Imo. Senhor
Tenente-Coronel/PM - EDEILSON CARVALHO
DD. Comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar, nesta
Imperatriz - MA.
Senhor Comandante:
Cumprimentando-o, sirvo-me da presente para o quanto passo a declinar:
Faz dias e era da minha intenção ir cumprimentá-lo pessoalmente em seu quartel. Não temos maiores aproximação ou tratativas, mas isso não impede o meu apreço e admiração pessoal pela sua trajetória profissional e pelo laborioso trabalho que tem exercido nesta cidade e região com evidente destaque pelo seu profissionalismo, pela ascensão profissional e, em particular, pelo gesto amistoso e sem arrogância e simpático com que se comporta diante da "sociedade civil". Esses fatores, evidentemente, agradam e estimulam os plebeus da cidadania comum.
Mas não é só por isso. O que me levara a pensar em cumprimentá-lo pessoalmente em seu quartel foi a "jogada de mestre" que deu na parceria que instituiu junto aos guardas-noturnos desta cidade (vigias-de-quarteirão), transformando-os, assim, de um instante para o outro, num singelo expediente de palavras e atitudes em um batalhão de olhos, voz e ouvidos a serviço da interação com a Polícia Militar. Estabeleceu-se assim uma "parceria" entre os dois segmentos, a serviço da segurança e da sociedade. Foi isso que me animou à ideia de visitá-lo em seu quartel e, com um aperto de mão, aproveitando da simpatia que lhe é peculiar, "colocar dez pontos em sua carteira", pela brilhante iniciativa.
Imagino, entretanto, que, se a ideia da "parceria" não venha a ser originariamente sua e ainda que uma cópia, de qualquer sorte a ideia e a prática são boas. Melhor ainda, a intenção; ademais, prestigia o guarda-noturno que passa a ter um status "para-policial", ainda que em sua cabeça apenas e de olhos na vida alheia, como sempre. Aliás, que guardas-de-quarteirão, outrora hostilizados porque usavam armas - num tempo em que armas nem eram tão proscritas como nos dias atuais, agora os nossos tresnoitados guardas-noturnos se vêm prestigiados à "parceria", invocados ou convocados que se fazem a serviço da segurança pública. E daí os cumprimentos que devem receber quando por eles passar a viatura da PM - sendo esse, certamente, o seu maior salário pela "parceria" a que se prestam. Além da prestação do serviço público - é claro!
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Agora eu quero me permitir em me dirigir ao cidadão EDEILSON, do sangue afro das minhas veias, ele mesmo vindo das bandas da antiga, sofrida e postergada IPIXUNA (do Maranhão); faz tempo ela mesmo São Luís Gonzaga, um reduto pós-quilombola e por isso de conterraneidade submetida aos preconceitos da vizinha BACABAL e mais adiante. São contos e lendas que tenho ouvido, mas que agora a velha IPIXUNA dá o troco. Taí o Edeilson e outros "estrelados" da mesma e outras corporações que ostentam e escrevem a nova história com os galões bordados em estrelas gemadas, ao peito. Insígnias do alto-oficialato. Agora tenente-coronel, daí a pouco (daí a pouco), "coronel fechado", isso é questão de mais dias, menos dias. Afinal, o cara fez uma carreira meteórica na Polícia Militar, quase como ninguém. É a velha e estigmatizada IPIXUNA, que cresce aos ombros e ao peito dos seus filhos. E isso é bom!!!
Meu caro cidadão e tenente-coronel Edeilson, cujo nome, herança de ADÃO, significa "líder por natureza que atrai as outras pessoas com seu entusiasmo": ao intuito de fazer-lhe esta carta, bem como dos cumprimentos pessoais (que não os fiz), veio-me a ideia uma coisa sempre latente, sempre gritante, sempre presente. É que todas as vezes que por aqui chega uma autoridade, seja da Polícia Militar, seja do Judiciário ou outro/s, vestidos na casaca do poder e do estrelato, há um segmento da imprensa que logo se avassala genuflexa e entregue, caída aos pés. E joga-lhe a toalha e põe-lhe tapete em incandescentes holofotes ao palco e luzes da ribalta o ano inteiro, o tempo todo - como a massagear-lhe o peito e tudo o mais - e quando isso não mais lhe convém, esquecem-no ao ostracismo como se nada houvera acontecido. É como a gente tem visto...
Assim tem sido para com antecessores seus que sentaram-se na cadeira do COMANDANTE e que aqui eu gostaria de citá-los nominal e propositalmente, mas que a ética me manda calar. Vi a passagem de todos eles; vi os holofotes, as toalhas, os tapetes; a fama sedutora e o vinho inebriante. Vejo agora o ostracismo a que se vêm submetidos e relembro a cena de festa e fogos e louvaminhas que lhes foram engendradas nas coxias desse teatro da conveniência e da ocasião.
Portanto, meu caro EDEILSON, eu que venho do nada, nos termos desta, parabenizando-o pela "jogada de mestre" na "parceria" que fizera com os guardas-noturnos, também ouso em adverti-lo: vacine-se contra as luzes da ribalta e contra os tapetes da fama, porque as luzes da ribalta são coisas vãs de um espetáculo do momento, da ocasião e "a fama é como um vinho que fascina, mas também embriaga".
E, a qualquer dia desses, como assim tem sido da nossa passagem, a gente se cruza e diz: Olá... olá... mas aqui dentro, lembre-se: vai um questionador do social.
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Viegas é advogado. É o olhar do pássaro sobre o galho. Email: viegas.adv@ig.com.br
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