco do saguão de um shopping. Voltei em seguida, mas o celular já havia criado asas. Passei a ligar até que enfim fui atendido. Era uma jovem, uma colegial. Fiz toda a identificação, local, dia horário, característica do aparelho, etc., mas a moça foi irredutível e recusou-se à entrega. Diante da insistência, o namorado da usurpadora entrou na linha e alegou que já teria sugerido a devolução, mas a sua namorada recusava. "Taí a figura que você tem à sua volta, quem sabe a próxima vítima pode ser você", disse. Em seguida, procedi ao bloqueio do aparelho, pronto; "Nem mel, nem cabaça".
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Semana passada fui a um órgão da Prefeitura tratar de uma licença ambiental para a poda de uma árvore do meu domínio que vem causando terríveis problemas a mim e à vizinhança ao redor. Fiquei impressionado com a qualidade do atendimento, até porque noutro tempo, passei dois meses em semelhante objetivo e... nada! Obtive a licença em tempo record, considero. Em seguida, fui ao "Corpo de Bombeiros Militar", uma nomenclatura que tem me causado interrogações e discordância: "Corpo de Bombeiros Militar". Importante é, novamente, o tempo record em que fui atendido. Aí eu pensei: "ganhei o dia".
Ocorreu, no entanto, que, ainda no seio do órgão municipal, encontro-me com o FIDELIS UCHOA, outrora apresentador de um sofrido e "independente" programa de TV local (desses que se vendem ou se compram (?) horários a retalho), hoje secretário de Planejamento do Executivo Municipal. FIDELIS com o qual, outrora, cumprimentávamo-nos aos gritos quando nos encontrávamos, agora encontro um homem frio, distante, indiferente, monossilábico, taciturno e lacônico. Dita a lição da vida que: "Quer ver a empáfia do homem, dê-lhe o poder". Eis a vida, meu caro FIDELIS! Mas, ainda assim, com os dois outros resultados mais que satisfatórios, não posso dizer que "perdi o dia".
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"E a vida continua". Li, quando das recentes exéquias do imortal Professor Arnaldo Monteiro, numa mensagem de condolências e exaltação de autoria do consagrado e monstro sagrado, o também imortal e intelectual EDMILSON SANCHES e nela uma frase que diz: "Como dizem, a vida continua...", que compõe um todo laudatório de rasgadas homenagens e honrarias ao ilustre "de cujus". Tudo o quanto se lê e se vê de Edmilson Sanches logo se vê que aquilo não é verve de qualquer um. Ele diz: "Quem igual a mim, perdemos a própria mãe, sabe que perder entes familiares tão próximos assim é uma dor única, intransferível. Quase insuportável". E em forma textual, qual um Arnaldo que assim preferia, ele, SANCHES, em plena extasia, vai declinando o seu texto com sabor de amor e dor e... poesia. E entre outras, invocou: "Plauto, que viveu antes da Era Cristã, escreveu que: "aquele a quem os deuses estima, morre jovem".
Chamou-me, no entanto, a atenção, uma frase final de sua fúnebre peroração, quando diz: "Como dizem, a vida continua..." É aqui onde eu fico. Sanches, ao seu tempo, tive uma divergência vocabular com o meu pai quando ele me disse: "o alfabeto e as palavras ficaram para todos" - quer dizer, são universais. Sinto-me pois, no dever, de dizer que "... a vida continua", não é nem nunca foi uma frase minha e eu não posso jamais ter a petulância de querer aviltá-la para mim. Entretanto, de mera ilustração, dela faço uso desde os vinte anos, portanto lá se vão cinquenta e dois anos cravados! Tem mais: quando eu estive no rádio e na TV por um breve lapso de mais de catorze anos, sempre encerrei a minha participação com a frase: "... e a vida continua".
Afora isso, como cidadão comum deste chão Imperatriz - seja na militância profissional, no Tribunal do Júri, nos articulados forenses, nas despedidas dos meus interlocutores, nos momentos alegres ou difíceis junto aos meus afetos e nos blá-blá-blá por aí, e assim fazendo parte do meu dia-a-dia, costumo deixar uma frase que carrego sozinho, pois que não vejo outros carregando: "... e a vida continua". Aliás que decotei a frase. O velho pensamento, na origem, dizia: "O mundo dá voltas e a vida continua". E, por conta disso, guardo por tantos anos e até hoje (até hoje), um cartão de Natal com que fui lembrado, que diz: "O mundo dá voltas e a vida continua". Tem mais: quando recebi o título-diploma público de CIDADÃO DE IMPERATRIZ, em outubro/2013, ao final do meu histriônico discurso eu não poderia perder nem a carona, nem velho axioma: "... O mundo dá volta e a vida continua".
- Saudações...
* Viegas questiona o social.
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