HOJE TEM ESPETÁCULO!!!
Tava eu, dia desses, revirando e tocando os meus velhos discos de vinil, quando me deparei com uma canção  que me fez relembrar e reviver um velho tempo – o tempo que chegavam pequenos circos naquele meu chão da Baixada!
De tempos em tempos,  na minha cidade, então feita em ruas de areia, cavalos de carga, carroças de serviço, jaçanãs em quantidade e uma amplificadora lá em cima, aparecia um CIRCO. Um deles, o CIRCO TEATRO RISO DA MOCIDADE, ficava dias sobre uma grande praça, feita de capim rasteiro, cujo artista principal era O GALBA, um cara forte, sarado, que fazia “diabruras” ao trapézio lá em cima e, como que num voo rasante, afinal, saltava lá em baixo, no chão, e recebia os aplausos da plateia em delírio. Logo, eu quisera ser artista de circo.
Para ter ingresso, de graça, no circo, os moleques GRITAVAM O PALHAÇO. Era lá pelas três da tarde, a molecada reunia-se em frente ao circo e o palhaço dava as instruções. E lá vamos nós - gritando o palhaço pela ruas da cidade. “Hoje tem espetáculo?” – “Tem sim, senhor”. Hoje tem “marmelada?” – Tem sim, senhor.  Hoje tem palhaçada? Tem sim, senhor. E o palhaço o que é? – É ladrão de mulher...  Arrocha negrada... (gritos) atocha negrada... (gritos) E as famílias vinham para a porta da rua para ver a “zoada”. E eu lá, pelo meio!
Certa feita, nessa gritaria, estavam dois palhaços: Um que ia lá em cima numa perna de pau, e outro que seguia cá embaixo, comandando a molecada. E lá vamos nós: “Arrocha negrada”, “Atocha negrada”. E tome gritaria! Aconteceu que o palhaço da perna de pau atrapalhou-se num lameiro e caiu lá embaixo. E o palhaço do chão gritava: “Arrocha negrada”,  “atocha negrada”. E haja gritaria com o perna de pau, ao chão,  pê da vida!!!
Enfim, era a comunicação, o anúncio, a propaganda para o espetáculo do circo, à noite.  Quando o grupo chegava de volta, a molecada era marcada em números com uma tinta negra e oleosa, no braço. O braço marcado era o ingresso do circo à noite, inclusive para ver aquelas mulheres com as pernas “torneadas” e sensuais que compunham o espetáculo.
- Enquanto isso, lá fora, por trás do circo, os moleques que não gritaram o palhaço faziam de tudo para “varar o circo”. Era uma tentação! E haja perseguição! Corre pra cá, corre pra lá, era aquela zorra, com a molecada lá fora tentando “varar” a cerca de arame farpado. Um ou outro que conseguia entrar, por vezes era desmascarado em pleno espetáculo e levado de volta para a rua, pela cerca do arame. E outros que conseguiam a façanha, no dia seguinte, contavam vitórias de suas trapalhadas.
Hoje eu me lembro dessa treita quando toco na minha radiola uma música que fazia a cortina da sonoplastia das atividades do circo. Ela que abria e encerrava o espetáculo. Ela (a música) que era A CARA do palhaço e DO CIRCO - A lona, as arquibancadas, o trapézio, o suspense, as emoções. Enfim, o próprio circo. E haja saudade em meio a tantas SAUDADES!!
ERA UMA VEZ A RADIOLA
A RADIOLA era um aparelho eletroeletrônico que existia nas casas das famílias como objeto de lazer (para ouvir música), mas também a serviço da ostentação, da beleza, do adorno e... do poder econômico. Radiolas portáteis também existiam que marcavam presença nos passeios, nos piqueniques, nas brincadeiras entre os colegas. E então, possuir uma radiola naquele velho tempo era “chique”, era bacana e estava na moda. E quem era que não possuía uma radiola na sua casa? Aqueles móveis lustrosos de fábrica, bonitos e outras “pé de palito” que chamavam a atenção.
E quem não tinha uma radiola mais sofisticada tinha sempre uma “radiolazinha” para os momentos de descontração e alegria. Radiolas haviam em que se punham 4, 5, 6, 7, 8  Lpês que tocavam um a um até o último, sempre pelo lado superior da faixa. Um brinquedo e uma ostentação! - Radiolas Philips,  Telefunken, Philco, Gradiente, Toshiba e outras marcas, que marcaram aquele nosso velho tempo em que púnhamos o disco de vinil para tocar sucessos em “As 14 mais”, rolando uma gelada em dia de domingo ou simplesmente ao deleite e ao devaneio ao som de velhas canções que embalaram aquele nosso velho tempo de um coração sem juízo.
E quantas vezes embalados pelos embalos de sábados à noite, a juventude dos anos sessenta, setenta curtia uma “festinha”, ao som de radiolas e discos de vinil, naquele velho tempo da jovem guarda, do iê-iê-iê, do twist e outras ondas que animavam a galera! Velhos tempos!!!! Belos dias... !!!
Hoje ao que se vê por aí, a radiola está voltando com o nome de “toca-disco”, embora com outra definição e outras caraterísticas, com um acesso restrito e pouco preferido. Coisa mais para saudosistas ou colecionadores. - A radiola, hoje, pelo comum, é um objeto extinto, perdeu o carisma e a estima que as pessoas tinham por ela. Mas... ainda existem saudosistas como eu que ainda valorizam e conservam  e utilizam a radiola.
Faz algum tempo adquirir um mimo... uma beleza... que foi abandonada e deixada à própria sorte e que chega ao meu terreiro tão original a quem não se importa com a virgindade e com o respeito de uma linda princesa sangue-azul. E que passa a tocar os meus antigos discos de vinil para dar asas e voo à minha imaginação e a um velho sonho que agora, ainda que tarde, posso sonhar. E entre o sonhar e o realizar eu vivo... revivo e reviro... as emoções desta PÁGINA DE SAUDADE.