CARTA AO DR. AURELIANO NETO

Dr. Aureliano, rogo que me receba e, com esta, as minhas cordiais saudações...

Longe vai o tempo em que, ao silêncio e na distância, te conheci. Nenhuma palavra sequer. Você andava pela calçada do Cemitério do Gavião, rumo ao Bairro do  Lira. Isso, pelos meus cálculos, agora, faz pouco mais de meio século. Incrível como certas coisas, do nada, nos marcam! A esse tempo eu era morador da UMES (Casa do Estudante, na Rua do Passeio) e, ali no Lira, eu tinha um “affair”. De sorte que aquelas pegadas sobre a calçada, por tantos  anos, fora caminho meu.

Dali em diante te vi outras vezes pelas ruas da vida, mas que não se fizeram em marca, quanto da primeira vez. Tantos anos se passaram, acho que uns seis, sete anos e, em 1.973, quando cheguei por aqui ou pouco mais depois, te encontro advogado, com assento no INCRA, quiçá morando em uma “república”, ali nas imediações da antiga Escola Técnica, hoje Faculdade Pitágoras. Cumprimentos rareados, só isso e mais nada. Mais tarde quando você deixou o INCRA e passou a exercer a advocacia, te convidei para um eventual trabalho em parceria. Você aceitou e restou uma singela aproximação. Só isso. Lembra?

Nessas paralelas, acho que andamos nos encontrando na redação (escritório) do Jornal O PROGRESSO, então de SEU VIEIRA. Falando nisso e pesquisando quanto ao meu nome na internet, encontrei  um antigo texto teu que lembra e refere-se sobre a minha coluna como: textos “gostosos” ou “saborosos”, do Viegas, o que me deixou honrado. Pena que agora, pesquisando, não encontrei.

Outra lembrança que tenho de você é que,  pouco antes de você tornar-se juiz de direito, um dia me disse que todo o material de construção de que precisasse compraria numa única loja, citando-se ali o nome. Logo, pela referência, tornei-me cliente dessa loja. E só agora posso ver que isso faz VINTE E OITO ANOS. Uma pergunta que queria te perguntar e não te perguntei.

Dr. Aureliano,

Lendo o teu texto O PODER JUDICIÁRIO E SEUS TORMENTOS II, que O PROGRESSO publicou (o mesmo texto) em duas edições seguidas, parabéns a você pelo prestígio - eu não tenho sorte semelhante - pude ver a tua saga e tormentos na viagem inaugural àquela “cidade” em que você tomou posse pela primeira vez como Juiz. Você falou as cidades-pontos por  aonde passou, na viagem: Santa Maria do Pará, Vizeu (também no Pará), tormentos da hospedagem, mas não citou o nome da minha amada e querida CARUTAPERA, lá nos confins  perdidos do Maranhão, na divisa palmo-a-palmo,  com o Estado do Pará. Pra ser sincero?! Fiquei frustrado. Doído. Sentido...

É que, faz anos, tantos anos e eu fui a CARUTAPERA num atendimento profissional. Era fim de semana, abriu-se o Banco do Estado, tiramos cópias do processo. Hospedei-me num hotel, ali em frente, tudo perto e, para quebrar o gelo, fui a um barzinho ali tudo perto, encarei as geladas,  com camarões à fartura, momento em que numa radiola ali perto,  repetia-se uma velha canção. LA PALMOA  com Kakau Góis. Ouça, eu sugiro !!!!

Também fui à beira-rio ARAPIRANGA (um braço de água salgada), tudo ali perto e vi que pessoas em chegada, desciam das pequenas embarcações. E eu perguntador logo quis saber de quando a maré levantasse, me responderam quando a maré levantar eles voltariam ao mar. Iriam pescar. E eu que sou de um lugar e origem muito pobres, quando se fala em “pescar”, logo meus olhos se enchem e a minha alma se faz em “festa”. Fiquei amando CARUTAPERA! Um lugar em que nunca mais voltei e que gostaria de voltar!

A esse tempo eu estava na Rádio Imperatriz, então escrevi uma crônica em homenagem à cidade de CARUTAPERA, e fiz tocar aquela canção que me marcou: LA PALOMA, com KAKAU GÓIS. De lá pra cá, decorridos, acho que quase vinte anos, volta e meia eu me lembro e escrevo sobre aquela minha odisseia (ou como diz você: aqueles “tormentos” para chegar a  CARUTAPERA, uma cidade pequena perdida naquele fim do mundo, mais de três horas para vencer cem quilômetros de “buraqueira” da qual, entanto, só tenho gratas e felizes recordações. E você meu caro Dr. AURELIANO, quiçá porque esqueceu / ou porque assim não te apeteceu / não fez qualquer  menção ao nome da cidade que te recebeu para inaugurar à tua magistratura.

E eu, fã de CARUTAPRERA, recorrendo à Wikipedia fui ver que “Em 1861, Firmino Pantoja e sua mulher, Gausta Pantoja, adquirindo terras de Manoel Rodrigues Leite Chaves, à margem direita do Rio Arapiranga, fundaram à povoação que se denominou Carutapera. O topônimo, de origem tupi, significa povoação abandonada. A povoação progrediu rapidamente. Em 1886, foi elevada à categoria de Vila mais tarde extinta e seu território anexado ao município de Turiaçu. Em 1935, restabeleceu-se a autonomia de Carutapera.  Gentílico: carutaperense;  Formação Administrativa: Distrito criado com a denominação de Carutapera, pela lei provincial nº 1026, 12-07-1873, subordinado ao município de Turiaçu. Elevado à categoria de vila com a denominação de Caratapera, pela lei provincial nº 1377, de 11-05-1886, desmembrado de Turiaçu. Sede na vila de Carutapera. Constituído do distrito sede.  Que em tupi Guarany significa: “POVOAÇÃO ABANDONADA”.