“PARAFUSO DE CABO DE SERROTE”
Devo, para mim mesmo, o dever de transcrever a poesia que intitula o presente texto, porque assim me prometi. É que estando presente ao lançamento do livro – MARILÂNDIA – vale de sonhos e lágrimas, do meu amigo LIVALDO FREGONA, na Academia de Letras local, no “coquetel literário” que ali se celebrou, pude sorver com prazer incontido a poesia LIVALDO COMENDADOR, do incontido prosador e poeta ITAERÇO BEZERRA, que publiquei nestes... CAMINHOS, na edição de domingo passado.
Outro vulcão que ali rebentou foi “PARAFUSO DE CABO DE SERROTE” - poesia da lavra do paraibano, de láureas mil, bafejado pelo público e pela crítica, acima da média comum, JESSIER QUIRINO, dono de um milheiro de iguais a essas. E, como ao artista, no palco cabe a cena, a glória - ao povo que sou eu, nas gerais cabe o APLAUSO. PARAFUSO DE CABO SERROTE, no lançamento do 18º livro de LIVALDO FAREGONA teve a feliz interpretação e declamação de MARCOS LUCENA, um cara que fala sorrindo e sorri falando. Falando e sorrindo com cada um que compunha um auditório lotado, metade em pé, metade sentada, naquele lançamento. Mais do que uma apresentação, um espetáculo! Uma realidade! Um espelho que a gente vê e se vê!
Tem uma placa de Fanta encardida / A bodega da rua enladeirada/ Meia dúzia de portas arqueadas / E uma grande ingazeira na esquina / A ladeira pra frente se declina / E a calçada vai reta nivelada / Forma palmos de altura de calçada / Que nos dias de feira o bodegueiro / Faz comércio rasteiro e barateiro / Num assoalho de lona amarelada.
Se espalha uma colcha de mangalho / É cabresto, é cangalha e é peixeira / Urupema, pilão, desnatadeira / Candeeiro, cabaço e armador / Enxadeco, fueiro, e amolador Alpercata, chicote e landuá / Arataca, bisaco e alguidar / Pé de cabra, chocalho e dobradiça Se olhar duma vez dá uma doidiça / Que é capaz do matuto se endoidar.
É bodega pequena cor de gis / Sortimento surtindo grande efeito / Meia dúzia de frascos de confeito / Carrossel de açúcar dos guris / Querosene se encontra nos barris / Onde a gata amamenta a gataiada / Sacaria de boca arregaçada / Gargarejo de milhos e farelos / Dois ou três tamboretes em flagelo / Pro conforto de toda freguesada.
No balcão de madeira descascada / Duas torres de vidro são vitrines / A de cá mais parece um magazine/ Com perfume e cartelas de Gillete / Brilhantina safada, canivete / Sabonete, batom... tudo entrempado / Filizolla balança bem ao lado / Seus dois pratos com pesos reluzentes / Dá justeza de peso a toda gente / Convencendo o freguês desconfiado.
A Segunda vitrine é de pão doce / É tareco, siquilho e cocorote / Broa, solda, bolacha de pacote / Bolo fofo e jaú esfarofado / Um porrete serrado e lapidado/ Faz o peso prum março de papel / Se embrulha de tudo a granel / E por dentro se encontra uma gaveta / Donde desembainha-se a caderneta/ Do freguês pagador e mais fiel.
Prateleiras são tábuas enjambradas / Com um caibro servindo de escora / Tem também não sei qual Nossa Senhora / Com um jarrinho de louça bem do lado / Um trapézio de flandres areados / Um jirau com manteiga de latão / Encostado ao lado do balcão/ Um caneiro embicando uma lapada/ Passa as costas da mão pelas beiçadas / Se apruma e sai dando trupicão.
Tem cabides de copos pendurados / E um curral de cachaça e de conhaque / Logo ao lado se vê carne de charque/ Tira gosto dos goles caneados / Pelotões de garrafas bem fardados / Nas paredes e dentro dos caixotes /Uma rodilha de fumo dando um bote / E um trinchete enfiado num sabão / E o bodegueiro despacha ao artesão /Um parafuso de cabo de serrote.
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Agora, o ITAERÇO:
Até hoje eu masturbo na mente a poesia de ITAERÇO que homenageia LIVALDO, na passagem do lançamento do seu 18º rebento, dois feitos que não são para qualquer um: nem os dezoito livros de LIVALDO, nem a poesia de ITAERÇO que mostra a trajetória do seu homenageado que começa como um GUARDA NOTURNO que recebe do prefeito seu amigo, o emprego, uma farda, um coturno, um cassetete e um apito enferrujado e que, enfim, torna-se o COMENDADOR LIVALDO.
E ITAERÇO com seu jeito desatrapalhado, invocado e predestinado de ser, qual um vira-lata com um osso na boca, saindo pelas beiras para saborear o seu achado, mostra aquele GUARDA trajando um velho terno, um par de meias vermelhas, tomando quatro cachaças, dando três voltas na praça e correndo pra Farra Velha. Logo na Farra Velha que rolava de tudo – novas, velhas e velhotas e pelo meio um contava uma aventura, outro contava uma anedota e eu esperando que tivesse alguém que contasse uma “lorota”.
Naquele furdunço tinha bêbado que se zangava, o GUARDA ia lá e ajeitava, aí o bêbado ficava manso, ficava prosa e ao GUARDA dava uma groja. Aí o guarda esperto e sonso dava um apito e saia com aquele passo de ganso. É aí que gente ouve e lê ITAERÇO e se sente na cena, altas horas na Farra Velha, na praia do rufianismo e da perdição. E a gente ali, a situação “bicorando”. Ou como disse o Domingão Cobra Mansa: “...só cubando”
E eu, boquiaberto, “curtindo”, vendo, assistindo o jogo de cintura do GUARDA passo de ganso, debaixo do sereno, corriola da Farra Velha quando o consenso comum (consenso comum?), reconhece as bravatas do velho GUARDA: “Quando visto a farda / sinto um enorme prazer / Quando ouço o povo dizer / Estamos seguros podes crer / Temos o GUARDA LIVALDO / Aqui pra nos proteger”. Logo ele, o GUARDA que “passava as noites inteiras /apitando pela cidade / escola, igreja, cinemas / Mercados e Universidades”. Aí não tinha pra mais ninguém – só pro GUARDA e para a cidade!!!!!!!
O teatro, comédia, poesia e literatura de ITAERÇO, finalmente, mostram um GUARDA que, perguntado pelo seu prefeito se prefere MEDALHA ou AUMENTO DE SALÁRIO, o velho guarda terno velho, apito velho, antes que o intendente fechasse a boca, falou com sua voz rouca, que não queria dinheiro - essa coisa pouca, queria MEDALHA. Ao que recebeu diploma, honrarias e outros penduricalhos, tudo ali, ao peito e ao agasalho. E tornou-se lhe um ilustre comendador – O COMENDADOR LIVALDO FREGONA!!!
Bilhete para ITAERÇO: Itaerço, você não é gente. Quer dizer, você não existe. Quer dizer: Obrigado por você existir. Afinal você é FOGO – Fogo com PH de Pharmácia, como esse teus versos e com essa tua falácia. “Arre égua”, diria Edmilson Sanches.
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