Minha querida Imperatriz do Maranhão - te amo! E isso você já sabe. E agora com título formal de CIDADÃO DE IMPERATRIZ a receber, aí é uma "taça" e tanto, uma honraria a que não mereço mas que consagra os meus quarenta anos pisando ao teu chão, bebendo a tua água e vivendo o teu quotidiano. Mais do que uma taça, uma GRAÇA e Bênção do Criador nas alturas que, não sei porque, iluminou ao Raimundo Roma - justo aquele do Bandeira 2 - para me presentear com tamanha honraria. Obrigado Imperosa, por você existir!
Falando nisso, Senhora de Imperatriz, tantas vezes eu conversava com a minha mãe rebuscando nossas origens, nosso chão que ficou lá na Baixada e a gente extasiado, lembrando aquelas encostas do meio do mato de onde viemos, ficava falando sobre como Deus nos reservou um lugar especial, um teto digno e um prato cheio para morar nessa Imperatriz que nos acolheu e nos acolhe. Aí minha Imperosa, eu via  aquele olhar distante da minha mãe, como quem se transportava ao passado e uma lágrima que tantas vezes lhe corria ao rosto. Em lembranças e relembranças essas e sempre ao agradecimento caloroso e fiel pelo lugar que você nos reservou e nos reserva ao teu seio. Não chora, mãe! Eu dizia.
Além do quanto te falo linhas acima, queria e quero, porém, lamentar e chorar ao teu ombro, te falar das minha dores, dos meus ressentimentos - das minhas frustrações. E esse é o motivo desta. Olha você que, morando aqui há 40 anos, posso me considerar ileso (ileso), neste chão de tantas balas direcionadas e outras perdidas. E isso é mais um "podium", mais uma taça a ser levantada! Semana passada, porém, quando eu acompanhava a um paciente, após sairmos da CAIXA, este fora assaltado na minha presença, à porta de sua casa. Eu é que me senti assaltado, desmoralizado, ofendido, humilhado. E pude ver que aquilo foi uma "coisa mandada",  "entregue", "direcionada", "programada", uma "bola cantada". Doeu e ainda dói até hoje. Foi por conta desse constrangimento; dessa crua passagem que resolvi te escrever.
Minha querida Imperatriz, ainda que com todo amor a que devoto peço vênia, máxima data vênia para te falar dos meus ressentimentos, - da insegurança que esse teu cálido seio me desperta. O polêmico Timóteo cunhou uma frase que diz que "a molecagem é grande". Ele tem razão. Por aqui não só a molecagem é grande. A roubalheira é grande, a ladroagem é grande; a bandidagem é grande; a ladinagem é grande. A cidade está infestada de assaltantes - assaltantes de saidinha de banco; assaltantes de revólver em punho; assaltantes de roubo de carro; de roubo de moto; de ladrões de bicicleta; de celulares. Arrombadores de comércio, ladrões de tudo ao tudo.
Me dói Imperatriz, me dói te dizer isso. Mas, afinal de contas, com quem é mesmo que devo me queixar? Com padre da Igreja? Ou com os camelôs que tomam de conta da Getúlio Vargas? Ou com aqueles caras que arrasam noite adentro ali na Praça da Cultura? Falar nisso, minha querida Imperosa, ali na Manoel Bandeira nessa cachaçaria que atravessa a noite inteira, o mínimo que de pode imaginar é que aquilo ali é como numa terra sem lei. Ali o pau troa a noite inteira, amanhece o dia. Som nas alturas, ninguém diz nada, ninguém faz nada. Onde é que nós estamos?!!!
E na Beira-Rio? Ali, como nos tresnoites na Praça da Cultura, o buraco é mais embaixo e, tanto num como noutro, uma zorra total. Tanto num quanto noutro o pau arrocha a noite inteira até amanhecer o dia. Cachaça, droga, bêbados, "zueira" e tudo a centos-dedibéis. Coisa de louco! Cadê a puliça? Cadê? Cadê a lei do silêncio; o meio ambiente? A sempre-presente Promotoria de Justiça, cadê? Cadê um tal Código de Posturas? Cadê? Fico vendo tudo isso, minha querida Imperatriz, e vejo a nódoa que contra ti se derrama.
Faz algum tempo e um "baseado" de mato era um bicho de sete cabeças. Vi gente saindo daqui direto para a penitenciária de Pedrinhas por causa de um baseado. Era crime! Era! Agora não, baseado, não tá com nada e estão provando por A + B que isso é fichinha, qual um café-com-açúcar. A onda agora é pó, é pedra. Uma nefasta pedra! E ali pelo cartão-postal beira-rio, nos fins de tarde e noite a dentro vai lá, olha lá, aquilo ali é um "paraíso", neguinho viaja e vê estrelas assim... na boa... na maior...
E no trânsito? Aí é um Deus-nos-acuda. Violência, acidentes, provocações, ofensa, desrespeito. Motos ao chão, SAMU tem serviço! Vidas que se vão! Danos materiais, bagaceira. Em horários de pico, a insegurança de uma "corda bamba". E salve-se quem puder. "Um caos" é como definem o nosso trânsito. Já dizem até que daqui a uns três ou quatro anos, pelo andar da carruagem, o nosso trânsito será totalmente impensável. Inviável. Aqui tem uma "vantagem": Botam cones, paus, pedras, carrinho-de-mão para fazer do espaço público um pedaço particular. Tal como numa terra sem lei.
Imperatriz, eu amo você, adoro você, mas isto aqui está demais. Havia um tempo em que a pistolagem se fazia por aqui e esse era o grande drama da cidade e região, num tempo em que espingarda-20 e outras do cano-serrado tinham serviço. Tinham. Era! Mas a gente podia andar nas ruas, ir para as festas, voltar a pé. Tomar um chop no Balaio, um cervejinha na Panificadora Dular, curtir o Bossa Show com o seu sax no Clube Tocantins e... sem medo de ser feliz. E hoje? E hoje sair com cem reais no bolso? Com cartão de crédito? Ou, como um "michellin" no pescoço? Aí... é como se diz: "é dar bolas pro azar".
Vendo todo esse cenário em que agora "passeio", revejo que minha mãe costumava ficar sensibilizada, agradecida e emocionada ao falar e ao ver que saiu do mato, da roça e aos 55 anos, dez filhos, chegou aqui e conquistou um lugar ao teu seio. Essa era sempre a nossa conversa. E uma lágrima de emoção lhe rolava ao rosto, quando disso falava. Obrigado por você existir, minha querida Imperatriz. Muitíssimo obrigado. E, repaginando o histriônico Timóteo: "A molecagem é grande" - por aqui não só a molecagem: a ladroagem, os assaltos, o roubo, a violência e os desvãos do trânsito - é tudo grande. Como grande é você, Imperatriz!

* Viegas questiona o social