“TUDO NA VIDA É UM TEMPO” (2ª. Edição)
Volta e meia eu prego a frase e o exemplo. Aliás, os exemplos estão aí, claros, a céu aberto. Assim são os astros e as estrelas dos palcos, do cinema, do disco e da TV, dos estádios, da mídia, das profissões, do poder, do giro financeiro, dos grandes auditórios e de tudo enfim. Tem vozes e talento que se derramam e se espalham pelos quatro cantos do mundo. Magnetizam e enfeitiçam plateias que vão ao delírio, à loucura. Vão... vão... e, qual uma nuvem passageira, desfazem-se, espraiam-se, desaparecem. Chega a ser incrível como aquele “tesouro” vai ao pó, ao nada. Está escrito que “do pó viemos e ao o pó voltaremos”. Sim, porque tudo na vida é um tempo.
Dia desses eu folheava na internet e me punha a ver nomes de alcance global nas artes, na intelectualidade, na cultura, no cinema, nos esportes em passagens incandescentes e multimilionárias com o mundo aos pés e o encanto boquiaberto dos súditos cá em baixo. De imaginar que aquela estrela seria eterna, que aquela luz seria para sempre, que aquele pedestal seria infinito. Hoje olha-se pra trás, como no retrovisor e na poeira do velho caminhão e vê-se que tudo é igual a nada e que nada é igual a nada. É a vida, é o tempo e porque tudo na vida é um tempo!!!
E os nossos mestres? Os colegas? Nossos amigos de um tempo? Gente com quem nos abraçamos e que nos abraçaram. Que nossas confidências nos despertaram. Com quem fizemos correntes que se quebraram. Pessoas com as quais dividimos sem medo o nosso segredo; a quem nos abrimos em confissão, que expomos o nosso mundo, a nossa vida, as nossas tentações. Depois, como que num riacho quase seco sem vida, como num caminho deserto, perdido e esquecido, tudo vai desaparecendo, se acaba e não dá em nada. Eis o tempo, eis a vida – porque tudo na vida é um tempo.
E os nossos amores? Eis então uma eterna passagem! Pessoas com as quais tantas vezes e muitas vezes deitamos e rolamos, nos dividimos e nos misturamos. E dividimos o prato, a cama e a mesa e a água do banho. Dividimos o barulho e o silêncio; dividimos o ar da respiração, sussurros e suor da transpiração. E no estradão da vida tocamos sem medo de ser feliz. E assim múltiplos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, na vida a dois, fizemos de tudo. Sorrimos, zangamos, brigamos, amamos, escondemos, confessamos. Outros tantos em que vieram alegrias, problemas, intrigas. Também vieram filhos e netos, vieram satisfações, contentamentos e decepções, dores, mágoas e frustrações.
Hoje a gente para no tempo, e olha para essa vida, para essa “bola dividida” e lembra daquele tempo e de doces frases do enlace a dois: “meu amor”, “eu te amo”, “eu te adoro”, “toda tua”. “Bom te ouvir e te ver”. “E como vou viver sem você?”. É bem aí quando a gente vê o olho da vida e o olho da rua. E vê aquela criatura que um dia esteve com a gente tão inteira e toda nua. Agora, qual uma gaivota voa pelos ares ou mesmo com uma tábua boiando e perdida nos mares. É a sombra que nos assombra. É o grito, o sufoco na garganta, são essas lembranças tantas. Eis o tempo, eis a vida!!! Nossos amigos que imaginávamos eternamente amigos, vizinhos, colegas de trabalho, de profissão, conhecidos com que cruzávamos num bom dia, boa tarde. Até parece e faz lembrar aquele cara com quem a gente sentou ao mesmo lado no ônibus e quando um desceu na parada e o outro se foi na estrada e a gente só disse “tchau”, e mais nada. E ainda assim, de cara virada, tal como na igreja no “abraço da paz”, Hei vida!!! Tudo na vida é uma passagem, é só um tempo...
E nas festas? Na festa é que é! Todo mundo bacana, vestido nos panos, sapato nos trinques, dinheiro no bolso, carrão estacionado, gatona do lado, poder financeiro ali disposto e proposto. Mesa redonda, tolha de linho, só coisa fina. E tudo granfino. Papo sadio, tudo ó-quê!. Tanto o hálito quando o hábito está ó-quê! Gestos largos, conversas com os amigos, volta e meia celular ao ouvido. Comida, bebida, cerveja, uísque, queijinhos e outros petiscos. Aí quando dá uma hora, duas horas ou você vai embora ou a festa se caba. Por vezes tem até uma virada. Mas aí, quando a festa se acaba, é cada qual para o seu lado. Até parece que naquela ressaca, uma depressão toma de conta. Porque aquelas luzes multicores se apagaram, as portas se fecharam, as conversas se encerraram e as pessoas desapareceram - cada qual para o seu lado. Essa é a vida e esse é o tempo. E a certeza de tudo na vida é um tempo. Só um tempo!
E o poder? Esse é um bicho! Um bicho que não quer se entregar mas acaba se entregando. Os poderosos costumam pensar que o poder qual o dinheiro é para a vida inteira, para todo o tempo. Que lá nada! É só por uma temporada, por um tempo, ainda que o pijama faça o contratempo. Outros que passam por cima e pisam sobre os vassalos Estão aí os fardados, os engravatados, o executivo, o legislativo e o judiciário. Muita pompa, muita redoma, sim senhor, não senhor. Tapinhas nas costas e sorriso doce e gestos leves que é para azeitar, para melhor se passar. Mas depois tudo isso passa, como passa a nuvem, a poeira, os sonhos as fantasias da nossa vida. Sim, porque tudo na vida é um tempo. Só um tempo!
(Este texto eu fiz assim... do nada. Fiz sem intenção, sem querer, sem pensar. Fui tocando... tocando, qual um barco sem rumo, sem leme e sem vela, singrando pelos desvãos do oceano, quer dizer da vida. E a acabei por concluir que “tudo na vida é um tempo, só um tempo. E eis o tempo, eis a vida!
Edição Nº 16000
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