“O BANDIDO SEMPRE VOLTA...”
Chico Anísio, naquela quadro que tinha no Fantástico, com ar de sátira, já dizia: “...O bandido sempre volta ao lugar do crime”. E volta!!! Anos setenta por aí assim e mais adiante, esta Imperosa era uma “cabarezada” que dava gosto! Da Farra Velha ao Cacau; do Mangueirão, passando pela Macaúba até às Quatro Bocas e daí girando por todos os quadrantes da cidade, com “casas de tábuas” e outras de “luz negra” por aí, caminhões madeireiros estancados, com a pistoleirada dando as cartas e forasteiros de todos os lados  e o poeirão lá em cima, isto aqui tinha cara de “garimpo”. E a mulherada estava à toa na vida, qual o Chico Buarque esperando a banda passar.
Pululavam as casas de mulheres livres  no centro da cidade – estas que se metiam a bacanas e melhores do que as suas similares. E, numa dessas, tinha aquela distinta que, como tantas outras, veio das bandas do velho Goiás. Ela que vivia em cima do salto, mudava de calçada  e dava de ombros diante da plebe ignara. Já no final da empreitada comum, montou o seu prostíbulo. Tais pensando o quê? Móveis, geladeira, tv em cores, bebidas, quartos, mulheres e assim a prostituta orgulhosa,  tornou-se madame: comandava a sua turma.
Porque sim ou porque não, o negócio não engatou como do esperado. E a loba se vestiu de cordeiro e de vítima, botou tudo em cima de uma dessas cegonhas que, vazia, o caminho de volta fazia, deixando por aqui os credores (dos móveis e eletro) a ver navios. Tantos anos se passaram, prejuízos contabilizados, jogados na conta “lucros e perdas”. E lá vem de volta ao local do crime  a loba, agora geneticamente modificada, disfarçada de Chapeuzinho Vermelho, nos trinques como sempre e como quem diz: “Agora ninguém me conhece, nem se lembram mais de mim”. Ledo engano! E Chico Anísio com a razão:  “O bandido sempre volta ao  do crime”

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DIÁ era um taxista e seu irmão BARBUDIM, também. Numa certa manhã, o corpo de DIÁ apareceu em lugar ermo, por aí. Disseram os filhos de Candinha que a parada envolveu mulher dos outros. BARBUDIM, o irmão, não aguentou o osso atravessado na garganta, foi lá e deu o troco. Tornou-se foragido, virou caminhoneiro, pegou o estradão e vivia no mundo. De quando em vez, porém, arredio, disfarçado, voltava ao local do crime, olhava a cidade e pegava o estradão de volta. Decorridos mais de vinte anos do sangue derramado, BARBUDIM cansou-se do vai e vem e voltou em definitivo ao lugar do crime. Ele que era uma figura carimbada do dia a dia, agora cansado do disfarce, não conhece ou  finge que não mais ninguém. E faz de conta que ninguém o conhece mais.

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Agora, escuta só! Justo nesse mesmo passado de Chico Anísio, havia por aqui, a pano solto, com ênfase nos finais de semana,  um barzinho, um tal de EL PICUÁ, que nos finais de semana com música ao vivo tocava todas e a galera do ramo se esbaldava!  Lembra? Numa dessas  o CS na sua moto e o ELP faziam dupla “zuretando na noite”. Lá pelas tantas saíram os dois montados na motocicleta modelo X, cor Y. Ao passarem pela Rodoviária (hoje Rodoviária Velha”),  eis que um carro  “tira um fino” da moto. ELP,  o garupa, tomou o “fino” como ofensa e já ficou doidão! Puxou um 38 e mandou bala pra cima do carro. Não deu outra: a mulher que também vinha da noitada... morreu. E a dupla da moto se escafedeu, sumiu no madrugadão!

No quebra-cabeça para desvendar a autoria do assassinato, uma única pista, de uma única testemunha de viso: “dois rapazes em numa moto modelo X, cor Y”. Aí foram mover céus e terra, com a pista única. Bate pra cá, bate lá,  checa daqui, checa dali, chegaram a CS, o dono da moto. Rumaram pra casa dele. - Cadê? Sei não (disse mulher e mãe). - Sabe sim ou então vão as duas. Agora! - Só sei que foi pro Tocantins, disseram. Rumaram pra lá. - Cadê CS? Tá pros quintos do judas e indicaram o caminho. Chegaram lá no amanhecer. CS ainda se espreguiçava  – “Deita no chão e não te mexe, Abre o jogo, tamos com tudo na mão”. 

CS, naquele meio do mundo, cara no chão, algemado nos pés e nas mãos, abriu o jogo. E entregou seu parceiro, o ELP, o dono da arma e autor do disparo, ele mesmo que ficou doidão com o “fino” daquela noite de EL PICUÁ, na Rodoviária,  Tamanho machão, ELP tinha apenas vinte aninhos. Aí o “Juiz de menor” vociferou “Esse é meu, esse é meu, nesse ninguém bota a mão”. – Mas doutor, teve  a morte, a fuga, o clamor público, a parceria, o motivo fútil. – “Não interessa esse é meu, esse é meu, é de menor, ninguém bota a mão”. Ficou por isso mesmo. E ELP palitando os dentes. E vendo que o seu comparsa estava puxando uma cadeia amuada e qual aquela prostituta que deixou os seus credores no “prejú”, pegou a estrada do desconhecido e... escafedeu-se. E Chico Anísio no Fantástico e na sátira: “O bandido sempre volta ao local do crime”.

Tantos anos se passaram,  olha ele de volta ao local do crime!  O garotão do EL PICUÁ, justo ele,  que matou a mulher, ofendido com o  suposto “fino” que o carro se lhes tirou. Agora, qual a prostituta que se evadiu e voltou -  ele também  voltou. Geneticamente modificado! Alto, corpulento, “de maioridade”, cabelão, barbas por fazer e dono de um olhar que evitava as pessoas. E dando uma, sabes de quê?! “Melhor é deixar pra atrás”, como diz o Gilberto Gil na música NÃO CHORES MAIS.  Afinal, pra trás já ficou. E a ”profissão”  do cara, agora só vai aguçar a especulação.

Mas... ainda assim, é possível lembrar daquela noite no EL PICUÁ. Imaginar um suposto “fino” que o carro tirou  da moto modelo X, cor Y. Lembrar de quando o MM dizia: “Esse é meu,  esse é meu  e ninguém bota a mão; esse é de menor”. Lembrar, finalmente... quando Chico Anísio  afirmava no sarro e na sátira “O bandido sempre volta ao local do crime”.