HEI  MUNDO QUE DÁ VOLTAS!!!
Era por volta do ano 2.000. Aqui em Imperatriz, eclodiu no INSS um tsunami de fraudes, falcatruas e estelionato contra o órgão, do que resultou num mega-escândalo  que levou a Previdência Social aos jornais e telejornais com muita gente presa, chefe do órgão inclusive, funcionários da repartição,  atravessadores, “aposentadores” e “aposentadeiras”, apreensão de quantidades “estarrecedoras” de documentos, revogação de benefícios previdenciários. Foi um “estrago” sem precedentes. O grande feitor e protagonista do desastre era um Procurador da República que, na época, aqui atuava junto à Justiça Federal.
Estive envolvido no tsunami na condição de advogado de dois dos acusados: um “aposentador” e outra funcionária do órgão. Cada um dos acusados tinha três quatro cinco e até mais processos contra si. Vários advogados atuavam nos autos tal o número dos acusados e envolvidos. E assim multiplicavam-se as vítimas (beneficiários da Previdência); os casos de fraudes e estelionato; as testemunhas; os advogados, os familiares e acompanhantes. Os estagiários. Era uma loucura!
Em tal situação que já começou ainda na fase do inquérito policial, os advogados tinham dificuldade de acesso aos autos e, portanto, às provas iniciais. Havia um verdadeiro entrechoque de interesses (interesses difusos) em face de acessos aos autos. Quando os autos seguiram para o Judiciário, imaginava-se melhor acesso. Qual nada! Continuou complicado, haja vista os diversos advogados, todos ao mesmo tempo querendo obter cópias dos autos, naquela altura com centenas de páginas. Combinou-se criar um “pool”, com um advogado ao centro para tirar cópias e expedir para os demais interessados. Melhorou o acesso mas, de tudo não resolveu, porque havia sempre a necessidade de perquirir os autos em seus detalhes. O tempo, senhor da razão, aos poucos e depois foi aplacando a situação.
As audiências judiciais eram uma tormenta. Embora tivesse um Juiz com um fôlego extraordinário sobre os meandros do direito e da mecânica processual. Dominava a situação com absoluta tranquilidade e dava um baile! Na sala a um só tempo, costumava ter assento, algo como 12 pessoas entre advogados, partes e testemunhas, Juiz, procurador e auxiliar. E outros tantos que ficavam de pé. Além de outros tantos que guardam lá fora - como era o caso das testemunhas. HEI MUNDO QUE DÁ VOLTAS!!
O Procurador (Ministério Público Federal) era um malho e lâmina atravessada em ferro e fogo! Ele, capcioso e com suas perguntas e reperguntas, subvertia as testemunhas de defesa, criava situações de embaraço, impunha a sua pretensão, desarticulava-as e  servia-se delas para a acusação. Era terrível! Um desastre para a defesa! E quando ele entrava na sala, até parece que a “terra tremia”, tal a austeridade que impunha no curso das audiências. A arrogância. As pessoas de um modo geral evitavam-no, por conta de sua postura. Certa feita ele adentrou na sala e deu “bom dia”. Ninguém respondeu. Aí o homem virou uma fera por conta da indiferença e do silêncio dos circunstantes.  E por quanto esbravejou até parece que todos sentiram-se aliviados.
Certo dia ele-Procurador, em plena audiência, entrou em divergência com o Juiz, num pequeno aspecto processual. O juiz, tranquilo e sereno, ditou uma decisão: “doravante procederia suas intimações (do MPF), na forma da lei”. O homem engoliu atravessado e ficou remoendo as suas desgraças, mudo e envenenado. E virou uma estátua de sal e não disse palavra. Era um guerrilha feroz  entre “cachorros grandes”, como se diz por aí. HEI MUNDO QUE DÁ VOLTAS!!!
Certo dia, estávamos todos numa grande audiência algo como 15,18 pessoas na sala. E eu focado em um requerimento de liberdade a uma paciente que, presente, estava presa.  A audiência foi conduzida de tal maneira que quando menos esperei estava encerrada. Suscitei uma “questão de ordem” e argui que “data vênia, tal como a audiência foi encerrada, não tive a oportunidade de assentar um pretendido requerimento”. Pedi, então, ao Juiz que em abrindo mão do instituto da “preclusão” reabrisse a ata e a audiência e fosse recebido o meu requerimento. O juiz concedeu. E lá se vão quinze minutos de decisão do Juiz no puro verbo e ao vivo, transcrito na  ata que hoje chama-se SÚMULA DA AUDIÊNCIA. E ao final disse: “deixo de dar vista ao Ministério Público Federal (por razões que declinou) e mandou colocar em liberdade a minha cliente. Certo dia eu cheguei a Justiça Federal e tomei conhecimento de que aquele Promotor Federal havia sido transferido. Tive vontade de por, ali mesmo, os joelhos no chão. HEI MUNDO QUE DÁ VOLTAS!!!
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Nestes tempos de Lava-jato, que aliás já vem de longe, eu ficava espiando para ver se o dito cujo Procurador aparecia no manejo do folhetim de tantos nomes e tantos escândalos. E nada! E nada! Sai Rodrigo Janot que atirava pra todos os lados e sem perda de tempo e sem medo de ser feliz, perseverante e debaixo de todos os holofotes. E entra uma até então ilustre desconhecida – Procuradora Raquel Dodge. Em princípio ouviu-se dizer que Raquel teria convidado todos os procuradores da Lava-jato já assentados; todos da equipe de JANOT, mas depois “desconvidou-os”, pois que formou o seu grupo inaugural.
E quem estava lá? E quem estava lá? (repito). Ele! - aquele durão, lâmina de ferro e fogo que aqui protagonizou um tsunami no INSS com tanta gente presa, inclusive chefes e funcionários do INSS local, além de outros tantos “aposentadores” e “aposentadeiras”. Aliás que fazer isso é um dever, é o exercício da função, o osso do ofício. É a nobre função da República. Mas o que o levou à antipatia foi a forma como se conduzia; austero, prepotente,  arrogante, a ponto de bocejar um “bom dia” e ter o silêncio geral e unânime como resposta. E quando ele foi transferido teve um cara que pensou em botar os joelhos ao chão. HEI MUNDO QUE DÁ VOLTAS!!!
Hoje, os jornais e telejornais de todo o Brasil anunciam que aquele procurador lâmina de ferro e fogo que por aqui passou foi exonerado da recente equipe de Raquel Dodge porque flagrado pela imprensa em conversa durante um almoço com uma advogada da parte contrária - ato considerado incompatível para com a sua postura e função. Vai daí que entro na internet a sua vida está fuçada e esmiuçada em mais de uma dezena de blogs na internet, anotando-se inclusive sua  trajetória no serviço público e sua passagem por Imperatriz. Eu olho tudo isso  e exclamo: “HEI MUNDO QUE DÁ VOLTAS”!!!