Lembra-se do Cleviegas?! Cleviegas era um cara que caminhava noutra direção, mas tinha a vocação e a invocação par ser "jornalista". Conversava com bêbados, drogados, prostitutas, embacadiços, gigolôs, cafetinas, garis e outros do ramo. Depois, no rádio, resolveu interpretar, comentar e opinar sobre letras de canções (músicas). Um dia ele me disse que queria mesmo era, numa matéria, espelhar e retratar a vida sofrida do seu lugar, da sua gente, do seu povo. Mostrar os arrozais no tempo do arroz, a quebra do coco, o pilão e a mão-de-pilão e sublinhar também a crua luta pelo "dicumê". Um dia ele fez isso no seu "livro" TERRA DA MINHA TERRA. Depois eu conto mais. Hoje eu vou de CLEVIEGAS.
VELHOS TEMPOS
(e os moleques daquele tempo)
Ainda me lembro daqueles tempos. Os pais punham os filhos nas oficinas de ferreiro, sapateiro, marceneiro, fogueteiro, alfaiate e até nas "fábricas" de pilar arroz - que era para o moleque ter uma ocupação, para não ficar "jogando china" ou "empinando papagaio", nem correndo exasperado ao ponto de se desgraçar num carrinho de rolimã. Que era para ter o tempo ocupado e, além do mais, para aprender uma profissão.
Na oficina, o moleque varria o chão, comprava carne no açougue, levava bilhetes ou encomendas para a amante do mestre. Também embalava na rede, aquele filho "zuadento" e chorão. E estava "na oficina", aprendendo a profissão. E os pais satisfeitos com a ocupação dos filhos, de olho no futuro e preocupados de que eles não se tornassem vadios, desocupados ou que por conta de "amizades" não divergissem para "coisas erradas". As moças a esse tempo ou cuidavam de tarefas domésticas ou iam para a aprendizagem de corte e costura e bordados e "florista" e outras que iam para os cursos de datilografia. Tudo isso em busca do "saber", do "aprender" e das mãos e da mente ocupadas, porque como diziam os nossos avós: mãos e mente desocupadas são oficina do diabo.
Mas isso era naquele tempo! E hoje?! Hoje, ai do pai ou da mãe que botar um filho "de menor" par dar um prego numa barra de sabão. Ou passar uma vassoura no chão. Ai daquele! Aí é trabalho escravo; é exploração de trabalho infantil; aí vai perder o bolsa-escola; bolsa isto e bolsa aquilo. Aí entra o delegado de Polícia, entra o Conselho Tutelar, entra o Ministério Público, entra a patrulha dos Direitos Humanos, entra a "Justiça", entra a televisão (entra a geladeira) e é meio mundo de confusão: flagrante, processo, crime continuado, danos morais, abuso de incapaz; aí é condenação a prestação de serviços sociais, pagamento de cestas básicas; restrição de direitos do cidadão.
- Velhos tempos, aqueles tempos em que menino era levado ao que fazer. Varria o chão, embalava o filho do mestre, levava bilhetes e recados, comprava carne no açougue e... estava aprendendo uma profissão. O país mudou? A vida mudou? Lógico que mudou! Mas olhe agora os filhos da vadiagem onde estão! É crack, é maconha, é roubo, é furto, é assalto, são estupros, maus costumes. Evasão escolar. Bons tempos aqueles em que menino ia "puxar fole" nas oficinas de ferreiro ou bater sola nas oficinas de sapateiro que era para "virar gente" e não ficar vadiando e não mexer nas coisas alheias.
As manifestações das ruas
Tenho visto por aí e meio do mundo afora opiniões sobre as manifestações populares. Tem gente que dá de cacete, tem gente que estende a toalha. O cacete vai para a conta dos vândalos, esses lesa-pátria que estão por aí. As toalhas vão para as justas reivindicações, para o lado PACÍFICO do exercício da cidadania. Uma coisa, porém, se destaca e chama a atenção: é a revolta, a incredulidade, a repugnância, a insatisfação que O POVO NAS RUAS demonstra para com os políticos deste país. Ele mesmo, O POVO NAS RUAS, que vê essa corja como os salteadores dos cofres públicos, manipuladores a serviços de seus interesses pessoais. E de resto é o que se vê: o queijo é sempre o mesmo; os ratos são que se alternam, quando acontece de se alternar.
Prestação de contas:
Dia desses, dez do dia e eu, transgredindo ao preceito, lá se vou na BR a 120 por hora! Na distância o que vejo? Uma placa! Uma baita prestação de contas! Imagine que a Prefeitura recebeu uma bolada e estava ali, naquela placa, "prestando contas ao povo", tim-tim por tim-tim, tostão por tostão, centavo por centavo, daquela grana todinha que houvera recebido do suor do trabalhador. Fiquei impressionado!!!! A prefeitura recebeu uma fábula! E prestou contas em cima da fivela! Tudo como manda o figurino! Ainda menino aprendi que "papel aguenta tudo" e me criei carregando essa lição. Mas não imaginava, jamais imaginava que uma placa de beira de estrada seria capaz de tamanha proeza!!! Hoje eu entendo que não é só papel que aguenta tudo. Aprendi também que placa de beira de estrada aguenta muito mais!!!
TUDO certo como dois e dois são cinco:
Vi, dia desses, um ex-prefeito, desses que passou oito anos em cima da burra (que é o cofre do contribuinte), numa entrevista na TV. Dessas entrevistas de "compadre". Ele dizia que deixou tudo certinho, tudo direitinho: as ruas, o funcionalismo, as contas, o município e tudo o mais. Nem esperei o mundo dar uma volta e, por acaso, de repente está lá. O que vi e ouvi pelas ruas foi uma decepção! Um estrago! Um bandalho sem precedentes! Mas é como disse um gay na TV: "melhor neste mundo se dá quem melhor sabe mentir".
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* Cleviegas era um cara que, como eu,
tinha vocação para o social
Edição Nº 14754
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