... NOITE DE AUTÓGRAFO, DE RUI MIRANDA
Por vezes eu me ponho a cismar que por trás de rostos e semblantes, ainda que velhos conhecidos e outros que dantes nunca visto – quem sabe – esconde-se ali um talento; senhor ou senhoras de todas as virtudes. E outros ou outras – quem sabe – escondem as mais inimaginárias personalidades e personagens que a nossa vã imaginação jamais será capaz de imaginar. É como diz a canção: “...ninguém, conhece ninguém...” E de divagações essas lembro-me que certa feita ouvi uma frase de advertência, que dizia: “a senhora está longe de imaginar do que é capaz o seu marido quando ele sai de casa e dobra a esquina... ...” E desse rosário, conheço uma outra em que a polícia disse aos pais de um meliante: “ou você finge que não conhece ou está longe de imaginar quem é o seu filho”.
Pois é! Tarde dessas sou surpreendido com um convite deixado em minha casa. Era RUI MIRANDA em carne e osso, convite nas mãos, convidando-me para o lançamento da última marca literária deste chão tocantino. E eu fiquei insistente “matinando”... a me perguntar: RUI MIRANDA???? E, ao desalento... “não conheço Rui Miranda”! Pus então os neurônios e a memória para trabalhar e rodar o planeta-Imperatriz e eis que me veio à mente um único RUI. Conheço-o e trato pelo nome, mas até então não confirmava que aquele a quem conheço seja o RUI MIRANDA, autor da obra – VEREDAS – CAUSOS E POEMAS, lançado na decana Academia de Letras, no último sábado, 24 do corrente, pretexto daquele honroso convite.
De corpo e alma, estive presente. Cheguei depois das oito, pois que no último lançamento a que fui convidado, do livro do meu amigo LIVALDO FAREGONA, com solenidade programada para início às 19:30 horas, acho que foi começar hora e meia depois. Aliás que cheguei, britânico no horário designado, mas qual naquele deserto, na Igreja, quando o Bispo chegou e em princípio, não viu quase ninguém e na homilia, com igreja cheia reiterou dizendo que: “eu pensava que não ia ter missa”. Finalmente LIVALDO, superado o atraso, foi regado e regalado por um público que superlotou, sentado e em pé o auditório da Academia dos imortais.
Voltemos ao RUI MIRANDA e o seu VEREDAS - POEMAS E CAUSOS, em que já o li de ponta a ponta, guardando interrogações e interjeições para fazê-las ao RUI, pessoalmente. BRANDÃO, talento do cerimonial, era o apresentador do evento. De saída, o corpulento WASHINGTON BRASILEIRO (ou Brasil (???), de posse do seu violão fez a sua primeira apresentação. Em seguida deixou o seu instrumento “deitado” ao chão. Pobre viola, eu não quisera estar no teu lugar. Achei que você foi vilipendiada! Eu que cheguei já com o salão lotado, estava cético, calado, um tanto retrancado, não tinha um amigo pra levar um blá-blá-blá, fiquei na minha. E quase cometo o despautério de sentar-me à fila da frente, reservada para os especiais do evento. Dr. Agostinho Noleto ainda me abonou: “pode sentar”. Eu heim?! Deus me livre! Pensei.
Composta a mesa, num segundo momento, WASHINGTON que menosprezara o violão que lhe ajuda no de comer, retomou-o aos seus braços e BRANDÃO o menestrel da ocasião, convidou “o excelentíssimo senhor José Carlos Soares”, que então compunha a mesa, fará fazer dueto, ou como se diz: “dar uma canja”, junto a WASHINGTON. E quando a dupla começou a entoar os primeiros acordes, pude ver que a música faz parte da minha trilha de arquivos: “LAMENTO CEGO”. Eu ainda disse timidamente, o que eu deveria ter gritado: JACKSON DO PANDEIRO! E a moral da estória é que a apresentação de WASHINGTON, em companhia de Pé de Pato, foi, simplesmente, ESPETACULAR! A outrora viola caída e seu dedilhador salvaram-se reciprocamente E, Pé de Pato na segunda voz, fez a sua parte. E, se o lançamento de um livro tem um espetáculo artístico ao entremeio, LAMENTO CEGO de Jackson do Pandeiro, fez a festa e deu um baile! Merecia que o público tivesse aplaudido DE PÉ. Eu ainda pensei em abrir o gesto mas, aquela viola antes deixada ao chão, me deixou sem graça...
Zé Carlos Pé de Pato, Presidente da Câmara de Vereadores de paletó e peito aberto que já compunha a mesa, chamado para o seu discursório, deixou registrado seus sete mandatos como vereador, três dos quais como Presidente da Câmara Municipal. Eu ali, sem bater palmas pra ninguém, lembrei-me de um “meme” que me mandaram pelo WHATSAPP: Na cena dois bonecos, mãe e filho. Diz o filho: mãe, depois que a senhora saiu, aqui veio um ladrão! Interroga a mãe: “O que ele levou, meu filho?”. “Nada não, mãe, ele veio pedir voto” rss rss rss rss rss rss
Pé de pato, no seu estilo-Mercadinho, som nasal, demonstrou conhecer dos artistas – cantores e compositores e da cultura maranhense e outros tantos além fronteiras - o lado que eu não conhecia do Senhor Pé de Pato, como aliás, não conhecia lado nenhum. No evento, ainda, situações isoladas me despertaram a minha atenção. RUI MIRANDA A ESTRELA DA NOITE, registrou que naquela sala (da Academia), que fora sala de administração da Prefeitura, lá teve o seu primeiro emprego e lá mesmo conheceu a jovem RUTH, que tornara-se sua esposa. E, agora, lança o seu livro. Daí as marcas do local. Outra marca é que, em meio a tanta gente ali, RUI MIRANDA no seu discurso, acabou por mencionar o MEU NOME, como fonte de sua admiração. Rui, que foi meu aluno, faz 45 anos e que daí me conhece por todo esse tempo, talvez por isso.
Outro detalhe: Estávamos à sala dos “comes e bebes”; aquele vai e vem, e, novamente, surge Zé Carlos Pé de Pato. E a gente engata num papo sobre a música então interpretada e daí o cancioneiro popular: João do Vale, Jackson do Pandeiro, Gonzagão e outros – uma praia de Pé de Pato. Mas aí... quando dei por mim, eu fiquei falando sozinho – porque Pé de Pato voou em cima do rega-bofe. E eu, com cara de Amélia, fiquei me perguntado: “o que uma boca livre, não faz??!!!”.
Finalmente, na saída, encontro o Professor, intelectual, escritor e imortal RIBAMAR SILVA, ele que no seu discurso dera sua mão por dois reais, a uma cigana que nada consegui decifrar. SILVA, então, declarou-se poeta e afirmou que “poeta não tem presente nem futuro”, por isso a cigana nada teve a decifrar. Silva declarou-me que eu teria material para “cento e tantos livros” e convidou-me a publicá-los. No que lhe disse: “cento e tantos não, mas dá uns quatro”. Com aquela minha sandice, sorrimos e nos despedimos. Saí dali e, pelo celular, aproveitando a noite, tentei “dar um campo”. Mas qual um Raul Seixas em “No dia em que a terra parou”... aquela caça... “também não estava lá”. E faço agora com o livro de RUI, o que a cigana não fez com as mãos do poeta RIBAMAR SILVA. Acabo de ler RUI MIRANDA em... VEREDAS – POEMAS E CAUSOS. E mais: sentindo-me dentro da cena e dela fazendo-me parte. Contracenando!
Comentários