Hoje eu vou de Cleviegas. Cleviegas era um cara, encasquetado, queria ser "jornalista", nunca passou de um "foca". Foca era aquele que queria vivera entrujado pelo meio mas nunca passava da perferia. O cara vivia entevistando as pessoas nas ruas. Postitutas, gays, cafetinas, estivadores, marujos, cachaceiros, pedintes, desocupados e mandava para o jornal! Um dia ele ouviu uma música "VISÃO GERAL" e guardou em silêncio o título para uma futura "coluna" que um dia enfim escreveu. E então, hoje eu vou de CLEVIEGAS.
RETRATO DA VIDA
Ali está uma mulher. É uma magricela, pequenina, esquelética, quase tocada pelo vento. O sofrimento em pessoa. Ela apareceu na TV com a vesão de que o seu companheiro fora espancado por elementos envolvidos com droga e estaria mais morto do que vivo. O motivo? O maridão fora apontado como o "dedo duro" e, portanto cúmplice da prisão. Na entrevista que deu à TV, ela demonstrava uma articulação gramatical e lingüística supreendente. "Contextual", como diria o professor! Quer saber mais? Foi melhor do que a repórter que a entrevistou! A ponto de que esta, usara as expressões de sua interlocutora nas subseqüentes perguntas que fizera. Constantemente essa mulher é vista barafustando e juntando as sobras de um supermercado. São os retratos da vida.
A CACHORRA
Quando aquela figura mudou-se, levou consigo uma cachorrada estridente, zuadeira e "sugismunda" mas deixou, dessa tralha, uma cachorra à própria sorte. Trata-se de uma cadela, avermelhada de idade avançada, aspecto de quem já pariu vários filhos em múltiplas gestações, o que vai denunciado pela peitança que balança. Parece doentia; um tipo de passos lentos, resfolegada, boca aberta, cansada da vida. Em princípio a cachorra amargava a solidão, pelo lado de fora, deitada sobre a calçada da casa em que fora ocupante, onde era vista sempre aos fins de tarde, depois que sua trupe mudou-se dali. Posteriormente, porém, "localizou" seus parentes e aderentes que aliás nem mudaram-se para longe mas ainda assim continou marginalizada, excluída da sua velha comunidade e tornou-se por tais circunstância, mais uma criatura das ruas.
Diariamente, ela caminha languidamente, pacientementemente, e certeira em direção àquele supermercado. Então ela vai certeira, confiante e vai direto às sobras do supermercado e tal como aquela outra barabusta e vai colendo, ela vai comendo o que vai encontrando. Depois, de pança cheia ela desaparece. No dia seguinte tudo recomeça, novamente. E "assim como são as pessoas são as criaturas".
Ponto de ladrão
A minha eterna Rua Manol Bandeira, ali no cruzamento com a Rua São Dmingos é um eterno ponto de ladrão. Sim porque ladrão tem ponto - área cativa, definida para os seus furtos e roubos. E assim como a riqueza, o dinheiro, o patrimonio muda de mão em mão, assim tambem são os pontos de ladrão, também mudam de dono. Tem mais: uns estróinas detonam durante o dia; outros durante a noite. E o mais "interessante" de tudo isso é que a polícia sabe quem é quem mas os bandidos estão ai... na cara limpa, de rabo livre, palitando os dentes e fazendo das suas.
LUIS GONGAGA
Luís Gonzaga, num de seus clásicos, refere-se ao seu pai, Januário como "... aquele cheiro meu"! Gonzaga, desde a minha infancia é esse "cheiro meu". Porque nesse terreno ninguém cantou o nordeste, nem o homem, nem a vida nem os costumes nem o valores nordestinos como o meu Velho Lua. Ninguém! Hoje, ando barafustando a vida e a obra do incomparável Luis Gonzaga: pesquisando, ouvindo, lendo, escrevendo. Agora mesmo estou escrevendo textos para o programa CLUBE DA SAUDADE - Mirante AM/Manhãs de domingo, em PÁGINA DE SAUDADE, oito em ponto. E vou abordar, entre outros, um momento em que, a canção lembra uma "tunda" que Luís levou de sua mãe, SANTANA, quando desafiou o pai de uma moça com quem queria casar e daí "vazar" para o meio do mundo, onde conheceu a fama, o sucesso e o dinheiro. O outro tema é quando Luís, 16 anos depois volta à sua casa, propositalmente no meio da noite para supreender o seu velho Januário. E daí um "romance" que só um manso de coração, um predestinado como Lua, soube viver, traduzir e cantar.
UM E.T. EM MEIO AO TERRÁQUEOS
Tem um cara por aí que se chama Marconi - Marconi da Tok Bolsas, nada mais nada menos do que um ET em meio aos terráqueos. Marconi alardeia e lembra para as pessoas que comia e bebia à minha mesa, nos seus tempos de piscineiro. Ele diz. O que me ufana no Marconi é essa humildade, mansidão, franqueza, generosidade, sinceridade, honestidade que ele carrega na cabeça e na alma. Imagine-se um cara que, alcoolizado, dormia na rua ao lado de um poste e quando muito tinha uma mobiletezinha para o transporte e depois nem isso. Hoje Maraconi é um ícone, um exempo raro para o empresariado de alto coturno local a quem repórteres, "jornalistas", "escritores" "produtores", publicitários e tantos outros fazem fila e cercam-no de mesuras, "cuidados" e ciúmes, por onde vai.
Marconi, pés no chão, cabeça no lugar, parece que está sempre na contramão: até parace que para ele tudo é nada e nada é tudo, tal o seu despojamento, a sua generosidade, um eterno mão aberta. Fila de pedintes, aproveitadores, instituições beneficentes, festeiros, cantores Marconi faz caridade e mídia dia e noite, noite e dia. E com a sua gagueira peculiar, encara de peito aberto, olho do olho a quem o procura, sem se esconder; sem evitar, sem dificultar, sem criar barreira. Obrigado meu caro Marconi, por você existir. Mas lembre-se que a riqueza de uns é sempre objeto de desejo e especulação de outros que não chegaram nem chegarão lá. Que Deus te abençoe e te ilumine sempre... sempre... sempre. Amém!
* Viegas questiona o social
Edição Nº 14678
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