Descobri aos “sete ponto três” anos de idade que um dos meus ”hobbys” é escrever um texto semanal denominado “PÁGINA DE SAUDADE”, para o programa semanal CLUBE DA SAUDADE, Mirante/AM, São Luís, domingos, oito da manhã. Veja dois deles.
A LENDA DO PAU DA BARCA! – E A DEFESA QUE FIZ!
Anos de 1960 por aí assim. Eu era um colegial, 3ª. 4ª. série ginasial. Meio do ano. Voltei de férias pra casa, no interior, e tudo o que se falava por ali era uma BRINCADEIRA de bumba boi (UMA BOIADA), com festa no sábado e matança do boi no domingo. O BOI era REI DOS CÔFO, uma liderança do meu amigo Antônio de Lionço. Brincadeira de criança (de rapazes) com sabor de festa de gente grande.
Com a matança do boi, cortou-se o boi, despedaçou-se o artefato (o boi) e as pessoas diziam que aquelas porções de palha, de vara e enchimentos que ali diziam “carne de boi”, deveria ser guardada e seu chá tinha propriedades terapêuticas com poderes de cura para muitos males. Isso eu vi e ouvi dos mais velhos. Esse é o capítulo NÚMERO UM, que guardei esquecido num canto da mente (da memória).
Capítulo nº 2: – Ainda criança, ouvi do meu pai uma deliciosa lenda que contava que após o DILÚVIO (de que trata a Bíblia), a Barca de Noé ganhou fama de que o chá de sua madeira tinha propriedades terapêuticas e serviria para cura de muitas doenças. E, de tanto dar um pedaço para um e para outro, nada mais restou. Certo dia, porém, chega um homem e pede a NOÉ “um pedaço do pau da barca”, no que lhe foi declarado que nada mais restava. O homem lamentou, chorou, clamou e insistiu: queria porque queria apenas um resto, um “pedacinho”. No que NOÉ vai ao seu quintal e traz-lhe de volta um pedaço de madeira qualquer. Dias depois, o homem volta a NOÉ alegre e feliz, dizendo-lhe que sua mulher foi curada, no que NOÉ exclamou: “MAIS VALE A FÉ DO QUE O PAU DA BARCA!! Lenda que também guardei abandonada na prateleira da memória.
Agora, o terceiro capítulo: Faz anos, muitos anos, fui procurado à defesa de uma causa de um homem que guardava consigo certa quantidade de uma erva seca de poder entorpecente, de uso proibido, que os meios de polícia e justiça tratam como “CANNABIS SATIVA”, de uso e posse proibidos. O homem (o cliente) me disse que aquele erva guardada em sua casa destinava-se a chás e infusões com grande poder terapêutico para muitos males do organismo humano – o que, aliás, é uma prática das pessoas do meio rural e outros mais. E bem assim reconhecido e admitido na sabedoria popular e por último admitido até mesmo na esfera judicial e na ciência farmacêutica.
Quarto capítulo. Na defesa desse homem, ACREDITE SE QUISER, dissertei com ênfase a CRENDICE dos poderes terapêuticos dos recortes de palhas e enchimentos do artefato do bumba boi, com chás para muitas doenças; lembrei a lenda dos poderes terapêuticos do “pau da barca de NOÉ”, quando este exclamou: “mais vale a fé do que o pau da BARCA!”. E conclui por alegar que o homem que guardava aquele erva seca - “CANABIS SATIVA”, de poder entorpecente, não se destinava ao ilícito, mas ao uso terapêutico em tratamentos de diversos males, consoante práticas de sabenças populares.
Moral da estória: O homem finalmente foi absolvido das acusações. E claro, foi uma vitória! Hoje eu me lembro da lenda do “Pau da barca de NOÉ”, com seus chás curandeiros; lembro da brincadeira e matança do BOI REI DOS CÔFOS, lembro da versão dos chás de enchimentos do artefato de bumba-boi, lembro do homem que foi absolvido com amparo nas práticas das experiências populares e confesso que tudo isso, para mim, em minha vida... é uma PÁGINA DE SAUDADE...
OS FRUTOS DA VIZINHANÇA
A PALAVRA DE DEUS dita em seu DÉCIMO MANDAMENTO: “não cobiçai as coisas alheias”. Roberto Carlos num velho hit diz: “... O que é dos outros não se deve ter”. Da minha cativa cadeira à “sala de jantar” que fica ao terraço externo da minha casa, podia ver do outro lado do muro divisório à vizinha, a copa de um pé de ata (também conhecida por fruta do conde ou pinha), com vistosos frutos que se perdiam com o tempo ou consumidos pelos bem-te-vis e sabiás, que costumam festejar no meu “temático” quintal coberto de árvores e sombras.
Da minha cadeira cativa eu ficava a me questionar sobre aqueles frutos tão saborosos que se faziam ignorados e abandonados pela vizinha que por eles não se interessava. Enquanto eu, praticante no Nono Mandamento da Lei do Criador, ficava a desejá-los. Afinal sou louco por ata, ou “fruta do conde”, desde os meus tempos de moleque, longe do alcance de tais frutas.
E assim os vistosos frutos amadureciam. Uns que consumidos pelos pássaros, outros que apodreciam lá mesmo. Até que um dia... quando dei por conta, sentado à minha cadeira cativa na externa “sala de jantar”, pude ver que aquele solitário pé de ata tinha voado pelos ares. Não existia mais! Cortaram-no! Aquilo, porém, me trouxe uma nova lição: É que enquanto uns morrem de amores por certas coisas fora do seu alcance - outros, na fartura, dão de ombros, ignoram, não ligam.
De uns tempos para cá, tenho observado incríveis respostas que a Mãe-Natureza dá aos seres humanos. Foi o que aconteceu! O tempo passou, acho que dois anos ou mais que isso, e eis que da minha cadeira cativa na externa sala de jantar com o olhar atravessado para o outro lado do muro da vizinha, o que vejo? A resposta da natureza! O pé de pinha havia brotado e crescido o suficiente e agora já mostrava a sua nova copa. Fiquei feliz ao contemplar a resposta da natureza! E, daí, novos frutos.
O tempo continuou girando, passei a observar que ramas de maracujá passaram a tomar conta daquele pé de ata. Tenho a obrigação de saber que enleios (a envoltura) do maracujazeiro a outro vegetal resultam na fraqueza e morte da vítima. Não deu outra! Até que um dia... cortaram o pé de ata com maracujazeiro e tudo! Aquilo me doeu. Eu quisera que cada um tivesse e vivesse a sua vida. E mais uma vez eu pude ver que o que a Natureza constrói durante estações, anos, séculos até, o homem liquida, destrói em instantes. Foi o que aconteceu!
Agora, o que vejo?! Qual uma FÊNIX que renasce das cinzas!, é o vegetal do pé de ata que aos poucos vai subindo, vai crescendo, vai levantando; vai se reconstruindo, vai mostrando sua jovem folhagem, além do muro que nos separa. E vejo a indomável resposta da NATUREZA. Resposta que sussurra aos meus ouvidos. Que grita à minha consciência. Afinal a natureza é Deus. E Deus se fez natureza!
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