Caro Dr. Sergio Godinho - Saudações...
Longe vai o tempo em que você, então partícipe, adquiriu o Jornal O PROGRESSO. Àquele tempo eu era, e como sempre, um simples colaborador que veio dos tempos de SEU VIEIRA, o fundador. Naqueles dias da nova direção, a turma da "redação" e da impressão vivia apreensiva com as mudanças que adviriam. Eu era um deles. De cara apareceu o jornalista Moreira Serra para dar um novo impulso, novo rumo e uma nova feição editorial ao jornal. Enfim, mudanças!
Certa manhã, o Moreira Serra estava sentado calmo e soberano a uma carteira, lendo e folheando o jornal, quando eu me apresentei como um "colunista e colaborador". Moreira foi direto à minha coluna VISÃO GERAL. Leu-a de ponta a ponta e ao final me disse, em textuais: "jornalismo moderno é isso aí. Você não precisa mudar nada". Decorei a frase, respirei aliviado e fui dormir o sono dos justos. No dia seguinte, quando voltei ao Jornal, vi que eu era, tão somente, uma carta fora do baralho!
Doeu. Amargou. Fiquei frustrado e magoado e não voltei mais a O PROGRESSO. E as águas escorrendo por debaixo da ponte. Fiquei anos com uma vontade danada de escrever e doía-me ver os meus "talentos" ali soterrando e soterrados. Nesse transe, tantas vezes eu escrevia textos na pura mente que em seguida abandonava-os, pois não tinha mais o jornal para enviar.
Por conta da vocação e do sangue da veia do escriba, mais tarde encontrei-me com o COSTA, então editor do jornal. Manifestei querer voltar. Costa conversou... desconversou, deu as costas e eu continuei fora do baralho. Continuei sufocado e frustrado. Mais tarde cruzei com o Adalberto Castro, então editor de O PROGRESSO, queria voltar, também não deu em nada. E as águas correndo por debaixo da ponte...
Certo dia, encontrei-me com o COLÓ FILHO - editor da casa nas primeiras incursões - ele que esteve comigo no "Jornal de Imperatriz" e que já conhecia o meu norte de escriba. A ele me dirigi. No dia seguinte eu voltei a reescrever os meus primeiros textos. Semanais, como sempre. Um texto daqui e outro dali, finalmente engatei com a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI, onde estou até hoje, acho que faz em torno de quinze anos. Hoje, se eu me tornar uma carta fora do baralho, não vou sofrer mais. Estou navegando para os 73 e já escrevi tudo o que tinha para escrever. O resto é repeteco. E só tenho a agradecer pelo espaço que me foi e é generosamente cedido por todos esses anos. Certo, porém, de que desejo continuar com as minhas elucubrações mentais ao soturno das noites acordadas para fazer a trilha destes... CAMINHOS POR ONDE ANDEI.
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Como há de lembrar, Dr. Sergio, faz uns quatro anos (?), recebi sua honrosa e breve visita ao nosso escritório, oportunidade em que me pedia para apresentar foto recente + dados biográficos para um novo "look" da coluna, o que seria implantado em face de todos os colunistas da casa. Demorei um pouco e fui cobrado. Finalmente enviei o material solicitado. E as águas continuaram correndo por debaixo da ponte. Recentemente, recebo o telefonema de um barítono, dono de uma voz, em parte conhecida em parte desconhecida. Fiquei perdido! Era você! Que me cobrava nova fotografia e novos dados biográficos, novamente, para dar novo visual ao "blog" dos colunistas; esta uma particularidade que acho deveras interessante. Muito interessante! Sugeriu-me também que eu envie foto da minha cidade natal, da Baixada do Maranhão.
Dr. Sergio, seu convite e sugestão a mim muito me prestigiam. Contudo, preferiria enviar-lhe não meus parcos dados biográficos, nem vistas da minha cidade natal. Por quê? Na minha cidade natal vivi apenas dos sete aos onze anos e não enraizamos o sentimento e o cheiro do amor materno-filial e nativista. E quando voltava, de férias, ia para a roça, capinar com o meu pai, minha mãe e a irmãozada. E a minha "biografia"? Não vai além de um palmo ou menos que isso. Contudo aqui, extra-pedido, gostaria de publicar foto/s de dois modestos sítios florestais que os construí, a título de "MEMORIAL", para dar vida à memória dos meus pais e avós. E, nessa senda, dizer-lhe um pouco de mim mesmo. Veja se aceita:
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Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do "Exame de Admissão". Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a "Zona" e jamais dirá que "comeu o pão que o diabo amassou". Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma "rádio", com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, "um que pode ser você". É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de "saúde"! E diz aos semelhantes todos os dias que "...a vida continua".
Saudações...
" Viegas questiona o social.
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