... E A VIDA CONTINUA
Eu ainda era um colegial, 13, 14 anos, quando ouvi em aulas de GEOGRAFIA, pela primeira vez, a palavra SATÉLITE. A lição então ensinava que “SATÉLITES são corpos espaciais menores que acompanham maiores”. Como exemplo a Lua é um satélite da terra. Vênus, Marte, Júpiter são outros satélites. Permiti-me, mais tarde, abstrair dessa lição que nós, enquanto crianças, somos SATÉLITES dos nosso pais, como enfim as crias e os animais.
Havia, nesse tempo colegial, um inocente e concorrido brinquedo da juventude - adultos inclusive, que se chamava JOGO DE BOTÃO. Um tema para depois. Lembra do TIME DE BOTÃO? Onze de cada lado. Um caldeirão de ataques e contra-ataques! As emoções iam avançando! O goleiro era um retângulo em madeira que ficava debaixo de uma trave, deixando pelos três lados, em simetria, um pequeno espaço que dava para passar a musa do jogo: uma pequena bola. Podia também o “goleiro”, avançar, fechar o canto nas cobranças de bolas paradas. Menos no pênalti!
Começa o jogo! Haja coração! A bola era impulsionada através dos botões devidamente posicionados, através de uma palheta. O jogador ia tocando... podia dar mais de um chute com o mesmo botão, passar a outro, este que dava continuidade, até ”chutar” para o gol ou perder a bola para o adversário. Havia regras assemelhadas ao futebol convencional: falta, lateral, pênalti. Havia jogadores, quer dizer, botões, especializados em cobranças de falta, de pênaltis e custavam caro, até. Botões “famosos” eram fabricados em ‘BAQUELITE’, que eu, de mero imaginário, associava à palavra SATÉLITE, das aulas de Geografia do meu dourado tempo colegial!
Ando pelos caminhos e estradas da vida e vejo nomes de fazendas, de cidades, de lugares - dominado pelo hábito indomável de quem gostaria de saber da razão daqueles nomes: Fazenda “Moeda” Povoado de Mucuíba, cidade do Rio de Janeiro, cidade de Cabrobó, Bairro “Sacavém”. Já vi Viação Primor, viatura Chiquita, ônibus Jardineira. Mas por que JARDINEIRA? Duro mesmo foi aquela frase no caminhão: “SÓ SI VENO”. Foram 20 anos para desvendar aquela frase! Expresso SATÉLITE. E me perguntava: mas por que SATÉLITE? E associava ao BAQUELITE do time de botão e ao SATÉLITE, da aula de GEOGRAFIA, aos 14 anos. E aos laços de família. E olhe que estou aos sete ponto três!!!
Faz algum tempo, estamos numa descontraída audiência judicial. De repente ali, puxado pelo magistrado, ele um goiano servindo no Maranhão, de constantes idas e vindas, exalta qualidades da Empresa SATÉLITE da qual assumiu-se viajante e passageiro. Exaltou serviço, pontualidade, compromisso e qualidade. Daí em diante foi uma aquarela de vozes em sintonia, extra-audiência. Aquilo me estabeleceu em mim, uma referência no transporte de vidas!
Construo e mantenho na minha terra natal, na Baixada do Maranhão, onde o vento faz a curva, em dois sítios florestais / verdadeiros santuários da natureza, em puros matagais / o que denomino de MEMORIAL/is / para reavivar e manter a memória dos meus pais / meus avós e outros ancestrais. E assim, constante, pego a rodovia. Agora é alta madrugada, brisa fria e chuva fina na estrada. E quando, menos espero, na pista demarcada, lá vem do outro lado, sentido contrário um ônibus alto, dois andares, azul, ou como digo: azulado, temático, desenhado. Marca registrada da estrada. Vem com dois retrovisores frontais e laterais que lembram duas mãos que formam um ângulo de noventa graus. E digo comigo: “... Lá vem a SATÉLITE, trazendo vidas... gentes carregadas de compromissos, projetos, sentimentos... ideais. Sonhos do amanhã”.
Agora o dia amanhece. Olho no horizonte pelo retrovisor e lá vai a SATÉLITE, esticadona, garantidona, cortando o estradão, desaparecendo na curva - levando vidas, sentimentos... ideais, esperanças do amanhã. E eu, na faixa e na outra rota relembrando Geografia, time de botão, Satélite, baquelite, Cabrobó, SO SI VENO, Jardineira – lembrando da família que deixei em casa e encurtando distância. E, como que levitando em pensamento posso ver que... A VIDA CONTINUA na trajetória destes... CAMINHOS POR ONDE ANDEI.
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