UM TESTE PARA LOCUTOR

Abre parêntese: Desde moleque, lá pelos treze, catorze anos, que tenho uma paixão pelo rádio. E sempre quis porque quis ser LOCUTOR. Anos 60 e mais adiante (ao que conheci), o RÁDIO AM vivia o seu período áureo, na capital. E eu “encasquetedo”, vivia pelos corredores de emissoras/AM. Conhecia locutores, diretores, sabia dos programas - uns que acompanhava e no geral, punha-me como observador. E assim delirei evasivo por tanto tempo. E só aos quarenta anos, alcancei esse objetivo na Rádio Imperatriz, onde fiquei por mais de doze anos. Além de outras incursões, inclusive na TV.

Atualmente, faz mais de dez anos, escrevo a crônica PÁGINA DE SAUDADE para a Rádio Mirante/AM, Programa CLUBE DA SAUDADE, este  há 30 anos no ar com o mesmo apresentador JOSÉ SANTOS – domingos. 7:50 hs., E tudo enfim no “CLUDE DA SAUDADE” gira em torno da saudade:  fatos, músicas, autores compositores, histórias. 

Dono de um voz padrão, barítono e tenor com mais de cinquenta anos de rádio que dá fiel, incrível e invejável interpretação aos meus textos que também de minha criação e produção, sempre acompanhada de uma ou duas músicas, cujas letras adaptam-se ou combinam-se com o texto, tudo ando ênfase ao quadro PÁGINA DE SAUDADE. Vejamos, agora, texto e música/s que os produzi, recentemente para o programa CLUBE DA SAUDADE. Fecha parêntese.

TESTE PARA LOCUTOR NA TIMBIRA

Noite dessas, acordado, eu girava na mente à procura de um tema para esta PÁGINA DE SAUDADE. E fui bater numa marcante passagem de meus velhos tempos quando eu queria porque queria ser locutor de rádio, uma velha paixão dos meus tempos de criança. Vivia treinando locução comercial e lia jornais como se estivesse lendo um noticiário.

Final de 1969 faz 49 anos. Foi quando a antiga Rádio Timbira anunciou um TESTE PARA LOCUTOR. Logo, eu estava lá! Vários candidatos! A Rádio ficava no 6º andar do Edifício BEM. O teste era num studio auxiliar, com microfone postado e gravador. Nervosismo,  muita tensão! A gente via pela vidraça mas não ouvia o teste do outro. LAURO LEITE COMANDAVA A SITUAÇÃO!! 

Chegou a minha vez! Lauro (meu exemplo e modelo dos noticiários do meio dia), no olhou na minha cara e decretou: “Microfone aberto. Você está na Rádio Timbira do Maranhão e vai narrar um acidente de trânsito”.  Logo lembrei-me, ali de um velho  “jingle”   diário da Timbira.  Era para mim, uma prova de fogo! E Lauro fez um “cleck” e ligou o gravador! E então eu comecei mais ou menos assim:

“Z Y Y 9  - Do nordeste do Brasil para o mundo; da Ilha de São Luís,  em ondas curtas médias e  tropicais, em amplitude modulada transmite a Rádio Timbira do Maranhão. Neste momento estamos na Avenida João Pessoa, no Bairro do João Paulo ponto de entroncamento com a Av. Kennedy, nas imediações do Quartel do Exército do 24º B C, onde acaba de ocorrer uma acidente de trânsito envolvendo o bonde que faz a linha do Filipinho e um ônibus com destino ao Bairro de Fátima. Várias pessoas feridas.  Três passageiros do bonde, em estado grave. O local apresenta um grande tumulto. Trânsito engarrafado, transeuntes, curiosos, muita gente. A Polícia Militar está procedendo ao isolamento do local. Corpo de Bombeiros,  ambulâncias do Hospital do Pronto Socorro prestando assistência.... etc. etc...

Em seguida,  leitura e interpretação de uma poesia (uma praia de Lauro Leite); leitura  de um texto comercial e  de uma notícia. Entre os dois candidatos as provados, EU ESTAVA LÁ! O rapaz que imagino obteve primeiro lugar, logo-logo estava no ar. Um  vozeirão! Esse moço ou já nasceu feito ou já trazia experiência de outro  prefixo. Quiçá pelo seu talento ele foi INJUSTIÇADO. Acho que ele ABANDONOU o rádio e dele não tive mais notícia.

De minha parte, fiquei como “Estagiário” na Timbira mas não tive  oportunidade. Só duas ou três vezes falei ao microfone. Fiquei  “boiando”, “perdido”, “às traças” durante três meses. Depois me deram umas merrecas e me mandaram embora. A vida, porém, me ensina que nem sempre plantamos uma espiga de milho e colhemos na fartura; nem sempre plantamos um cuité de arroz ou de feijão e por isso colhemos uma arroba, duas arrobas da nossa plantação. Ou, como diria o meu pai: “umas em cheia, outras em vão”.  E tudo o que eu lamento, é o LIMBO, o OSTRACISMO, o ABANDONO  em que durante muito tempo foi relegada a Rádio Timbira, a mais potente e melhor emissora de rádio / AM que meus olhos já viram. Ela que transmitia do Nordeste do Brasil, da Ilha de São Luís, para o mundo e para o deleite dos seus fiéis e cativos ouvintes, assim como eu.

E assim vagueando na mente e na noite acordada, eu vou lembrando dessas e outras peripécias da  vida, lembrando de colher o quanto plantei. E, do pensamento que agora transcrevo ao papel, faço este texto para o CLUBE DA SAUDADE.
Vejamos uma das músicas que rolou em “TESTE PARA LOCUTOR...”

(Noite Ilustrada, Volt por cima)

Chorei, não procurei esconder / Todos viram, fingiram / Pena de mim, não precisava / Ali onde eu chorei / Qualquer um chorava /  Dar a volta por cima que eu dei / Quero ver quem dava /  Um homem de moral não fica no chão /  Nem quer que mulher /Lhe venha dar a mão /  Reconhece a queda e não desanima / Levanta, sacode a poeira/ E dá a volta por cima

A outra música; Judia de Mim ZECA PAGODINHO:

Judia de mim, judia /  Se eu não sou merecedor desse amor/  Se eu choro /Será que você não notou /  É a você que eu adoro/ Carrego esse meu sentimento /Sem ressentimento... // E quem dança qualquer dança /  Na bonança não sabe o que é  Desconhece a esperança / No falso amor leva, fé / Quem de paz se alimenta/ Se contenta com migalhas /Não se aflige / E corrige / As próprias falhas...